Vilões da inflação em 2021, combustíveis devem se manter estáveis este ano

De maneira geral, os combustíveis, junto com a energia elétrica, foram os grandes vilões da inflação
Estadão Conteúdo
Publicado em 04/01/2022 às 22:35
VILÃO O diesel foi o combustível fóssil que mais subiu no ano passado, 46,8% na comparação com 2020 Foto: FILIPE JORDÃO/ACERVO JC IMAGEM


O diesel foi o combustível fóssil que mais subiu no ano passado, 46,8% na comparação com 2020, segundo o Levantamento de Preços de Combustíveis da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e de Biocombustíveis (ANP).

O segundo maior aumento foi da gasolina (46,5%), seguida do Gás Natural Veicular (40,1%) e gás de cozinha (35,8%). A alta acompanhou o preço do petróleo no mercado internacional, que em um ano de instabilidade subiu cerca de 40%, no embalo da recuperação da economia global com a evolução da vacinação contra o covid-19.

Para piorar, o etanol também disparou no mercado interno, com os produtores priorizando a produção de açúcar, em alta no mercado mundial, reduzindo a oferta nacional. Segundo a ANP, nos postos de abastecimento o etanol subiu 60% no ano passado.

De maneira geral, os combustíveis, junto com a energia elétrica, foram os grandes vilões da inflação de 2021, que deve fechar o ano acima dos 10%, segundo analistas. O cenário, porém, não deve se repetir este ano, informa o coordenador dos índices de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz, apesar do petróleo estar retornando para as máximas do ano passado, em torno dos US$ 80 por barril do tipo Brent.

"Os combustíveis não vão aparecer mais como os grandes vilões este ano, como foi o caso no ano passado. Ano passado teve desvalorização cambial grande e aumento do preço em dólar do petróleo, houve desmobilização da cadeia produtiva, o que está sendo retomado este ano", explicou Braz.

Pandemia

Ele ressalta que apesar da variante do covid-19, ômicron, estar no radar global, ameaçando a retomada de grandes economias, não deve ter o efeito que a pandemia teve no ano passado. "Temos condições de ter preços mais estáveis este ano", afirmou.

Outra diferença em relação a 2021 está sendo o inverno no hemisfério norte, que vem se apresentando menos rígido do que no ano passado, quando refinarias tiveram que parar de operar por conta das altas temperaturas.

Na estimativa de Braz, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve cair pela metade em relação a 2021, para 5,2%. "Minha previsão para este ano fica acima do que o mercado espera, que é o teto da meta de inflação (5%), exatamente pelo risco político de ano eleitoral, principalmente na reta final das eleições, que traz desvalorização cambial com chances de afetar a inflação de 2022", informou.

Para o Pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Henrique Jager, o petróleo deve ter uma leve queda no primeiro semestre de 2022, com o fim do inverno no hemisfério norte, mas os derivados devem se manter nos patamares atuais, com a recuperação da margem dos postos de abastecimento, que não repassaram todo o aumento da Petrobras no ano passado. Nas refinarias da Petrobras, o aumento da gasolina, por exemplo, foi de 63,3%. Outro agravante, destaca, será a continuidade da alta do açúcar no mercado internacional, que deve manter o preço do biocombustível em alta, o que afeta a gasolina, cuja mistura está no patamar de 27%.

"Não existe grande espaço para redução dos derivados, apenas se a Petrobras reduzir o preço na refinaria por decisão política, o que pegaria muito mal para a empresa", avaliou.

Congresso tem grande chance de reverter veto de Bolsonaro à venda direta de etanol

Fontes do setor sucroenergético demonstraram surpresa com o veto do presidente Jair Bolsonaro aos artigos de medida provisória que permitiam a usinas vender etanol diretamente aos postos. A avaliação é de que os vetos causam incerteza. Para o coordenador da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), a chance de o veto ser derrubado no Congresso "é grande". "Esperamos, logo no início de fevereiro, fazer uma sessão para análise de vetos", disse ele. O Congresso está em recesso até 2 de fevereiro. De acordo com Jardim, o projeto sofreu com o "bate cabeça" do governo. "Há total falta de coordenação no Ministério da Economia", afirmou. "Contradições entre diferentes setores. É nesse contexto que identifico a questão da venda direta."

Segundo a Secretaria da Presidência, o veto não impede a venda direta, já que esse tema foi tratado em regulamentação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) - entretanto, de acordo com fontes, o texto da agência afirma que usinas só podem vender a postos que ficam no mesmo município, o que restringe o número de negociações especialmente no Centro-Sul. A justificativa da Presidência da República foi de que a inclusão de cooperativas à Medida Provisória que tratava do assunto criaria uma renúncia fiscal indevida e distorceria a concorrência setorial, já que cooperativas têm isenção na base de cálculo do PIS/Pasep e Cofins. O texto inicial da MP não incluía essas unidades, mas o Congresso as acrescentou posteriormente.

Parte do setor sucroenergético aguarda para saber se o governo federal pretende enviar uma nova Medida Provisória ao Parlamento sem inclusão de cooperativas e trabalhar para que congressistas não as incluam mais uma vez.

A região que mais busca a venda direta é o Nordeste, onde usinas ficam mais próximas dos postos, portanto a necessidade de transporte até a distribuidora para só depois ir ao posto aumenta o custo do frete. Lá, a limitação de negócios ao mesmo município causa menos problemas do que no Centro-Sul.

Mesmo antes do veto desta terça-feira, a comercialização diretamente entre usinas e postos pouco avançou, devido, principalmente, à incerteza tributária.

TAGS
combustíveis gasolina inflação
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory