As éolicas do Nordeste tem um novo desafio pela frente: fazer a gestão da comercialização da energia que produzem para não correrem o risco de perder receita, segundo pelo menos dois especialistas consultados pelo Jornal do Commercio. O setor vinha caminhando com um crescimento vigoroso da produção e da receita pelo menos desde 2014. Desde 1º de janeiro deste ano, o preço da energia vendida pelos geradores passou a ter preços diferentes, dependendo da hora em que a mesma é produzida. Aproximadamente 27% das eólicas do Nordeste concentam a geração durante a madrugada, porque estão em locais que os ventos são melhores nesse horário.
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"As eólicas do Nordeste podem ser as grandes prejudicadas com essa mudança do preço. Fizemos um estudo com uma éolica no interior do Piauí, comparando o preço da venda por hora com a geração das usinas. Percebemos que a eólica ganharia menos R$ 13,00 por megawatt-hora em todos os horários", resume o CEO da Trinity Energia, João Sanches. Na simulação feita para a eólica piauiense, ocorreria uma perda de receita de 6% da empresa somente por causa dessa variação do preço. A Trinity é uma comercializadora de energia. O estudo foi feito antes das alterações entrarem em vigor, o que ocorreu no último dia 1º.
Um técnico reconhecido do setor concorda com Sanches de que as eólicas terão que ter uma melhor gestão da venda da energia para evitar futuros prejuízos. "Ainda está muito cedo. Estamos observando os movimentos. A tendência é a energia produzida durante a madrugada ter o preço mais barato", afirma o diretor da Kroma Energia, Rodrigo Mello.
Há uma expectativa também de que a energia gerada por usinas solares alcancem um preço mais alto por volta das 15 horas, que é um dos horários de consumo alto no País. Os três especialistas consultados não mediram ainda o impacto que isso pode ter no consumidor final. As eólicas - se concentram no Nordeste - e são responsáveis por cerca de 11% de toda a energia produzida no Brasil.