Disputa pelo 5G pode afetar custo da tecnologia no Brasil

Os Estados Unidos travam guerra comercial com a China pelo mercado brasileiro
JC
Publicado em 27/10/2020 às 11:08
Interconexão de antenas 5G é uma das apostas da UmTelecom Foto: NE10


A definição dos protagonistas para implantação da tecnologia 5G no Brasil segue sofrendo influência direta do jogo político e econômico internacional. Dependente do fornecimento de equipamentos de multinacionais, o País passou a ser um mercado de interesse dos Estados Unidos na sua cruzada contra a China. Mesmo com leilão das faixas de espectro previsto para 2021, as operadoras seguem sem saber quais serão as delimitações de suas relações com fornecedores, já que está em aberto a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro banir do mercado 5G nacional a chinesa Huawey.

A Huawei é hoje a principal fornecedora de equipamentos centrais para o 5G, mas tem sido alvo frequente do governo norte-americano, não só no Brasil, por ser uma empresa chinesa. “A China não apoia (acesso à informação). Veja o que eles fizeram com Hong Kong (implantação de nova lei com controle da mídia e diminuição de liberdades prometidas à ex-colônia britânica). Os EUA estão preocupados em como os chineses vão usar os dados e a tecnologia para assuntos de Estado, não para os usuários dessa tecnologia”, afirmou o diretor sênior interino para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional (NSC, na sigla em inglês), Joshua Hodges, num encontro semana passada com jornalistas em Brasília.

Na ocasião, os Estados Unidos propuseram até financiar “qualquer investimento” no setor de telecomunicações do País, pressionando ainda mais o governo brasileiro pelo banimento da empresa chinesa e busca de outros fornecedores, a exemplo dos europeus - atualmente utilizados pelo próprio país estadunidense, que não tem uma empresa nacional à frente desse mercado.

“No 5G a matemática é diferente. Isso porque a topologia de rede muda, a transmissão das ondas é mais rápida, porém mais curta, tornando necessário um maior número de pontos para fazê-la. Hoje esse papel é apenas das ERBs (Estação Rádio Base), popularmente conhecidas como antenas. Com a nova tecnologia, além das ERBs, haverá a necessidade de mais antenas - que poderão ser menores - para suprir a necessidade de conexão. Outro ponto será a necessidade de interligar toda essa infraestrutura com fibra óptica”, pontua o CEO da Megatelecom, Carlos Eduardo Sedeh.

Custos

Tendo em vista a necessidade de implementar uma nova rede, substancialmente diferente da atual (4G), o papel das fornecedoras se torna ainda mais importante. Na visão de Sedeh, a Huawei tem vantagens, pois apresenta uma maior escala na produção, capacidade de implantação e competitividade frente às demais, mas vive o imbróglio da desconfiança do tratamento de dados e serviços sensíveis que passarão a estar sob o domínio da nova tecnologia. “O pano de fundo dessa discussão é o fato de que a rede 5G permitirá aplicações bastante críticas, muito mais sensíveis do que as atuais, e esse impasse e a desconfiança de espionagem são alguns dos pilares do desentendimento entre EUA e China”, reforça.

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o presidente da Huawei do Brasil, Sun Baocheng, afirmou que o 5G custará mais caro e seus benefícios plenos só seriam atingidos em até quatro anos, caso a empresa seja banida do País. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Huawey já se faz presente em 35% da infraestrutura das redes de telefonia móvel do País, atrás apenas da Ericsson. A elevação dos custos viria na esteira dos equipamentos da Huawey não ‘’conversarem’’ com os da concorrência no que diz respeito ao 5G, e isso é um fator relevante para as teles, pois com um banimento pode haver necessidade de se trocar muito mais equipamentos para funcionamento da rede.

Em resposta a mais uma ofensiva norte-americana, a embaixada da China no Brasil foi incisiva e negou as especulações quanto a atuações duvidosas por parte da Huawey. “O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o Conselheiro do presidente americano para Assuntos de Segurança Nacional, Robert O'Brien, espalharam com má fé mentiras políticas contra a China, fabricaram a chamada "ameaça chinesa" e atacaram a tecnologia de 5G da China. Esses políticos americanos, no seu número pequeno, consideram abertamente "mentir, trapacear, roubar" como a "glória" dos Estados Unidos, e se tornaram criadores de problemas que ferem a ordem internacional e ameaçam as regras internacionais”, ponderou em nota.

A embaixada também alegou que um número pequeno de políticos dos EUA tem usado “o poder de estado para impedir as operações legítimas das empresas chinesas de alta tecnologia, abusando no pretexto de segurança nacional”. Além de obrigar outros países “a adotar políticas discriminatórias e excludentes que miram empresas chinesas, como a Huawei”.

Com o 5G, é estimado uma avanço da velocidade para baixar informações de até 100 Gbit /s. No 4G, o tráfego é de 1 Gbit /s, enquanto a latência (diferença entre comando e resposta) era de 60-98 milissegundos no 4G, no 5G ela será reduzida para menos de 1 milissegundo. A capacidade de conectar dispositivos poderá abranger até 1 milhão de aparelhos por quilômetro quadrado. Com melhor desempenho, espera-se uma avanço substancial na conexão não apenas de smartphones, mas de máquinas e troca de informações muito mais potentes.

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