Foi preciso esperar uma década e atravessar três governos (Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro) para destravar a obra de deagagem do Porto do Recife. Foram muitas idas e vindas a Brasília, peregrinando por diferentes ministérios, para garantir um recurso de R$ 28,3 milhões (valor longe do aplicado em grandes obras de infraestrutura). Sete meses após o lançamento da licitação, em junho de 2021, a draga holandesa Van Oord atracou no Recife no dia 20 e iniciou os trabalhos no sábado (22). Diferente do tempo que durou para negociar os recursos, a conclusão da dragagem será rápida, com previsão de execução em 40 dias.
O objetivo da dragagem é desobstruir os cais, que estão assoreados, para permitir a atracação de navios maiores. Sem a realização da obra nos últimos 10 anos, a Marinha do Brasil foi pouco a pouco limitando o tamanho das embarcações que podem atracar. Hoje o porto só pode receber navios de até 32 mil toneladas e depois da obra terá capacidade para 45 mil toneladas. Uma das vantagens, por exemplo será o aumento das cargas de cevada para atender ao polo cervejeiro de Pernambuco, que vem sendo em parte abastecido pelo Porto de Cabedelo, na Paraíba.
A draga Van Oord vai desobstruir os cais do 00 ao 09. Do berço 00 ao 01, será aprofundado para 10 metros de profundidade; do berço 02 ao 06 para 11 metros de profundidade; e do trecho do berço 07 ao 09 para os 8 metros de profundidade. Os trechos mencionados chegarão às profundidades máximas, na maré alta, de 12,70 m, 13,70 m e 10,7 m respectivamente. A expectativa é que sejam retirados 832.200 mil metros cúbicos de sedimentos dragados do cais, canal interno e bacia de evolução.
Animado com o início da obra, o presidente do Porto do Recife, José Lindoso, acredita que o atracadouro viverá uma novo ciclo a partir da obra. “O crescimento nas operações do Porto do Recife não é uma expectativa, é uma realidade. Hoje nós temos uma demanda que não podemos atender porque a profundidade do nosso cais não suporta navios de maior tonelagem" reforça
Lindoso aponta várias cargas que têm potencial para aumentar a movimentação de carga no porto, a partir do aumento da profundidade dos cais. "O açúcar que exportamos tem um crescimento previsto de cerca de 40%. Os fertilizantes que importamos, principalmente da Bélgica, têm uma expectativa de 20% de incremento. O milho que abastece a avicultura de Pernambuco e da Paraíba também crescerá cerca de 40%. A barrilha, um dos principais produtos que movimentamos na capital pernambucana, tem
previsão de 30% de crescimento. O material metalúrgico, que apresentou um avanço de 172,53% em 2021, possui uma expectativa de incremento de 10%. Essa nova fase do Porto do Recife, que se inicia com a obra de dragagem, tornará o nosso terminal ainda mais atrativo para novos investidores”, defende.
A articulação que permitiu o início da dragagem do Porto do Recife agora em 2022 foi pavimentada pelo antigo presidente Carlos Vilar, em 2019. No final daquele ano, o Governo do Estado e a União, com interveniência da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado e a interveniência executora da Porto do Recife S.A, assinaram um Termo de Compromisso com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para a execução das obras de dragagem do cais acostável.
Em junho de 2021 foi publicado no Diário Oficial do Estado o aviso de licitação para contratação de empresa que executará a obra do ancoradouro recifense. O certame foi realizado dentro do que preconiza a Lei nº 13.303 (Lei das estatais). Depois do processo de abertura das propostas e sessão de lances, a empresa holandesa Van Oord foi contratada para o serviço. A Royal Van Oord é uma empresa holandesa de contratação marítima especializada em dragagem, recuperação de terras e construção de ilhas
artificiais.
Foram contratadas também através de licitação as empresas Eicomnor e DBF para realizar a supervisão de obra e monitoramento ambiental, respectivamente. O valor exato do recurso federal destinado para todas as etapas da obra ficou na ordem dos R$ 28.387.413,54. Após a finalização do serviço de dragagem, o calado ainda passará por uma homologação da Marinha do Brasil.
Em 2021, o Porto do Recife registrou um pequeno crescimneto de 1,96% na movimentação de cargas em relação ao ano anterior. Foram 1,3 milhão de toneladas nos doze meses do ano passado. Esses números se devem principalmente à importação que fechou 2021 com crescimento de 8,66%, o que representou 1.304.410 toneladas, superando as 951.931 do ano de 2020.
Quanto às cargas movimentadas, o açúcar segue com a posição de destaque, seguido pelo malte de cevada, milho e material metalúrgico. O produto pernambucano fechou o ano com 317.395 toneladas movimentadas, sendo 136.235 de açúcar a granel e 181.160 do ensacado. Em comparação com o ano anterior, o açúcar a granel cresceu 51,59% e o ensacado 14,44%. O açúcar é o principal produto de exportação do Porto do Recife, saindo das usinas do Estado e chegando a países como Estados Unidos, Canadá, Romênia e, o principal exportador, o continente africano.