MOEDA

Dólar vai a R$ 5,77 e fecha no maior nível desde maio com Lula e pandemia

Nos negócios da tarde, a moeda americana chegou superar os R$ 5,80, no caso do dólar futuro, com o anúncio da anulação da condenação na Lava Jato do ex-presidente Lula

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Estadão Conteúdo

Publicado em 08/03/2021 às 19:37
De acordo com a mídia americana, um dos fatores que causou a falência do SVB foi o aumento da taxa de juros dos EUA, que passou de 0,25%, em 2020, para 4,75% em fevereiro desse ano. - MARCOS SANTOS/USP IMAGENS

O câmbio teve novo dia de pressão e o dólar passou toda a segunda-feira (8) em alta, acima de R$ 5,70, em um misto de influências externas e internas. Internamente, a situação difícil da pandemia, com número de casos e óbitos em alta, vacinação ainda lenta e mais medidas de restrição, faz investidores ficarem mais cautelosos com o cenário econômico. Nos negócios da tarde, a moeda americana chegou superar os R$ 5,80, no caso do dólar futuro, com o anúncio da anulação da condenação na Lava Jato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que torna o presidente elegível em 2022.

No exterior, as taxas dos juros longos dos Estados Unidos voltaram a subir e assustar os investidores, após a aprovação do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão de Joe Biden no Senado, o que ajuda a fortalecer a moeda americana internacionalmente, chegando, por exemplo, ao maior nível em 9 meses ante o iene do Japão.

Apesar de o dólar ter superado os R$ 5,80, na maior máxima diária desde 30 de outubro do ano passado, o Banco Central não fez intervenção no mercado hoje, dia marcado por pressão também em outros emergentes. Ante a lira turca, o dólar chegou a disparar 2,6% nesta segunda-feira. No fechamento doméstico, o dólar à vista encerrou em alta de 1,77%, em R$ 5,7783, no maior nível desde o encerramento de 15 de maio de 2020 (R$ 5,83). No mercado futuro, o dólar para abril subiu 3,26%, cotado em R$ 5,8820, acelerando ainda mais a alta após Jair Bolsonaro alertar no início da noite que a PEC Emergencial pode não ser aprovada na Câmara "se não retirar artigos".

"Não tenho lembrança de momento econômico tão desconfortável", afirma o chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, em evento nesta segunda-feira, em conjunto com o Estadão. "É muito difícil ser otimista com o real neste momento", disse Senna, citando entre os fatores que vêm contribuindo para a desvalorização, os ruídos em Brasília, interferências do governo, políticas de cunho populista de Jair Bolsonaro, falta de apetite do Executivo e Congresso para enfrentar diretamente os desequilíbrios fiscais agora.

Com Lula elegível em 2022 após a decisão de Fachin, cresce ainda mais a chance de Jair Bolsonaro "ir totalmente para o populismo", avalia o sócio da Armor Capital, Alfredo Menezes, ex-tesoureiro, no Twitter. Com a notícia, o dólar futuro para abril bateu em R$ 5,8040.

Para o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, há no mercado o temor de que a Câmara possa retirar o limite do auxílio de R$ 44 bilhões na votação da PEC Emergencial. Mas ele acha que os deputados são sensíveis ao país e vão entender a gravidade dos efeitos de uma desidratação maior do texto para a economia se isso ocorrer. "Espero que o final seja de responsabilidade na gestão fiscal", disse em live da Genial Investimentos na tarde de hoje. Padovani contou que com os diversos economistas que tem conversado, ninguém acredita fazer sentido o dólar a R$ 5,70 no Brasil. Em sua visão, o "ambiente local confuso" tem peso para a pressão no câmbio e o real tende a ganhar força com o BC voltando a subir juros e mais clareza fiscal com a aprovação da PEC na Câmara sem desidratação adicional.

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