Pandemia impulsiona busca por vagas no serviço público como alternativa ao desemprego

Segundo a Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) houve um aumento de 40% entre 2016 e maio de 2021 de pessoas que declararam estudar para concursos públicos
Marcelo Aprígio
Publicado em 04/07/2021 às 8:58
Segundo a Google, os jovens já representam a maioria dos candidatos a uma vaga no serviço público no país Foto: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM


Desde que a covid-19 aportou no Brasil, a economia sofreu uma brusca paralisação causada pelos efeitos do vírus, que foram além da saúde. Isso afetou milhões de brasileiros, sobretudo aqueles que logo foram dispensados de seus postos com a chegada da pandemia. Além desse grupo, os mais jovens, que se viram perdidos na tentativa de encontrar a primeira oportunidade profissional em meio a um cenário sem perspectivas de crescimento no curto prazo.

A falta de oportunidades ou o vislumbre de um futuro não muito favorável tem mudado o comportamento de diversas pessoas, que estão procurando no serviço público uma saída para um mercado de trabalho que não consegue absorver a mão de obra disponível, principalmente quem tem pouca ou nenhuma experiência profissional, formado majoritariamente pelos mais jovens. Essa realidade já pode ser percebida em levantamentos realizados no Brasil. Segundo a Google, os jovens já representam a maioria dos candidatos a uma vaga no serviço público no país. A faixa etária entre 18 e 24 representa 27% dos ‘concurseiros’; e aqueles com 25 a 34 anos somam 37%.

Rudi Moraes, 26, faz parte do segundo grupo. Sem conseguir emprego desde que saiu da faculdade em 2019, ele tem se dedicado aos certames e espera ser aprovado na prova do Banco do Brasil. “Passei um bom tempo todo me preparando para diversos concursos, mas sem deixar de buscar emprego no setor privado, mas agora já não tenho mais esperanças de ser contratado por empresas, por isso estou focado 100% nos concursos”, conta ele.

Aumento da concorrência

ACERVO PESSOAL - Rita Pedrosa - Economista

A Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) também tem notado essa tendência, segundo a entidade houve um aumento de 40% entre 2016 e maio de 2021 de pessoas que declararam estudar para concursos públicos. “Os mais jovens sentem medo em chegar aos 30 anos sem uma experiência profissional significativa. A vaga em um cargo público é uma oportunidade para conseguir uma carreira com estabilidade, qualidade e boa remuneração. Começar a trabalhar já conseguindo esses benefícios faz toda a diferença no início da carreira”, explica a economista Rita Pedrosa, professora da Estácio e consultora empresarial.

Para não sofrerem com o que os economistas chamam de ‘efeito cicatriz’ – quando severas crises econômicas afetam negativamente o progresso na carreira dos mais jovens -, o momento pode ser oportuno para repensar o plano de carreira. Como muitas pessoas cresceram com a ideia de que terminando o Ensino Médio, o próximo passo seria entrar no Ensino Superior para atuar numa área especializada da iniciativa privada, o primeiro passo seria desconstruir esse raciocínio.

DIVULGAÇÃO - MUDANÇA DE CARREIRA | Joebson Oliveira, consultor de recursos humanos e coordenador do Núcleo de Carreiras do Unit-PE

O coordenador do Núcleo de Carreiras da Unit-PE, Joebson Oliveira explica que ter uma única opção de carreira pode gerar frustrações no futuro, caso ela não se realize. Por isso, é importante considerar outras áreas. “O serviço militar, por exemplo, é historicamente conhecido por ser um lugar onde muitas pessoas ascendem social e economicamente. Além disso, o investimento nas Forças Amadas tem sido recorrente no atual governo, sendo uma chance para quem quer ingressar em um primeiro emprego”, diz. 

Como se preparar

Para quem gostaria de planejar sua entrada na administração pública, o coordenador explica que alguns passos são essenciais antes mesmo de começar os estudos. A primeira coisa que o estudante deve saber é qual a carreira que ele pretende seguir, e se dedicar a passar em concursos relacionados a ela. “Tendo em mente a área escolhida, fica mais fácil analisar quais conteúdos são os mais requisitados nos exames. Isso otimiza o tempo de estudo do aluno”, explica Rita. Segundo ela, é prejudicial para o aluno destinar seu tempo estudando para duas áreas diferentes, como policial e administrativa, por exemplo.

Após definir o objetivo e iniciar de fato os estudos, o coordenador aconselha dedicar a maior parte do tempo em aprender os conteúdos que são igualmente cobrados em exames de uma mesma área. “Independentemente dos anos em que são realizados, os exames cobram os mesmos assuntos com certa frequência”, afirma o professor Joebson. Para isso, o candidato pode analisar os editais de concursos antigos e conhecer quais temas ele deve dedicar maior esforço.

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