Balanço do primeiro semestre de 2022 do Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou que os trabalhadores brasileiros estão abrindo mão de benefícios, como plano de saúde, para garantir reajuste salarial.
A ideia é, ao menos, repor a inflação nas negociações coletivas deste ano.
Dados da Fipe, que foram divulgados em reportagem do jornal Folha de S. Paulo, mostram que complementos como a Participação nos Lucros e Resultados, abonos por aposentadoria e assiduidade, plano odontológico e auxílio-creche saíram de boa parte dos acordos ou convenções coletivas fechadas neste ano.
Também houve reajuste nos vales refeição e alimentação. Os valores continuam os mesmos entre 2021 e 2022.
Marcos Alencar – advogado e consultor trabalhista - disse em entrevista à Rádio Jornal que uma reforma sindical no brasil poderia equilibrar a balança em favor dos trabalhadores nas negociações.
"É uma negociação coletiva, sabemos que existe um lado mais forte e um mais fraco. O mais fraco é o da classe trabalhadora, que às vezes está melhor organizada e trazemos à tona a necessidade de uma reforma sindical para que tenhamos sindicatos fortes representando trabalhadores para que eles sentem na mesa e negociem de melhor forma esse reajuste salarial", disse.
Ele diz que o fenômeno apresentado pela Fipe é "triste", mas é natural em uma negociação coletiva. De acordo com o jurista, a reforma trabalhista desacompanhada de uma reforma sindical deixou os trabalhadores mais vulneráveis.
"Tivemos no fim do Governo Temer a reforma trabalhista, em 2017, mas a reforma sindical não aconteceu. Em alguns setores temos sindicatos demais e representatividade de menos. Com uma reforma, os sindicatos fortalecidos poderiam representar melhor os trabalhadores. A reforma trabalhista disse que o direito negociado vale mais que o legislado, mas em contrapartida enfraquecemos os sindicatos com a retirada da contribuição sindical".
Marcos Alencar ainda destacou que uma reforma tributária ajudaria na criação de empregos e que o cenário poderia ser "bem pior" se não fossem os auxílios concedidos pelo governo federal em meio a pandemia de covid-19.
"Com a reforma trabalhista, a cada um ou dois anos podem ser revistos benefícios, quando se retira benefício e se paga maior salário, o empregador sofre mais, pois paga encargo sobre a folha de pagamento, quando se concede abono, política de premiação, ticket alimentação, nada disso tem reflexos em termo de recolhimento. Mas notamos que o trabalhador está dizendo que não consegue pagar a feira, o aluguel, o condomínio e abre mão de benefícios, pois precisa de mais dinheiro na conta. O fenômeno é esse", concluiu.