Empreendedora investe R$ 600 do auxílio emergencial e abre sex shop

Abrir o próprio negócio nas redes sociais tem sido o caminho para novos empreendedores mas o profissionalismo é que vai fazer a diferença
Edilson Vieira
Publicado em 03/10/2020 às 13:00
Andreza Aquino abriu sua loja virtual com R$ 600 do auxílio emergencial Foto: Arquivo pessoal


A estudante universitária Andreza Aquino, 26 anos, encontrou na crise a motivação para virar empresária. A empresa de cobranças onde estagiava fechou as portas com a crise provocada pela pandemia. Ela então pesquisou possíveis ramos do comércio onde poderia investir e decidiu pelo sexy-shop por ser, segundo Andreza, um segmento ainda pouco explorado no Recife.

O dinheiro para o investimento inicial veio do auxílio emergencial. “Comprei os seiscentos reais todos de produtos, coloquei alguns como mostruário no salão de beleza da minha irmã e parti para a divulgar a Misty sexy Shop nas redes sociais”. As entregas são feitas por motoboys e, depois de três meses de operação, Andreza chega a faturar R$ 3 mil por mês. Ela ainda está analisando se vale a pena abrir uma loja para atendimento presencial. “O lucro com a venda online é bom porque os custos são baixos e os clientes, pelo menos neste segmento, nem todos fazem questão de ir em uma loja presencialmente”, diz Andreza.

Nesta segunda-feira (5), quando se comemora o Dia Nacional do Empreendedor, é um bom momento para se refletir como a pandemia do coronavírus transformou o que conhecemos por empreendedorismo. Ter um negócio próprio ganhou novas motivações e formatações durante a crise mundial que mexeu com o comércio e os negócios. Empreender hoje significa quase que obrigatoriamente digitalizar suas vendas, e as redes sociais ganham a importância neste processo, sobretudo para os que têm pouco capital para investir.

É o caso também de Taís Codeceira, 28 anos. Ela é a típica profissional que foi “empurrada” para o empreendedorismo pela pandemia. E se deu bem. Até o ano passado ela trabalhava em um escritório de advocacia mas, insatisfeita com o emprego, pediu demissão. Formada em Administração de Empresas com pós graduação em negócios e finanças, Taís planejava empreender em alguma área. Mas, sem nenhuma experiência demorou a decidir em qual setor investir. “Foi quando veio a pandemia e a procura por álcool em gel disparou”, relembra Taís, retrocedendo a março deste ano.

PROMISSOR

Mais para complementar a renda da família do que para iniciar um negócio próprio, Taís comprou uma caixa de álcool em gel para revender. “Eram apenas 24 garrafas, mas vendi tudo em duas horas só divulgando nos meus grupos e nas redes sociais”. O sucesso animou a nova empresária a seguir carreira nas vendas diretas mas, não demorou, e a procura pelo álcool começou a cair. “Foi quando pensamos em revender produtos de limpeza, que não é sazonal. Independente da pandemia, as pessoas vão sempre comprar”.

O investimento no primeiro estoque de mercadorias foi de apenas R$ 600. Ela precisou se regularizar como MEI (Micro Empreendedora Individual) para poder comprar os produtos diretamente da fábrica, localizada no bairro de Afogados, no Recife. Carla Coelho, diretora administrativa da Valença Química orientou Taís na formalização. “Tivemos que dar atenção maior a essas pessoas que nos procuram para revender produtos limpeza. Orientamos sobre a formalização e até a técnica de vendas. É o que garantiu a renda de muita gente nesta Pandemia, a Taís foi uma delas”, diz Carla.

Taís enxergou o potencial do negócio e, como sempre gostou de navegar nas redes sociais, criou uma marca, a Tudo Limppo, e começou a oferecer seus produtos. “No primeiro mês vendemos pouco. No segundo mês já conseguimos um pouquinho mais. Mas, no terceiro mês as vendas triplicaram”, afirmou Taís. Hoje, com seis meses de loja virtual, o faturamento é cinco vezes maior do que no início, diz ela sem revelar valores.

Sem loja física e usando a própria casa para estocar produtos, ela entrega os pedidos dos clientes via delivery. O marido de Taís pediu demissão do comércio que gerenciava para ajudá-la na empresa que, por enquanto, vai continuar digital. “Eu pretendo abrir um ponto físico no futuro mas agora não é o momento. Na prática, é a rede social que move o negócio. Se você não tiver uma rede social você não existe no mercado”, afirmou.

CUSTO BAIXO

Para o coordenador do curso de Administração e do Núcleo de Carreiras do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) professor Joebson Oliveira, os negócios que cresceram impactados pela pandemia são, essencialmente, virtuais. “Isto [a digitalização] é um movimento irreversível até porque durante a pandemia as pessoas foram, podemos dizer, forçadas a usar o delivery em algum momento, isso fez com que as vendas online aumentassem em todos os segmentos. Então para quem está pensando em abrir o próprio negócio, recomendo desde o início pensar em virtualizar esse negócio, mas tudo deve ser feito profissionalmente”, adverte Joebson Oliveira.

Para o professor, o comerciante on line terá custos menores para implantar a sua empresa se comparado a quem abre uma loja física. Por outro lado, o comerciante digital deve estar preparado para vender não apenas localmente, mas para o país inteiro, ou até o mundo, por isso, diz Jobson, o ideal é que a comercialização seja feita através de um site, formatado para ser uma plataforma de vendas, e as redes sociais serviriam como um apoio para divulgar a marca e os produtos. “As redes sociais não têm uma plataforma de e-commerce que permitam efetuar pagamentos, o que pode dificultar as vendas”, disse Jobson Oliveira. Um outro caminho, ensina, é se associar como parceiro de vendas de grandes market places, como Mercado Livre, Lojas Americanas ou Magalu.

Para Jobson Oliveira a venda online não descarta o comércio tradicional, aquele feito através de uma loja física. “O ponto comercial nunca vai deixar de existir até porque existe um público cativo para as lojas. São pessoas da terceira idade que têm pouca intimidade com o mundo digital ou clientes que façam questão de ver a mercadoria de perto, conversar com o vendedor, etc”.

Por fim, Joebson Oliveira lista os erros mais comuns de quem quer, ou precisa, empreender digitalmente.
Indisponibilidade: acontece quando a mercadoria é anunciada nas redes mas o cliente tenta comprar e não consegue.

Dificuldade

O número de “cliques” necessários para efetuar uma compra. Se o cliente precisa passar por várias etapas até concluir o pedido, quanto mais etapas, mais chances de ele desistir da compra.

Atraso ou falta de previsão de entrega

A entrega é o resultado final da compra. A logística para que o produto chegue até a casa do cliente deve ser eficiente. Rapidez e transparência é tudo o que o consumidor espera nesta hora.

Falta de suporte

É preciso ter um canal de comunicação com o cliente, ou por e-mail ou por Whatsapp para que ele possa tirar dúvidas ou, eventualmente, reclamar. É por esse canal que o cliente vai poder resolver possíveis problemas durante a compra ou com a entrega.

Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) a quarentena fez com que o faturamento do varejo digital crescesse 56,8% de janeiro a agosto deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Embora o tíquete médio tenha reduzido de R$ 420 para R$ 398 o número de transações efetuadas cresceu 65,7%, indo de 63,4 bilhões para 105,6 bilhões nos seis primeiros meses de 2020. Com esse crescimento, a projeção para o ano de 2020 saltou de 18% para 30% no acumulado anual, segundo a ABComm.

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