A Rússia anunciou, nessa segunda-feira (9), que a a Sputnik V, uma de suas vacinas desenvolvidas contra a covid-19, também tem "mais de 90%" de eficácia contra a doença. O anúncio foi feito horas após as farmacêuticas Pfizer e BioNTech anunciarem que seu imunizante alcançou o mesmo índice de eficácia. No entanto, para ambos os medicamentos, não foram publicados estudos que embasassem os anúncios.
"Somos responsáveis por monitorar a eficácia da vacina Sputnik V entre os cidadãos que a receberam como parte do programa de vacinação em massa", disse Oksana Drapkina, diretora de um instituto de pesquisa do Ministério da Saúde russo, em um comunicado. "Com base em nossas observações, também é superior a 90%. O aparecimento de outra vacina eficaz – esta é uma boa notícia para todos", completou.
A taxa representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado comparado com o grupo não vacinado. Também na segunda, o diretor do Instituto Gamaleya, que desenvolveu a Sputnik V, disse que espera publicar, em um "futuro próximo", os resultados preliminares dos testes da vacina. Segundo a agência de notícias estatal russa Tass, a imunização está em testes de fase 3 na Rússia e o governo espera começar a vacinação em massa até o fim de 2020.
O laboratório farmacêutico Pfizer também anunciou nesta segunda-feira que sua vacina contra a covid-19 é "90% eficaz", de acordo com a primeira análise intermediária do teste de fase 3, a última etapa antes do pedido formal de homologação. Esta eficácia de proteção ao vírus SARS-CoV-2 foi alcançada sete dias depois da segunda dose da vacina e 28 dias após a primeira, anunciou o grupo americano em um comunicado conjunto com a empresa BioNTech.
"Os primeiros resultados da fase 3 de nosso teste de vacina contra a covid-19 apresentam as provas iniciais da capacidade de nossa vacina para prevenir esta doença", afirmou o presidente da Pfizer, Albert Bourla. "Demos um passo importante e estamos mais perto de prover aos cidadãos do mundo esta vacina, tão necessária para contribuir a acabar com esta crise sanitária mundial", completou.
Em artigo publicado na revista científica Residência Pediátrica, da Sociedade Brasileira de Pediatria, o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, integrante do Comitê de Imunizações da SBP e vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe), a pediatra infectologista Renato Kfouri e a médica Amalia Almeida, residente de pediatria do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) destacam que uma vacina eficaz será crucial para controlar a pandemia e que a garantia de imunidade nos permitirá menor preocupação com o distanciamento social e todas as suas consequências socioeconômicas e emocionais.
Se o imunizante ficar pronto até o início do ano que vem, dada a velocidade das pesquisas, teremos algo inédito na história da medicina: o mais rápido desenvolvimento de vacinas. Isso será um marco, pois geralmente elas demoram cerca de 10 anos para ser liberadas.
Mas, diante dessa rápida produção, levantam-se dois pontos importantes: segurança e eficácia. É por isso que os estudos precisam ser feitos com planejamento e cautela. “Existem atualmente, no mundo, mais de 140 vacinas em desenvolvimento para o SARS-Cov-2 (novo coronavírus). Dessas, 22 já estão em fase de estudos clínicos (etapa feita com voluntários saudáveis). O Brasil, por estar com grande número de casos e possuir expertise em pesquisa clínica de vacinas, participa dos dois estudos mais avançados”, destacou Eduardo Jorge.
Ele se refere à pesquisa da Universidade de Oxford, em parceria com o laboratório AstraZeneca, da qual participam 2 mil voluntários no Rio de Janeiro e em São Paulo, e ao estudo da vacina CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês SinoVac, em parceria no Brasil com o Instituto Butantan, com a participação de 9 mil voluntários, profissionais da área de saúde, do Rio de janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Paraná e Rio Grande do Sul.
“Esta é uma vacina que utiliza a plataforma de vacinas inativadas associada a adjuvantes (neste caso, o hidróxido de alumínio)”, acrescenta o médico, confiante na possibilidade de a CoronaVac estar disponível no primeiro trimestre do ano que vem. “Estudos de fase 2 demonstraram que ela induz anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2 em mais de 90% dos avaliados. Assim, há grande expectativa de sua eficácia, que só será demonstrada com estes estudos de fase 3 (os clínicos, em humanos).”
Por mais avançados que esses estudos estejam, são inúmeros os desafios que precisam ser vencidos para a chegada da vacina. Por enquanto, sejamos “realistas esperançosos” (como nos ensinou Ariano Suassuna) e sigamos no combate à covid-19 sem deixar de lado o isolamento social, as medidas de higiene e o uso correto das máscaras. Uma grande preocupação é que, após o licenciamento destas vacinas, seja
garantida a acessibilidade aos países com maior incidência de covid-19 e que seja utilizada prioritariamente nos indivíduos com maior risco para as formas mais graves da doença", conclui Eduardo Jorge.
Resultados obtidos em testes clínicos e divulgados pelo jornal internacional Financial Times, apontam que a vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford, em parceria com a empresa farmacêutica AstraZeneca, deve gerar uma resposta robusta na imunidade entre idosos, um dos grupos de risco para a covid-19. A vacina de Oxford faz parte de um acordo com o governo federal no Brasil, num projeto que envolve a Fiocruz.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia declarado estar otimista em relação ao bom desempenho dos testes clínicos das vacinas. Em 19 de outubro, por exemplo, Soumya Swaminathan, cientista-chefe da entidade, informou ter recebido dados positivos de diferentes vacinas sobre a imunização da população idosa, mas não chegou a citar nomes.
"Algumas vacinas em desenvolvimento estão mostrando resultado muito positivos em imunização de pessoas idosas", declarou a cientista. De acordo com ela, tais dados foram obtidos pela OMS após a fase 2 de testes. "Esperamos que tenhamos vacinas que sejam eficazes para os mais idosos. É importante protege-los com vacinas", completou.
Para especialistas, o resultado positivo obtido, no entanto, deve ser celebrado com cautela, já que isso não significa, necessariamente, que a vacina será segura de fato. Tal confirmação deve acontecer apenas mediante os dados de todos os idosos que participaram dos testes clínicos, o que deve acontecer entre novembro e dezembro deste ano.
Estudos clínicos da chamda Coronavac, com 9 mil voluntários com idade entre 18 e 59 anos no país, mostram que apenas 35% tiveram reações adversas leves após a aplicação, como dor no local da aplicação ou dor de cabeça. Não houve qualquer registro de efeito colateral grave durante a testagem.
Com desenvolvimento iniciado em julho, por meio de parceria entre a biofarmacêutica Sinovac Life Science, com sede em Pequim, e o Butantan, a Coronavac é um dos imunizantes mais promissores em fase final de estudo em todo o mundo e produzida com base em tecnologia similar à de outras vacinas produzidas com sucesso pelo Butantan.
De acordo com resultados, as reações mais comuns entre os participantes do estudo após a primeira dose foram dor no local da aplicação (19%) e dor de cabeça (15%). Na segunda dose, as reações adversas mais comuns foram dor no local da aplicação (19%), dor de cabeça (10%) e fadiga (4%). Febre baixa foi registrada em apenas 0,1% dos participantes e não há nenhum relato de reação adversa grave à vacina até o momento.
O estudo no Brasil foi iniciado em 21 de julho e prevê a participação total de 13 mil voluntários, todos profissionais da saúde que atuam no atendimento a pacientes com COVID-19. Eles estão sendo acompanhados pelos 16 centros de pesquisa distribuídos por sete estados e o Distrito Federal.
Desenvolvida pela farmacêutica Janssen Pharmaceuticals, que pertence ao grupo J&J, a imunização, cujo nome oficial é Ad26.COV2.S, foi a quarta a obter autorização de testes de fase 3 no Brasil, em agosto. Em setembro, a empresa anunciou que começaria a terceira etapa em todo o mundo, com 60 mil voluntários. No Brasil, segundo a Anvisa, são 7 mil participantes.
Em 29 de setembro, resultados preliminares e parciais apontaram que a vacina era segura e induzia resposta imune mesmo após uma única aplicação.
Em sua terceira fase, está a vacina produzida pela CanSino Biological, uma das quatro testadas no Brasil. O imunizante denominado AD5-nCov começou sua prova de segurança ainda em março com um ensaio controlado com 500 participantes.
Os resultados das pesquisas, no entanto, devem ser divulgados apenas entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, segundo os cientistas.
Desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, a vacina russa Sputnik V, aparece na terceira fase de testes em humanos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, o governo russo já autorizou a produção deste imunizante em grande escala.