Saudade do futebol já dura dois meses

Silvia França, Fabiane Arcoverde e Carlos Lopes torcem para times diferentes. Em comum, eles sentem a saudade de Sport, Náutico e Santa Cruz
Karoline Albuquerque
Publicado em 17/05/2020 às 11:35
A saudade do estádio acompanha os torcedores de Sport, Náutico e Santa Cruz. Foto: ACERVO PESSOAL


Há 30 anos, Leandro e Leonardo lançaram a música Talismã. A composição de Paulo Massadas, Mihail Plopschi e Michael Sullivan começava com uma questão que já é repetida diariamente, a cada fim de semana, a cada dia que deveria ter um jogo, pelos torcedores pernambucanos. "Sabe, quanto tempo não te vejo." São dois meses desde o último dia em que a bola rolou para Náutico, Sport e Santa Cruz.

O Náutico entrou em campo no dia 14 de março, ao receber o Fortaleza, pela Copa do Nordeste. No dia seguinte, o Sport enfrentou o Ceará, também pelo regional. Naquela mesma tarde de 15 de março, o Santa Cruz duelou com o Decisão, pelo Campeonato Pernambucano. Este último, já de portões fechados por causa da pandemia do novo coronavírus.

A saudade, porém, é necessária. A alvirrubra Fabiane Arcoverde destaca: é uma saudade por questão de saúde. A opinião dela recebeu o coro do tricolor Carlos Lopes. "Já fazia parte da rotina acompanhar os jogos no Arruda. Mas, há de se destacar que o isolamento social é imprescindível no atual momento, visando a não proliferação do vírus. É algo a ser feito por todos e cada um é responsável pelo sucesso ou não dá medida", destacou o torcedor do Santa Cruz.

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Essa ausência dos times também arrebatou a rubro-negra Silvia França. Desde que começou a estagiar, em 2018, a torcedora se associou ao Sport e marcava presença em quase todos os jogos na Ilha do Retiro. Uma semana longe do estádio só se o Leão estivesse com sequência de jogos fora. Quase um talismã. "A saudade está imensa, mas de tudo que a gente sente falta, futebol é entretenimento e é uma das ultimas coisas que a gente vai poder voltar a normalidade", comentou.

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"Vai, saudade, diz pra ela / Diz pra ela aparecer." Então, para ocupar a lacuna deixada pela "coisa mais importante dentre as coisas menos importantes das nossas vidas" os três torcedores se utilizam das redes sociais e consomem material em diversas plataformas, sejam lives ou notícias. Ou recordações. "Publico #TBT (throwback Thuersday, em inglês - quinta-feira da nostalgia) com a camisa do Náutico, com saudade eesperança de que tudo isso passe logo", disse Fabiane.

Para ajudar o Santa Cruz e manter o time por perto, Carlos adquiriu material da Cobra Coral, marca própria do clube, e comprou o ingresso simbólico para reviver a inauguração do estádio do Arruda. Outros aliados na aproximação do tricolor são os jogadores Danny Morais e Pipico, que compartilham a rotina por lives, além da TV Coral. "Uma distração nova, por assim dizer, é o time de e-sports da Cobra Coral com as partidas de futebol online", lembrou ainda Carlos.

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Afastando um pouco a solidão desta arquibancada de um torcedor só, Silvia interage com os amigos rubro-negros. Juntos, comentam notícias e fazem seus próprios desafios, como montar rankings, por exemplo, de jogadores. Ela chegou, inclusive, a imprimir um dos desenhos para colorir publicados pelo clube na internet, para se desestressar. "Acompanho muito no Twitter o que os social media estão fazendo. A comunicação do Sport é boa no Twitter e na quarentena tem sido ainda melhor. As dicas que dão", elogiou.

E ela, diferente dos torcedores os rivais, tem pelo menos uma coisa para manter o foco no clube: a nova camisa, a ser lançada pelo Sport. A sensação é estranha, por não poder ver o lançamento presencialmente e, com toda a superstição, escolher o dia para estrear o novo manto. "Deixando todo mundo curioso, falando, especulando, 'pode ser parecida com time x ou y'. Vai gerando assunto e as pessoas vão falando cada vez mais da camisa. Isso não só aproxima a gente do clube, mas também entre os torcedores", completou a rubro-negra.

Mas, por enquanto, é a saudade que fica, mesmo dizendo a ela, ou a Náutico, Sport e Santa Cruz, para aparecer. Nada substitui os Aflitos, o Arruda ou a Ilha do Retiro, com o grito de gol e a companhia dos amigos."O Arruda que, por muitas vezes, foi o local para nos distrair em meio a momentos difíceis é, hoje, um grande sinal de empatia. Não estar na arquibancada é cuidar de todos. Isso tudo vai passar, independente do tempo que leve, e voltaremos mais fortes, mais humanos e, ainda mais, torcedores do Santa Cruz", concluiu Carlos Lopes. Algo que, com certeza, serve também para os rivais.

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