Náutico incentiva campanha antirracista e atletas negros enaltecem postura

O Alvirrubro tem uma mancha no seu passado da qual não se orgulha, por isso, busca uma forma de criar novas páginas em sua história combatendo a discriminação racial
Klisman Gama
Publicado em 22/09/2020 às 8:04
Goleiro Jefferson valorizou postura adotada pelo Náutico na campanha Foto: CAIO FALCÃO/NÁUTICO


A adesão do Náutico à campanha “Vidas Negras Importam”, através da camisa preta lançada na última sexta-feira (18) - e utilizada no primeiro tempo do jogo contra a Chapecoense, algo histórico em 119 anos do clube - repercutiu positivamente. O Timbu, no começo, pensou em utilizá-la como camisa de goleiro mas, pelo pedido da torcida, a ideia é transformá-la no terceiro padrão do clube para a atual temporada. Com todos esses pontos, o departamento de marketing afirma que o principal ponto a ser alcançado com a adesão alvirrubra é de criar essa reflexão no torcedor, na luta contra o racismo. Uma forma de escrever uma nova página na história de um clube que tem um passado preconceituoso, parte que mancha a grandeza do Náutico.

“A campanha é bastante impactante, o torcedor do Náutico vê a camisa preta e o símbolo preto e é muito estranho, e faz você criar uma reflexão do por quê disso. Mas o mais importante da campanha não é a camisa, são as ações, as mudanças de paradigma dentro do clube. Estamos vindo com o manifesto que já foi divulgado juntamente com a interpretação de todo nosso estatuto, para punição de qualquer denúncia que venha se configurar como racismo. E vão ser tratadas de forma muito ávida, com tolerância zero. Vamos criar uma campanha educativa de sinalização no estádio, toda uma cartilha de tratamento com relação ao racismo, de todas as formas possíveis (de discriminação). Tanto da questão LGBT, racismo, (preconceito) de etnia, violência contra a mulher”, explicou o vice-presidente de marketing e comunicação do Náutico, Luiz Felipe Figueirêdo.

A procura pela camisa tem sido enorme, segundo o clube. Tanto que, em quatro horas, o primeiro lote se esgotou. A pré-venda da segunda remessa foi iniciada e a torcida alvirrubra mantém o grande interesse, principalmente pela simbologia que o material carrega. Depois de conseguir a autorização do conselho deliberativo para usar o uniforme no primeiro tempo contra a Chape, o clube espera por uma reunião que deve acontecer na primeira semana de outubro para que se vote sobre a aprovação da utilização do novo padrão ao longo da temporada.

Repercussão no elenco

O Náutico é um clube com diversos jogadores negros no seu plantel, vários deles são titulares, estando entre os principais nomes do elenco. É o caso do goleiro Jefferson e do lateral-esquerdo Wilian Simões. Para eles, a atitude do clube foi louvável em adotar esse posicionamento e assumir essa luta ao lado deles. Agora, contam também com esse abraço do torcedor, para tornar em um capítulo mais marcante ainda na história do Timbu.

“Só de usarmos ela já é uma grande responsabilidade. Vivemos em um mundo em que, infelizmente, ainda nos deparamos com essas situações de preconceito e racismo e acho que o clube foi perfeito nessa campanha e com esse novo uniforme. Esperamos que a nossa torcida abrace a ideia para que possamos ter dias melhores e um mundo melhor, para que possamos andar nas ruas e nos estádios e estes tipos de palavras sejam extintas, junto com esse racismo que assombra nossa sociedade”, analisou o goleiro Jefferson.

“Creio que é muito importante. Não só o clube do Náutico, mas todos os clubes deveriam, estar fazendo essa campanha, porque é muito importante. A gente vê aí o que vem acontecendo não só no Brasil, mas no mundo todo com o racismo. Seja preto, branco, a gente é de uma origem só e não deveria haver esse preconceito, mas a gente sabe que ainda existe. Mas é muito importante e o Náutico está de parabéns por estar aderindo a essa campanha, firme por estar junto com nós negros. Mais equipes deveriam estar fazendo também para isso acabar de vez no Brasil e no mundo todo. E não só eu, mas as pessoas que também são vítimas de racismo se sentem importantes com essa atitude”, acrescentou Wilian Simões.

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