A pandemia da covid-19 bagunçou o calendário da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) nos últimos anos, mas não está atrapalhando as vendas. Por conta do coronavírus, o evento não aconteceu em 2020, foi adiado para dezembro em 2021 e voltou ao calendário normal em julho deste ano. Com programação de 6 a 17 deste mês serão realizadas duas feiras em um curto intervalo de sete meses.
Mesmo com a proximidade das datas, os artesãos estão confiantes de que vão fechar grandes negócios na maior feira do setor da América Latina. A organização do evento aposta numa movimentação de R$ 40 milhões em negócios e estima um público de 200 mil pessoas nos 12 dias de feira. Os números são equivalentes aos de 2021, com a diferença que a 21ª Fenearte durou dez dias e exigia esquema vacinal completo e comprovante de imunização.
O mestre-artesão Ivo Diodato acredita que mesmo com a realização de duas feiras em sete meses existe uma produção e uma capacidade de compra represadas que podem significar boas vendas este ano. "A Fenearte sempre é uma grande oportunidade de negócios. Mesmo com duas feiras acontecendo tão próximas uma da outra. Este ano trouxe 40 peças e espero em Deus ser surpreendido como nos outros anos e vender tudo. Muito embora com os resultados após pandemia sabemos que muitas coisas estão mudando", observa.
Discípulo de Mestre Zezinho de Tracunhaém, com quem trabalhou em seu ateliê, mestre Ivo Diodato é conhecido por suas peças com pés alongados, inspirados na artista modernista Tarsila do Amaral. Esculpidas em barro, as peças retratam personagens da cultura nordestina. Ele participa individualmente da feira desde 2010 e desde 2014 como mestre-artesão.
Se os veteranos estão confiantes no sucesso da 22ª Fenearte, quem faz sua estreia na feira também aposta na possibilidade de fazer bons negócios. É o caso dos povos Juruna e Arara, do município de Altamira, no Pará, que participa pela primeira vez com tecidos pintados com grafismo indígena. Precursora do artesanato entre as mulheres Juruna, a artesã e líder Bel Juruna participou participou na quinta-feira (7) da abertura da Roda de Conversas, discutindo o tema 'Artesanato e Arte Popular', junto com a jornalista e curadora Adélia Borges e com o antropólogo e pesquisador, Ricardo Gomes Lima.
Durante a palestra, ela contou como os povos indígenas precisaram conviver com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte na região e de que forma as compensações socioambientais exigidas permitiram incentivar algumas atividades, como o artesanato.
Com padrão de animais, frutas e traços étnicos, os tecidos podem ser utilizados em quadros, capas de almofadas, toalhas de mesa, caminhos de mesa e tantos outros usos. Os preços variam de R$ 100 até perto de R$ 300. Para manter a identidade dos povos Juruna e Araras, os tecidos podem ser utilizados para todos esses usos, desde que a produção artesanal seja assinada por eles.
"Cada povo tem o seu grafismo, simbolizando cultura e identidade. Os traços têm significado próprio e ajudam a identificar as diferentes etnias indígenas. As pinturas trazem o dia a dia da nossa região, como as ondas do rio, os cachos de açaí e outras coisas. Nos pintamos para nos sentir fortes espiritualmente, preparados para uma situação. A gente se pinta para dançar, caçar, ir à festa, ir a uma reunião ou a uma feira", diz Bel. Quem se dedica à atividade e busca renda a partir dela pode chegar a ganhar R$ 3 mil por mês.
Além dos negócios feitos nos estandes, a Fenearte também é vitrine para quem integra sua programação. Com estreia no ano passado, a Cozinha Fenearte é um espaço para que chefs renomados e novos chefs compartilhem receitas ao vivo com os participantes e se tornem um pouco mais conhecidos. Nesta 22ª edição, a Cozinha foi aberta por duas chefs mulheres. Negralinda, da Ilha de Deus, e Natália, do Cabo de Santo Agostinho, encantaram o público com suas técnicas e talento culinário.
Dona do Bistrô Nesgralinda, a chef decidiu se desafiar e fazer um prato francês 'pernambucanizado'. O resultado foi o 'Bela Risoflora', à base do peixe tainha e de camarão pescado pelos pescadores da Ilha de Deus. "Essa é a nossa segunda participação na Cozinha Fenearte. Além disso tenho uma longa história com a feira, vendendo artesanato de conchas, antes da gastronomia. Agora estamos com o INstituto Negralinda levando várias artesãs da Ilha para a feira", conta.
A Fenearte segue até o próximo dia 17, no Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon), em Olinda, com uma programação que inclui, além da feira de artesanato, palestras, oficinas, programação cultural, Cozinha Fenearte, moda e outras atrações. Nesta 22ª edição o evento homenageia os 30 anos do movimento Manguebeat, que mexeu o caldeirão cultural de Pernambuco nos anos 1990.
22ª Fenearte
De 6 a 17 de julho, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda
Horário de abertura:
Das 14h às 22h, de segunda a sexta
Das 10h às 22h, aos sábados e domingos
Ingressos:
Segunda a quinta: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia)
Sexta, sábado e domingo: R$12,00 (inteira) e R$6,00 (meia)