O setor sucroalcooleiro sempre se confundiu com a história econômica de Pernambuco. Ao longo de séculos, foi a principal atividade econômica do Estado. Ao longo do tempo, o parque industrial foi se transformando, com o nascimento do Complexo de Suape e de outras grandes companhias como a montadora de Jeep, no Norte do Estado. Diante de tantas mudanças, a atividade canavieira deixou de ser a mais importante. Porém, manteve-se ali, ano a ano, produzindo suas safras de açúcar e álcool e gerando uma grande quantidade de emprego sazonal ainda indispensável para os municípios da Zona da Mata.
No Balanço Empresarial - Maiores e Melhores, que analisou o desempenho das empresas e das atividades econômicas ao longo de 2020, o sucroalcooleiro foi apontado como o setor do ano e a Usina Central Olho D'Água como a empresa do ano. "Foi, sem dúvida, o que mais surpreendeu no levantamento do ano passado. O setor sucroalcooleiro retomando sua importância na economia do Estado como grande empregador de mão de obra e capacidade de gestão com empresas lucrativas", destaca o economista, contabilista e idealizador do Balanço, José Emílio Calado, da JBG & Calado Gestão e Negócios.
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As 13 usinas espalhadas pela Zona da Mata Norte e Sul do Estado já planejavam produzir uma safra mais açucareira do que alcooleira na pandemia da covid-19, em função da brusca queda no consumo de etanol, motivado pela exigência do distanciamento social e a necessidade de as pessoas ficarem em casa. Além disso, o preço do açúcar estava valorizado no mercado internacional e o real desvalorizado ante ao dólar, tornando a venda externa ainda mais atrativa.
"As usinas que são fortemente exportadores tiveram destinos mais assegurados para as exportações e realmente houve um aumento sobretudo da taxa cambial, favorecendo as exportações, e lá fora o açúcar aumentou um pouco, sobretudo na pandemia, houve um aumento da própria mercadoria nas Bolsas. Por outro lado, houve um aumento muito grande dos custos: de tributos e insumos. E esse foi um momento passageiro. O ideal era que o preço cobrisse os insumos sempre, mas isso não ocorre o tempo todo", afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha.
De acordo com o Sindaçúcar, a safra 2020-2021 chegou a ser até menor do que a de 2019-2020, passando de 12,5 milhões para 11,7 milhões de toneladas. Mesmo assim, a exportação de açúcar cresceu de de 323 mil para 454 mil toneladas métricas.
Olho D'Água dá exemplo de gestão
"O diferencial das usinas foi no exemplo de gestão. Conseguiram aproveitar as oportunidades e vencer as dificuldades. A Usina Olho D'Água foi consagrada a empresa do ano, graças a uma metodologia de pontuação, que leva em consideração os principais ativos analisados", explica Calado. A usina, que completou 100 anos em 2020, registrou crescimento de 19% na receita líquida, de 54% no lucro líquido e de 34% na margem líquida, além de uma alta rentabilidade do patrimônio líquido de 40%.
Procurada pelo JC, a Olho D'Água preferiu não se pronunciar sobre o ranking. Nos anos anteriores, as empresas destaques haviam sido Chesf (2019), Petroquímica Suape (2018) e Baterias Moura e MV Informática (empatadas em 2017), o que confirma a surpresa do setor sucroalcooleiro e da usina no topo do pódio. Na lista do setor, além da Olho D'Água também se destacam Trapiche, Petribu, Alcoolquímica, União & Indústria e São José.
Usinas evitam catástrofe maior no emprego
O desemprego e a perda de renda foram os impactos econômicos mais perversos da pandemia. Grande empregador de mão de obra, ainda que durante o período sazonal da safra (de agosto a março), o setor sucroalcooleiro gerou 70 mil empregos em 58 municípios do Estado. Em 2020, a taxa de desemprego em Pernambuco foi de 16,8%, pior resultado desde 2017, segundo o IBGE.