Após o vazamento da notícia de que sairia do governo, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, confirmou que deixará o cargo até agosto. Cearense, Almeida se diz um economista de centro-esquerda por considerar que é responsabilidade do Estado realizar distribuição de renda e atuar na educação básica.
Mesmo com essa auto-avaliação, Almeida passou a despertar a ira dos movimentos de esquerda ao se tornar um dos principais críticos da gestão fiscal do governo Dilma Rousseff. No final, seu julgamento se mostrou certeiro. A política de gastos da administração petista empurrou o País para uma das suas maiores recessões, no período 2014-2016, e terminou sendo o combustível para o impeachment de Dilma.
Mansueto é servidor de carreira do Ipea e vai assumir um cargo no banco BTG por uma remuneração nada desprezível, após cumprir uma quarentena de 60 dias. Ele é formado em Economia pela Universidade Federal do Ceará, mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). Foi assessor econômico do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e prestou consultoria ao candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) em 2014.
Seu prestígio como fiador do ajuste fiscal vem desde 2016, no governo de Michel Temer, quando ele foi escolhido pelo então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como secretário de Acompanhamento Econômico. Desde então, se tornou um defensor incansável do teto de gastos. Ainda no governo Temer, com a saída de Ana Paula Vescovi da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), ele assumiu o posto, onde permaneceu com a transição para a equipe de Paulo Guedes.
Como secretário do Tesouro, o economista se notabilizou pela proposta de ajuste nas contas dos estados que terminou levando seu nome. O Plano Mansueto avançou no Congresso até o começo da pandemia. Com a queda na arrecadação dos estados com a quarentena, o plano virou uma proposta de socorro para a crise.
No fim do ano passado, Mansueto já havia manifestado a intenção de deixar a equipe econômica, mas acabou sendo convencido a ficar por Guedes.
Com o vazamento da notícia, neste final de semana, de que ele iria realmente sair do governo, Mansueto se apressou em dizer que sua ida para a iniciativa privada não deveria preocupar os investidores, já que a política fiscal de controle de gastos vai continuar.
Há uma inquietação no mercado da aliança do Planalto com o Centrão, que poderia implicar em pressões por mais gastos, principalmente em 2020, um ano eleitoral. "O ajuste fiscal depende da postura e da boa vontade do governo de continuar esse ajuste. Enquanto Guedes for ministro da economia, sei que esse compromisso vai continuar", disse Mansueto em entrevista à CNN, tratando de baixar a temperatura.
A estratégia deu certo, o mercado financeiro nesta segunda-feira (15), que começou o dia no negativo, chegou a operar no positivo, mesmo com as notícias ainda ruins da segunda onda do coronavírus.
Ajudou no bom humor do mercado, também, a agilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, em anunciar um substituto bem avaliado aos olhos dos investidores. "Bruno Funchal (atual diretor de Programas da Economia) foi secretário do Espírito Santo, um estado bem organizado em matéria de finanças. Isso pesou na substituição", avalia o gestor da Multinvest Capital, Osvaldo Moraes.
Funchal é bacharel pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com pós-doutorado pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). É professor titular da Fucape Business School e foi pesquisador visitante na Universidade da Pensilvânia.
O mercado já esperava a saída de Mansueto Almeida e entende até como natural a sua, depois de quatro anos trabalhando para o governo. "As instituições financeiras oferecem muitas vantagens para atrair servidores públicos", avalia Moraes. Para ele, a saída tem um caráter de ordem pessoal, "ninguém vai rasgar dinheiro".
Apesar do alívio com o novo nome, o economista da PPK Consultoria, João Rogério Alves Filho, destaca que o quadro de dificuldade em relação às contas do governo permanece complexo dentro do contexto da pandemia. "Paulo Guedes segue numa indefinição em relação à política anticíclia de médio e longo prazo", avalia o economista, em relação à postura do ministro da Economia em relação aos gastos. No início da crise Paulo Guedes chegou a dizer que a saída para a crise do coronavírus se resumia à agenda de reformas adminstrativa e tributária que estão paradas no Congresso.
O estado de calamidade em decorrência do coronavírus agravou o resultado das contas públicas. O Ministério da Economia projetou, em maio, no segundo relatório bimestral, um déficit primário de R$ 540,5 bilhões em 2020 para o governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social). Antes da pandemia a projeção de rombo era de R$ 124 bilhões
Mesmo com o receio de economistas, Mansueto diz que vai continuar colaborando com a agenda de reformas e em entrevistas vem afirmando que sua saída não muda em nada o compromisso do governo com o ajuste fiscal. "O fiador do ajuste é Paulo Guedes".
Mansueto repetiu seus alertas sobre o crescimento do endividamento público decorrente da crise da pandemia de covid-19 e voltou a defender a votação de reformas econômicas no segundo semestre, com destaque para as reformas administrativa e tributária, um discurso que vem sendo repetido pelo ministro Paulo Guedes.