EGITO

Entenda como o encalhe de meganavio no Canal de Suez pode trazer prejuízo aos portos pernambucanos

O Ever Given interrompeu a navegação no último dia 23 de março e só voltou a flutuar nesta segunda-feira (29)

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Angela Fernanda Belfort

Publicado em 30/03/2021 às 7:00 | Atualizado em 30/03/2021 às 7:26
Meganavio Ever Given - SATELLITE IMAGE ©2021 MAXAR TECHNOLOGIES/AFP

O impacto que o encalhe do meganavio Ever Given poderá trazer aos portos pernambucanos é o atraso de algumas mercadorias - como autopeças, matérias-primas para a indústria química, entre outros - por um período curto, segundo pelo menos três executivos que atuam no setor de transporte marítimo. Isso também vai depender da velocidade da normalização dos mais de 400 navios que optaram por esperar o desencalhe da embarcação que interrompeu todo o tráfego do Canal de Suez, no Egito, na última terça-feira (23).

A embarcação só voltou a flutuar nesta segunda-feira (29). Por lá, passam 12% do comércio mundial, concentrando principalmente as cargas que vão da Asia para a Europa. A carga mais impactada pela paralisação foi a transportada dentro de contêineres.

"A interrupção do tráfego no Canal de Suez vai provocar algum atraso, mas não haverá desabastecimento. Será um atraso por alguns dias, mas não será suficiente para provocar rupturas", comenta o diretor de Gestão de Suape, Paulo Coimbra. Somente Suape opera com contêineres em Pernambuco. O Porto do Recife movimenta muita carga a granel.

Ainda de acordo com informações de Suape, mercadorias que chegam de contêineres incluem autopeças pra a Jeep e seus fornecedores e materiais usados pela indústria química. A assessoria de imprensa da FCA informou que a produção da sua fábrica de automóveis em Goiana não será impactada pela parada no tráfego em Suez.

Paulo Coimbra afirma que Suape não tem linhas diretas que passem pelo Canal de Suez. Geralmente, as mercadorias que saem da Ásia com destino a Pernambuco passam pelo canal, fazendo o transbordo (a troca do navio) nos portos europeus ou em portos como Paranaguá (no Paraná) ou em Santos (em São Paulo).

A movimentação de contêineres já estava se complicando antes de ocorrer o problema no Canal de Suez com a redução da quantidade de unidades disponíveis vem há pelo menos cerca de seis meses. "O reflexo será pequeno na movimentação de carga, porque essa paralisação vai gerar um atraso de cinco a seis dias na chegada de algumas mercadorias. A escassez de contêiner já está ocorrendo por causa da pandemia. Com a crise sanitária, a retração de produtos na China foi grande. Quando liberaram as mercadorias, liberaram de uma vez e aí não tinha navio nem contêiner", resume o diretor da Agemar Transporte e Empreendimentos Ltda, Manoel Ferreira.

Como reflexo da crise sanitária que também parou a China, Manoel cita que trazer um contêiner da China para Pernambuco custava US$ 2,5 mil - há uns seis meses - e agora está por US$ 9 mil. Mesmo com a dificuldade de contêineres, Suape registrou uma movimentação 9% maior nesse tipo de carga, comparando os dois primeiros meses deste ano com o mesmo período do ano passado.

Outro impacto que a redução de contêiner está trazendo é percebida no Porto do Recife. "Não tivemos cancelamento nem aviso de atraso dos navios por causa deste evento no Canal de Suez. O Porto do Recife é essencialmente graneleiro, mas nos últimos 60 dias, passamos a receber alguns produtos siderúrgicos no nos porões dos navios que vem para o Recife. Isso ocorreu por causa da escassez dos contêineres", resume o coordenador de Operações do Porto do Recife, Edson Bartolomeu Ferreira. "Esse evento pode agravar, por alguns dias, por causa dessa paralisação em Suez", conta.

Somente para o leitor entender, o que faz o equilíbrio na quantidade de contêineres é os navios chegarem no prazo, pegarem os contêineres vazios e deixarem os contêineres cheios. Desde o ano passado, isso foi alterado devido à pandemia. "A escassez de contêiner vai ocorrer porque porque muitos deles ficaram presos nos navios que estão esperando ou então esperando nos portos", comenta o gerente de Relações Industriais da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Maurício Laranjeiras. Ele também acredita que o encalhe pode impactar o fornecimento de combustível já que o Brasil importa petróleo do Oriente Médio.

As principais mercadorias que passam pelo Canal de Suez são petróleo, carros, ovelhas e laptops. Os navios que passam por lá são responsáveis por 12% do comercio mundial. O canal é o caminho mais rápido da Ásia e Oriente Médio para a Europa e a Costa Leste dos Estados Unidos. As perdas ligadas ao encalhe passam de R$ 300 bilhões, segundo informações publicadas pela empresa britânica BBC.

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