Por João Victor Amorim e Robert Sarmento
Uma das principais revelações do Santa Cruz nesta temporada, o volante André é hoje titular absoluto do meio de campo tricolor. Os corais entram em campo neste sábado (19) contra o Manaus, na Arena da Amazônia, às 19h, pela sétima rodada da Série C do Campeonato Brasileiro. O time pernambucano lidera o Grupo A com 13 pontos.
Antes do confronto, André concedeu uma entrevista exclusiva ao repórter da Rádio Jornal João Victor Amorim. Em um bate-papo bem aberto, o jogador falou da sua carreira e dos tempos difíceis quando morava em uma favela em São Paulo. Ele conseguiu o primeiro contrato profissional assinado aos 16 anos, quando acertou com o Garulhos/SP, passando também pelas categorias de base do Internacional. André utilizou o dinheiro que ganhou para ajudar os pais, que ainda moram em São Paulo.
A vida de André começou a mudar quando ele se destacou pelo Santa Cruz na Copa São de Paulo Futebol Júnior de 2020. As três partidas disputadas, mais os treinamento no time principal, convenceram o então treinador do clube, Itamar Schulle, que o garoto precisava de uma chance.
Tenho que ir atrás dos sustentos (da família). Me deram tudo (os pais), mesmo quando não tinham nada. Às vezes, tínhamos que dividir para quatro pessoas e meus pais trabalhavam com fome para a gente ter o alimento no outro dia. Eu percebi que era o momento de amadurecer. A primeira coisa que eu fiz quando recebi o salário, o primeiro e o segundo mês, eu mandei tudo para eles.
Eu morava em uma favela em São Paulo e era um local de risco. Começou a chover bastante e o terreno foi cedendo e as casas caíram. Foi uma cena muito triste. Com 13 anos, eu subi o morro para ajudar crianças e idosos, que não conseguiam descer sozinhas, enquanto chovia e as casas caíam.
Não tem essa de glamour. Existem muitos ‘Andrés’ que desistiram, entrando na vida do crime, que eu conheci na minha comunidade, não chegaram até aqui. O que mais se encontra é bom jogador, mas que desistiu. Foram para o caminho errado. Já perdi alguns amigos assim. Felizmente, eu tive cabeça e meus pais me ajudaram muito para saber o que é vida real e não ilusão e eu pudesse viver o meu sonho (de ser jogador).
É difícil um jogador fazer corpo mole. Existem várias possibilidades e assuntos, mas sempre existe a imperfeição. Nunca querendo errar. Desde quando ingressei na carreira, nunca fiz corpo mole. Cada bola é um prato de comida. Por ser mais novo, erro um pouco e é por querer estar lá (bem na partida). Estou vivendo meu sonho e sempre procuro dar o máximo. É real e não um sonho. Tenho sempre que dar o meu máximo.
Já carreguei tijolo, fui gandula, ajudei a cuidar de criança… Eu fazia de tudo um pouco para dar o dinheiro aos meus pais comprarem um lanche, não trabalharem com fome e pagar o ônibus. Minha vida é resumido a isso: batalha, conquista e ajudar eles sempre. Toda vez que eu lembro quando foi difícil, eu pedia para ir ao mercado e ela chora porque não tinha um real. É impossível não me emocionar.