Depois do Ocupe Estelita, primeiros apartamentos do Novo Recife, de até R$ 3,1 milhões, ganham forma e vista. Veja imagens

Neste primeiro momento estão em construção duas torres residenciais de 38 andares e um flat de 19 pavimentos. As vendas das unidades já começaram
Adriana Guarda
Publicado em 18/05/2021 às 7:00
MOSTRUÁRIO Vista de um apartamento no segundo andar do Mirante do Cais, que está em construção Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


A paisagem do Cais José Estelita, no Centro do Recife, mudou. Quem passa pelo local consegue ver a construção das três primeiras torres do polêmico Projeto Novo Recife, tocado pelas empresas Moura Dubeux, Queiroz Galvão e GL Empreendimentos. Do complexo de 13 edifícios previstos para ocupar a região, estes três serão duas torres residenciais e um flat. Com 38 pavimentos, o residencial Mirante do Cais é formado pelas torres norte e sul. O Mirante do Cais concentra os maiores apartamentos já construídos pela MD no Recife, com tamanhos entre 226 m² e 268 m², sendo dois por andar. As unidades já estão à venda e um apartamento decorado está sendo concluído para visitação pelos clientes.  

Projetado para o público AA, os apartamentos têm preços entre R$ R$ 2,3 milhões a R$ 3,1 milhões. Segundo consultor procurado pelo JC, valor suficiente para adquirir uma mansão em bairros de luxo de cidades da Região Metropolitana do Recife. As unidades terão quatro suítes, lavabo, salas de estar e jantar, varanda gourmet, dependência completa e quatro garagens. 

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BOBBY FABISAK/JC IMAGEM - Projeto Novo Recife, da Construtora Moura Dubeux, está construindo 3 torres, no Cais José Estelita.

Áreas de lazer

Na área de lazer, a MD diz que os moradores terão salão de jogos e festas, espaço kids, terraço descoberto, espaço gourmet, coworking, quadra de tênis, campo de futebol com grama natural, playground, redário, mirante, passeio, deck seco e molhado, piscinas infantil e adulto, piscina coberta e aquecida, terraço gourmet, fitness, sauna e horta. Os espaços comuns serão entregues equipados e decorados. No Mirante, a obra avançou 20,74% e a previsão de entrega dos empreendimentos é para o segundo semestre de 2023.

A gerente corporativa de vendas da MD, Eduarda Dubeux, diz que a pandemia atrapalhou a execução da obra, na chegada da doença em Pernambuco, em março de 2020, quando houve um primeiro lockdown. "Por outro lado a pandemia contribuiu para aumentar a procura por imóveis, porque o distanciamento social fez com que as pessoas dessem mais valor à casa. E a procura foi maior exatamente para esses produtos maiores. São jovens bem sucedidos querendo mudar para apartamentos maiores e outros públicos", observa.  

Segundo a MD, os empreendimentos são comercializados em regime de condomínio fechado. Hoje, os residenciais do Mirante do Cais está com 60% do grupo formado. Num primeiro momento, a falta de oferta de serviços na área será uma dificuldade, até que o número de moradores gere demanda para ocupar a área de lojas no térreo dos edifícios, além de atrair fornecedores de uma forma em geral. 

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM - Projeto Novo Recife, da Construtora Moura Dubeux, está construindo 3 torres, no Cais José Estelita.

"No momento, a localidade ainda não dispõe de muitos serviços pois não existem muitas moradias na área. Esse será um processo natural de oferta de serviços com a chegada dos moradores. Aliado a isso em todos os prédios espaço no térreo dos prédios com a implantação de várias lojas que ajudará a suprir a necessidade dos moradores", diz a MD.

Flat Parque do Cais 

Além das torres residenciais, as empresas do Consórcio Novo Recife também querem transformar o Cais José Estelita em uma área de negócios. O flat Parque do Cais e um edifício garagem para atender a demanda será o primeiro deles.  O edifício de 19 pavimentos tem térreo e mezanino, além de 14 imóveis por andar e um rooftop. São flats de 35, 58 e 62 metros quadrados, que custam a partir de  R$ 385 mil e estão com 22,52% das obras concluídas. Hoje, o Parque do Cais está com 94,6% do grupo fechado para compra. As torres residenciais e o flat têm um valor geral de vendas de R$ 480 milhões.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM - Projeto Novo Recife, da Construtora Moura Dubeux, está construindo 3 torres, no Cais José Estelita.

Entregas à população

Motivo de discussões que ultrapassaram as fronteiras de Pernambuco e do Brasil, o Projeto Novo Recife colocou na mesa a importância do diálogo sobre a ocupação urbana. O projeto enfrentou várias críticas (veja linha do tempo abaixo) e precisou ser redesenhado. Antes, a ideia era construir 11 torres com até 40 andares, mas acabou ficando em 13 torres de, no máximo, 38 andares. Foram muitas as pressões, ocupações e ações judiciais até que o projeto fosse redesenhado. 

Depois da discussão com a sociedade civil, cinco pilares nortearam os arquitetos no desenvolvimento do redesenho do projetos: abertura da Dantas Barreto até a orla; criação de parque na orla do Cais José Estelita; escalonamento de altura sendo os prédios mais baixos mais próximos ao atual viaduto das Cinco Pontas e os mais altos mais próximos ao viaduto Joana Bezerra; fachadas ativas no térreo dos prédios com serviços abertos à população; destinação de 65 % da área do terreno para uso de área pública e privado de uso público.

"Foi um processo bastante conturbado até que o projeto teve um redesenho, sobretudo com o escalonamento da altura dos prédios à medida em que vão se aproximando do Forte das Cinco Pontas eles vão diminuindo. Apesar de tudo acabamos tirando um lado positivo disso. Pelo menos 65% da área do terreno foi destinada para uso público. Além disso, existem ações que vão beneficiar a população, como a recuperação da Igreja de São José, no Bairro de São José, e melhorias viárias", destaca Eduarda Dubeux.  

A Igreja de São José estava interditada há 7 anos por oferecer risco à população e começou a ser reformada em novembro de 2020. A previsão era que fosse concluída em 16 meses, mas a nova data está prevista para o  final do segundo semestre de 2022. Na obra estão sendo aplicados R$ 3,5 milhões. Já em relação ao acesso viário, o que está sendo executado um novo sistema viário no Cais José Estelita. A ideia é que as atuais vias possam ser disponibilizadas para execução de um parque na orla. As obras contam com infraestrutura de drenagem, embutimento de cabos e fios elétricos, iluminação pública, calçadas, ciclovia e pavimentação. O investimento será de cerca de R$ 20 milhões e deverá ser concluído no final do primeiro semestre de 2022.

Além disso, a MD lista outras ações como a retirada do viaduto das cinco pontas, recuperação dos galpões existentes, implantação do parque desde o Cabanga até o entorno do Forte das Cinco Pontas, recuperação da Igreja de São José (já em andamento), criação de áreas de convivência e lazer da população do entorno, novo sistema viário, além da construção de 200 habitações de interesse social. 

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM - Projeto Novo Recife, da Construtora Moura Dubeux, está construindo 3 torres, no Cais José Estelita.

Novos empreendimentos 

Por enquanto não existe previsão de outros lançamentos do Consórcio Novo Recife no Cais José Estelita, mas a ocupação continua sendo discutida com as empresas que detém os lotes. A perspectiva é que sejam erguidas outros edifícios com perfis menores de apartamentos e torres comerciais.  

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM - Projeto Novo Recife, da Construtora Moura Dubeux, está construindo 3 torres, no Cais José Estelita.

Muita polêmica envolveu o projeto

O terreno onde estavam localizados os armazéns pertencia, originalmente, à Rede Ferroviária Federal S.A (Refesa) e foi arrematado num leilão, em 2008, pelo Consórcio Novo Recife. A polêmica começou em 2012, quando o Projeto Novo Recife foi apresentado. A discussão era porque o terreno destinado ao projeto abrigava antigos galpões, estações ferroviárias e a segunda linha de trem mais antiga do Brasil. Estava ali parte do patrimônio histórico da cidade. 

A Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) chegou a aprovar o empreendimento, mas teve que recuar diante das pressões. A partir daí e ao longo dos próximos sete anos, o Novo Recife pautou as discussões nacionais sobre o futuro da ocupação urbana das cidades. Foram realizadas uma série de manifestações, envolvendo ativistas, artistas e entidades da sociedade civil, lideradas pelo movimento Ocupe Estelita. 

Enquanto os protestos aconteciam nas ruas, a Justiça recebia uma série de ações contra o empreendimento, chegando a doze, incluindo os Ministérios Públicos Federal e Estadual. Em 2013, a PCR aprovou o projeto, mas exigiu medidas mitigatórias. Uma delas foi a ampliação das ações de mitigação de R$ 32 milhões para R$ 62,7 milhões. 

O Clima esquentou em 2014, quando as empresas do consórcio iniciaram a demolição dos galpões. Em 22 de maio (um dia após o início da derrubada), os manifestantes ocuparam o local para evitar e uma liminar suspendeu os trabalhos. Poucos dias depois (29/05), o Tribunal de Justiça de Pernambuco determinou a reintegração de posse do terreno aos empresários, mas os manifestantes continuaram no local. 

No início de junho, o Ocupe Estelita chegou a realizar apresentações no local, com a participação do cantor Otto. Os confrontos com a Polícia aconteceram diversas vezes. Outra discussão levantada foi a legalidade da compra pelo consórcio. Havia denúncia de que o valor pago teria sido abaixo do mercado, mas depois a Justiça entendeu que não houve ilegalidade.

Depois de tantas idas e vindas, o Consórcio Novo Recife só conseguiu executar a demolição dos armazéns na primeira metade de 2019. Sem querer perder mais tempo, as obras de construção das três torres que estão em andamento começaram em novembro de 2019. Todo o empreendimento está sendo construído numa área de 14 mil metros quadrados.  

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