VAREJO

Endividamento e inflação devem abocanhar 13º salário e abater parte das vendas de fim de ano do comércio

Em Pernambuco, estimativa é de que R$ 6,5 bilhões sejam injetados, porém boa parte indo para alimentação e pagamento de débitos

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 29/11/2021 às 13:33
BOBBY FABISAK/ ACERVO JC IMAGEM
Roupas, calçados e acessórios devem ser os líderes de venda neste ano. Consumidor vai desembolsar em média R$ 221 com presentes - FOTO: BOBBY FABISAK/ ACERVO JC IMAGEM
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O Natal, época sempre festejada pelos lojistas, corre o risco de ser um pouco mais triste em 2021. Com a inflação seguindo seu caminho para fechar o ano em dois dígitos e o aumento da parcela da população endividada, gastar o dinheirinho a mais que chega a partir desta terça-feira (30), do pagamento do 13º salário, com roupas e compras sazonais de fim de ano não deve ser a primeira opção para boa parte dos brasileiros. A previsão negativa leva uma crença de que atingir o mesmo resultado de 2020, que já foi ruim, agora é algo a ser comemorado, tamanha a fadiga, com sinais evidentes durante a Black Friday. 

No ano de 2020, o repique de casos de covid-19, mantendo as restrições, e o fim do Auxílio Emergencial, à época pagando R$ 600 às famílias mais pobres, impactaram negativamente as vendas no comércio varejista pernambucano. Reduzindo as projeções frente o ano de 2019. Agora, a inflação corroendo o poder de compra somada ao volume maior de endividamento, traz o temor aos comerciantes, que buscam espaço para conseguir uma fatia do orçamento das famílias. 

"O grande problema foi essa alta da inflação, itens de alimentação, energia e combustível caem diretamente no bolso do povão, e isso deu uma freada (nas compras). Se igualar o resultado de 2020 ou chegar a ultrapassar em alguma medida vai ser algo muito bom, pois os preços subiram rapidamente", justifica o primeiro vice-presidente da CDL-Recife, Cid Lôbo de Mendonça.

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O pagamento do 13º salário, segundo dados do Dieese, representam em Pernambuco R$ 6,5 bilhões na economia pernambucana, R$ 400 milhões a mais do que fora aportado em 2020. O montante equivale a cerca de 2% do que será pago em todo o Brasil, onde a expectativa é de que sejam movimentados R$ 232,6 bilhões na economia, com mais dinheiro no bolso de 2,9 milhões de pessoas.

Os recursos continuarão intensificando a movimentação nas lojas, em relação ao restante do ano, porém não deverá ser capaz de alavancar as vendas a níveis que o fim do ano já proporcionou ao comércio em anos anteriores. 

Quem recebe 13º salário?

Pouco mais de 83 milhões de brasileiros esperam o 13º salário em 2021

O prazo para pagamento da primeira parcela do décimo terceiro encerra-se nesta terça-feira, dia 30 de novembro. A primeira parcela do décimo terceiro corresponde à metade do salário bruto recebido pelo empregado, sem nenhum desconto

Já na segunda parcela, prevista para ser depositada até 20 de dezembro, são descontados Imposto de Renda e INSS, ou seja, ela é menor do que a primeira

Não pagar ou atrasar a gratificação natalina é considerado uma infração, podendo resultar em pesadas multas. O valor da multa é de 160 UFIRs (R$ 170,25) por empregado e é dobrado em caso de reincidência. Além da multa em favor do Ministério do Trabalho, o empregador corre o risco, dependendo da convenção coletiva da categoria, de ter de arcar com a correção do valor pago em atraso ao empregado.

 

O pouco mais de dinheiro no bolso da população poderá destinado prioritariamente à compra de itens básicos e quitação de contas, restando uma fatia menor para gastos sazonais do último mês do ano. Antes mesmo de chegar os últimos meses do ano, no terceiro trimestre, o ímpeto de consumo já se mostrava arrefecido, com variação de apenas +8,4% na receita nominal em relação ao mesmo período de 2020, quando a base comparativa já era baixa em função das restrições da covid-19.  Em termos de volume vendas, o desempenho vinha se mantendo negativo em -4,7%, sendo -2,3%, -7,8% e -3,8% em julho, agosto e setembro, respectivamente. 

O resultado é justificado pela alta dos preços, em virtude do avanço do preço dos produtos que, em geral, chegou a 8,24% no acumulado do ano até outubro. Em 12 meses, já chegou aos dois dígitos: 10,67%. No Grande Recife, além da pressão de custos de itens como energia elétrica e combustíveis, que pesam no bolso do consumidor e dos lojistas, produtos normalmente procurados pelas famílias neste fim de ano também seguem em alta. 

No acumulado do ano, da prévia da inflação de novembro, IPCA-15, artigos de residência e vestuário já registram altas de 8,43% e 6,01%, respectivamente. 

"As boas notícias são que tanto o Estado quanto a Prefeitura do Recife já garantiram o pagamento antecipado, e a iniciativa privada tem até esta terça-feira para pagar a primeira parcela. Isso dá uma injeção de recursos, que tradicionalmente dá uma melhorada no comércio, mas este ano não está como a gente esperava", diz Mendonça. 

No varejo do Recife, além da abertura das lojas todos os dias até o Natal, a CDL também irá lançar no próximo dia 10 a campanha promocional natalina, com sorteiros de prêmios, incluindo um carro, para compras acima dos R$ 50. Na tentativa de estimular o consumidor.

Com o dinheiro comprando menos do que o habitual, o socorro que poderia vir do crédito, para completar a conta também está mais salgado, já que o Banco Central vem rotineiramente elevando a taxa básica de juros, a Selic, atualmente no patamar de 7,75%. A carestia do crédito ainda conta com elementos como alta do IOF, cobrado em operações de empréstimo. Tudo isso, atrapalha o consumidor, que já sem renda, pensa duas vezes em como vai gastar o dinheiro que foi buscar na praça. 

Pela primeira vez desde fevereiro deste ano, a inadimplência dos brasileiros apresentou aumento. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o endividamento recorde, que alcançou cerca de 12 milhões 327 mil famílias, e os desafios econômicos impostos aos orçamentos domésticos colaboraram para que o endividamento alcançasse o maior nível desde setembro do ano passado, 26,1%.

A parcela da população endivida está no maior nível para meses de novembro na série histórica da análise, iniciada em janeiro de 2010. "A inflação corrente ao consumidor girando próxima a 11% ao ano acirra o orçamento familiar e aumenta a necessidade do crédito para organizar as despesas", aponta a economista responsável pela Peic Izis Ferreira. 

A saída é buscada principalmente pelo grupo das famílias com rendimento de até dez salários mínimos. De outubro para novembro, o percentual de endividados nessa faixa de renda saltou de 75,9% para 77%. No mesmo mês do ano passado, o indicador registrava 67,9%, o que representa um aumento anual de quase dez pontos percentuais em 2021. 

Mesmo com os juros maiores, as concessões de crédito com recursos livres para pessoas físicas seguem aumentando. Segundo os dados do Banco Central, houve crescimento real de 3,3% nas concessões de crédito às pessoas físicas, nas modalidades com recursos livres, o que indica a procura das pessoas pelo crédito na complementação do orçamento familiar, que segue cada vez mais criterioso quanto aos gastos. 

O Índice de Confiança do Comércio (Icom) caiu 6,2 pontos na passagem de outubro para novembro, para 88,0 pontos, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Para a FGV, a queda reforça um quadro de desaceleração de vendas no último trimestre do ano.

"O resultado negativo teve influência tanto da piora na percepção do ritmo de vendas quanto das expectativas sobre os próximos meses, distanciando o ICOM do nível neutro de 100 pontos. O cenário para os próximos meses não é muito animador, dado que a confiança dos consumidores ainda se encontra muito baixa, a inflação segue em alta, os juros subindo e o mercado de trabalho ainda reagindo gradualmente", diz a nota da pesquisa. 

Inadimplência no mês de novembro é a maior em 11 anos

No geral, nível da inadimplência está no maior patamar desde setembro de 2020, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da CNC

Inadimplência no mês de novembro é a maior em 11 anos

O número de brasileiros inadimplentes subiu pela primeira vez após oito meses. Com o endividamento crescendo pelo 12º mês consecutivo, a inadimplência alcançou níveis recordes para um mês de novembro, saltando para o maior patamar dos últimos 11 anos. Isso quer dizer que cerca de 12,327 milhões de famílias estavam na condição de endividamento no último mês em todo o País, o que representa 75,6% do total de lares. Desse total, 26,1% estavam em inadimplência, com contas pu dívidas em atraso. 

O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso alcançou o maior nível desde setembro do
ano passado, atingiu 26,1% do total de famílias, 0,5 ponto maior do que o nível de outubro e 0,4 ponto
acima do apurado em novembro de 2020. Para meses de novembro, trata-se da maior proporção
observada na série histórica do indicador, iniciada em 2010. 

>>> Endividamento e inflação devem abocanhar 13º salário e abater parte das vendas de fim de ano do comércio

A parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e
que permanecerão inadimplentes manteve-se estável na passagem mensal, em 10,1%, e queda de 1,4
ponto na comparação anual.

Ainda assim, o endividamento nos dois grupos de renda pesquisados segue apresentando tendências de alta desde abril deste ano, passada a segunda onda mais intensa da pandemia da covid-19. Em novembro, para as famílias com renda até dez salários mínimos, o percentual das endividadas saltou para 77% do total de famílias, ante 75,9%. No mesmo mês de 2020, 67,9% das famílias nessa faixa de renda estavam endividadas, incremento de quase 10 pontos percentuais. 

Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, a proporção de endividados também alcançou o maior patamar, indo de 69,5% para 70,3% em novembro, ante 59,3% em novembro de 2020. Para esse grupo, a comparação do nível de endividamento entre 2020 e 2021 traz um aumento de 11 pontos percentuais.

Nesse cenário, as famílias, pelo recorte de renda, divergem em relação às soluções adotadas. As mais abastadas, recorrem a suas poupanças, enquanto as mais pobres lançam mão do crédito, que mesmo mais caro, tem elevado o seu montante liberado. 

O percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas em atraso e que vão
permanecer inadimplentes cresceu pela primeira vez desde julho, alcançando 12% do total de famílias,
ante 11,9% em outubro e 13,4% em novembro do ano passado. Entre os com mais de dez salários de
renda, 3,2% não terão condições de quitar compromissos financeiros em aberto, ante 4,7% em outubro
do ano passado.

A proporção do total de famílias endividadas no cartão de crédito segue aumentando, mantendo o cartão como o principal motivo do endividamento (85,2%). Em relação a novembro de 2020, a modalidade avançou 7,4 pontos no endividamento, o maior incremento anual da série histórica do indicador.

Os carnês de lojas representam 20,9% do tipo de endividamento, enquanto o financiamento de carro aparece com 12,6%. Financiamento de casa e crédito pessoal são 9,9% e 9,5%, respectivamente. 

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