AFP
Etapa de revezamento da tocha olímpica cancelada, alerta preocupante de autoridade médica: a exatos 100 dias do início dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a pandemia de coronavírus continua ameaçando o desenvolvimento do evento, já adiado em um ano e previsto para julho e agosto.
O governador do departamento de Ehime, na ilha japonesa de Shikoku (oeste), anunciou nesta quarta-feira (14) que o revezamento da tocha não passará pela cidade de Matsuyama, sua capital, devido à "extrema pressão" que o sistema hospitalar enfrenta.
Uma semana antes, o revezamento foi considerado indesejável nas vias públicas em outro departamento, Osaka, onde finalmente aconteceu dentro de um parque fechado aos espectadores.
O novo revés, no preciso momento em que o Japão marca os 100 dias para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em 23 de julho, complica ainda mais a tarefa dos organizadores, diante das dúvidas persistentes quanto à possibilidade de realização dos Jogos em total segurança.
Poucas horas antes, o presidente da Associação Médica de Tóquio, Haruo Ozaki, afirmou que seria "difícil organizar os Jogos Olímpicos em sua forma atual, com atletas vindos de todo o mundo, se os casos de infecção continuarem aumentando".
"Gostaria muito que os organizadores apresentassem medidas concretas para evitar o aumento de infecções e pedir a cooperação de todos pelo bem dos atletas", acrescentou.
"Jogos magníficos"
Para as autoridades olímpicas, porém, a mensagem segue a mesma. A hipótese de cancelamento "não está" sobre a mesa, afirmou nesta quarta-feira o vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), John Coates. "Os Jogos de Tóquio serão a luz no fim do túnel da pandemia", disse ele a repórteres.
Os organizadores dos Jogos publicaram "manuais" listando as rígidas medidas antivírus que serão atualizadas este mês, na esperança de acalmar os temores de um público japonês ainda amplamente contrário ao evento, já adiada por um ano devido à pandemia, algo inédito em tempo de paz.
Durante uma cerimônia nada pródiga esta manhã em Tóquio, para marcar os 100 dias até o evento, a governadora da capital, Yuriko Koike, manifestou impaciência para ver "Jogos magníficos" com "todos os atletas, do Japão e do exterior, que treinaram muito".
Ao mencionar o "grande combate da humanidade contra o inimigo invisível" da pandemia, tornou público seu anseio por um acontecimento que "ficará nos corações".
Uma estátua dos mascotes de Tóquio-2020 foi inaugurada em frente à prefeitura da capital, enquanto anéis olímpicos gigantes foram simultaneamente inaugurados em uma montanha a 50 quilômetros de distância, em uma cerimônia ofuscada pela névoa.
"Proteger vidas"
O otimismo dos organizadores é corroborado por várias notícias positivas, como os programas de vacinação que estão em andamento em diversos países, com algumas equipes olímpicas já vacinadas.
O Japão não exige que os participantes dos Jogos sejam vacinados, mas o COI incentiva a vacinação e obteve doses fabricadas na China para atletas de países que não têm acesso.
No Japão, os eventos esportivos continuam, com um número limitado de espectadores, e os torcedores já seguem as regras que serão aplicadas nos Jogos, principalmente a proibição de torcida.
A decisão da Coreia do Norte de não participar dos Jogos de Tóquio devido ao vírus não teve um efeito bola de neve, já que os atletas parecem impacientes para redescobrir o cenário internacional.
No Japão, a nadadora Rikako Ikee também gerou entusiasmo, ganhando uma vaga na equipe de revezamento, apenas dois anos após ser diagnosticada com leucemia.
Entre a população, as opiniões estão divididas. "O papel do governo é proteger a vida das pessoas. Acho que as Olimpíadas deveriam ser canceladas", disse à AFP Midori Hinamoto, 65 anos, moradora da capital.
Mas para Kenzo Tanaka, 27, "neste período sombrio, qualquer notícia positiva, como uma medalha de ouro, ou algo que nos dê energia, será apreciada."