A Selic - taxa básica de juros da economia - vai voltar a ter trajetória de alta em 2021. Foi o que sinalizou o Banco Central, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa pela primeira vez nesta quarta-feira (17), após seis anos seguidos em sequência de queda. O BC elevou a Selic em 0,75 ponto percentual, com expectativa de segurar a inflação no País. Como essa subida reflete no dia a dia das pessoas, no custo do crédito e nos investimentos?
Em 2020 o Brasil registrou sua maior inflação desde 2016, com taxa de 4,52% segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com o aumento da Selic, o BC espera que a inflação termine 2021 dentro da meta, de 3,75%. O sócio-diretor da consultoria Multinvest Capital, Osvaldo Moraes, explica os impactos da elevação da Selic.
"A economia tem um lado psicológico muito forte e a intervenção do Banco Central na Selic é um recado de que o BC não está confortável com a inflação, com o comportamento dos preços no País. Então, como medida para conter os preços, aumenta-se a taxa de juros", observa. Ele destaca que, no ano passado, por conta da covid-19, pelo menos dois fatores contribuíram para a subida da inflação.
Um deles foi o auxílio emergencial, que injetou quase R$ 300 bilhões na economia nacional e aqueceu a demanda. O outro foi a dificuldade da indústria de acompanhar esse aumento da demanda, seja pela falta de matérias-primas e insumos para produzir ou seja pela própria doença, que afastou os trabalhadores das fábricas.
"A expectativa é de que a Selic vai continuar aumentando nas próximas reuniões (do Copom). Até porque uma inflação de 4% com uma Selic de 2% significava juros negativos e isso não estimulava o poupador a guardar dinheiro. Agora, será interessante relegar a demanda para um segundo plano e poupar para ganhar juros e comprar o produto mais adiante, porque ele não vai subir com a inflação acima da taxa de juros", afirma Moraes.
No caso dos investimentos, o aumento da Selic é positivo, porque garante uma melhor remuneração, mas a taxa de 2,75% ainda é considerada baixa para fazer diferença nessas aplicações. Quem tem títulos como poupança, Tesouro Selic, CDBs, LCIs e LCAs terá um ganho um pouco maior. No caso da poupança, por exemplo, o rendimento mensal continua sendo menor do que o da inflação. Com a mudança, o rendimento da caderneta vai passar de 0,12% para 0,16%.
Em relação ao crédito, o aumento da Selic não terá muita interferência porque o mercado já vinha aumentando as taxas antes, baseado na expectativa de que o Banco Central faria alguma interferência nos juros básicos. Segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) todas as linhas de crédito para pessoas físicas pesquisadas aumentaram as taxas de juros, como cartão de crédito, cheque especial, juros do comércio, financiamento de veículos, empréstimo pessoal em bancos e financeiras.
"O aumento da Selic pouco interfere nos juros do empréstimo, porque os bancos não olham para a taxa básica, mas para a curva dos juros. Quem precifica é o mercado, em função da expectativa de inflação e do prêmio de risco", alerta Osvaldo Moraes.