Como será o futuro do mercado de trabalho no pós-pandemia? Responder a essa pergunta não parece ser uma tarefa difícil. Por isso o repórter Marcelo Aprígio conversou com Felippe Pessoa, headhunter e sócio da Audens, especialista em recrutamento de pessoas. Para ele, a pandemia do novo coronavírus acelerou algumas mudanças no mundo corporativo. Por isso, flexibilidade, inovação e planejamento deverão estar no radar de todos.
Confira a entrevista com Felippe, que estreou uma coluna sobre carreiras e mercado de trabalho neste JC Online:
JORNAL DO COMMERCIO – A pandemia do novo coronavírus mudou muita coisa, e o mercado de trabalho não foi exceção. Como ele deve ser no pós-pandemia?
FELIPPE PESSOA – Podemos esperar algumas mudanças, especialmente comportamentais, como o uso mais intenso de tecnologia nas nossas atividades profissionais. O varejo intensificou o atendimento por e-commerce e aplicativos, por exemplo. Em outros setores, a tecnologia também chegou com força. Outro fator muito relevante é o home office. Muitas empresas não tinham o hábito de trabalhar nesse modelo, e, a partir de agora, o home office vai passar a começar a fazer parte da nossa rotina.
JC – Então, as empresas não estavam preparadas para esse movimento?
FELIPPE PESSOA – Devo dizer que a grande maioria das empresas, não. Só há um segmento que podemos falar que já estava preparado, porque já praticava isso com frequência: o da tecnologia. É muito comum encontrar modelos de home office e produtividade à distância nessa área. Aqui no Recife, por exemplo, diversas empresas do Porto Digital sempre trabalharam no modelo de teletrabalho, com horários mais flexíveis. Os demais segmentos, infelizmente, não estavam preparados e precisaram correr contra o tempo para se atualizar e poder se adequar a este novo modelo.
JC – E os colaboradores?
FELIPPE PESSOA – Também não estavam. Antes, a rotina era acordar, sair para o seu trabalho, cumprir suas atividades e só depois voltar para casa. Agora, tudo mudou, e eles também precisaram se adaptar a esse novo normal, criando uma rotina em casa, tentando evitar que as interferências próprias da residência atrapalhassem seu rendimento, além da falta de interação pessoal com os colegas de trabalho. É certo que a grande maioria está tendo uma troca pela tela do computador, mas ainda assim existe uma certa perda do convívio diário com os colegas.
» Leia a coluna Carreiras e Mercado de Trabalho, assinada por Felippe Pessoa
» Atividades ligadas à tecnologia e inovação serão indispensáveis no mundo pós-pandemia
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JC – Unindo o home office à necessidade de interação, a tecnologia será ainda mais indispensável?
FELIPPE PESSOA – Sem sombra de dúvidas. Ferramentas de videoconferência, por exemplo, estarão cada vez mais presentes no cotidiano profissional. Muitas viagens de negócios serão evitadas, e, consequentemente, teremos o hábito de resolver esses problemas de maneira eficiente, por telefone ou vídeo.
JC – Como as pessoas podem se preparar para todas essas mudanças que devem trazer novas exigências para os profissionais?
FELIPPE PESSOA – Acredito que a flexibilidade e a adaptatividade são as competências que mais serão requeridas. As pessoas terão que estar cada vez mais dispostas a se adaptar de maneira muito rápida. O mercado já vinha mudando com muita velocidade, a pandemia acelerou esse processo, e as mudanças vão continuar acontecendo. Também é muito importante que os profissionais possam resolver problemas com maior velocidade e eficiência. Então, todos teremos que ser resolutivos e flexíveis.
JC – Flexibilidade parece ser um conceito muito importante neste novo mundo que virá pela frente.
FELIPPE PESSOA – Sempre ouvimos a expressão: “em toda crise, há uma oportunidade”. Ser flexível é importante durante as crises para que essas oportunidades apareçam. Infelizmente, muita gente acabou sendo desligada dos seus trabalhos, mas, apesar de tudo, essa é uma grande oportunidade para as pessoas tirarem algum projeto do papel ou até mudarem de carreira. Isso é ser flexível.
JC – Isso também serve para quem está satisfeito com sua área de atuação?
FELIPPE PESSOA – Sim. Esse é um tempo de reavaliar as escolhas, com calma, para ir em busca de preparação para aquilo que você realmente deseja. Se você pensou bem e concluiu que seu lugar é ali, chegou a hora de se planejar para consolidar os conhecimentos e se fortalecer profissionalmente, tendo um plano de carreira definido. Planejamento também é fundamental.
JC – Como podemos nos planejar se as carreiras também estão se transformando?
FELIPPE PESSOA – Uma dica é, se você está em uma atividade que não requer criatividade ou reinvenção, esteja certo que essa profissão será substituída pela tecnologia. Isso não está ligado apenas a fábricas, mas pode afetar escritórios de advocacia e contabilidade. Por outro lado, posições que pedem um toque mais humano ou mais artesanal permanecerão, certamente. Então, quanto mais pudermos inovar com criatividade na profissão, maior a tendência de ela crescer e se desenvolver.
JC – Planejamento e inovação são as palavras-chave?
FELIPPE PESSOA – Sem dúvidas. Mas eu iria além, e incluiria a flexibilidade cognitiva. Ou seja, é você ter a capacidade de se adaptar ao novo.
JC – Podemos falar que as principais profissões do pós-pandemia estão ligadas a estes termos?
FELIPPE PESSOA – As profissões que estão apresentando uma tendência de crescimento agora e que devem se firmar no pós-pandemia como as principais têm forte relação com essas palavras. Em geral, essas profissões são as que envolvem tecnologia e inovação, área financeira e saúde e bem-estar. Então, eu acredito que os profissionais não devem perder tempo e se preparar para construir ou fortalecer sua carreira nesses setores. São essas áreas que lembram que, apesar de tudo, há sempre uma boa oportunidade nos esperando.