Em entrevista à Rádio Jornal na manhã desta quarta-feira (18), o cientista Jarbas Barbosa, vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e integrante da Organização Mundial de Saúde (OMS), comentou sobre a polêmica discussão sobre a obrigatoriedade ou não da vacinação contra a covid-19, quando um imunizante eficaz estiver pronto.
"A lei brasileira que criou o Programa Nacional de Imunização (PNI), já prevê vacina obrigatória desde 1975. A lei brasileira mais recente, sobre a própria resposta à pandemia também prevê essa possibilidade. O que eu acho estranho é essa discussão de se vacinar ou não, quando vemos uma doença que é capaz de matar pessoas em massa", afirmou o pesquisador.
Para Jarbas, que já foi secretário de Saúde em Pernambuco e Diretor Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), assim que a vacina contra o novo coronavírus estiver pronta, a imunização da população não será um assunto apenas individual, mas coletivo.
"As pessoas deveriam estar querendo tomar a vacina, porque essa vacina vai salvar vidas. Nós estamos diante de uma emergência de saúde pública dramática, a pior em séculos. O ano de 2020 vai ser lembrado no futuro como as Guerras Mundiais são lembradas. Se as pessoas optarem por não se vacinar, vai ser um problema pra elas, que vão continuar com o risco de contaminação, além de ser um risco para os outros. A decisão aí não é só individual, é coletiva."
Ainda segundo ele, em um momento de "emergência na saúde pública", acreditar, alimentar e propagar rumores e notícias falsas sobre as vacinas é um desserviço no enfrentamento à pandemia.
"As pessoas acreditarem em rumores, boatos e coisas completamente malucas sobre a vacina, e falarem até da recusa em se vacinar, é um grande problema e me parece absurdo", confessou.
Sobre o processo de liberação do imunizante, o pesquisador afirmou: "Qualquer vacina para ser utilizada tem que percorrer um caminho".
"As vacinas que são candidatas a serem realmente utilizadas precisam terminar o ensaio clínico de fase 3. No mundo, temos 11 vacinas atualmente em fase 3, e é nessa fase 3 que se comprovamos se elas são eficazes e se são seguras. É um longo caminho, eles [empresas responsáveis pelo desenvolvimento das vacinas] tem que publicar os resultados em artigos científicos, com todos os dados obtidos, para que a comunidade científica no mundo inteiro posso verificar se eles estão corretos", explicou.
Depois de apresentar as pesquisas envolvendo o medicamento, as empresas desenvolvedoras precisam contatar as Agências Reguladoras de cada país. "No caso do Brasil, é preciso apresentar à Anvisa. As Agências Reguladoras vão avaliar todos os dados referente à fabricação, e só a partir daí a vacina pode ser usada. Claro que esse processo de avaliação, numa emergência de saúde pública, pode e deve ser feito de uma maneira mais rápida, mas sem comprometer a qualidade, a segurança e a eficácia da vacina."
Questionado sobre os resultados obtidos na Fase 3 de testes da vacina experimental desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech, que registrou 95% de eficácia nos resultados finais, se mostrando segura, Jarbas afirmou que, apesar da resposta positiva, os resultados ainda são preliminares, e o principal medicamento contra a covid-19, por enquanto, ainda é o respeito aos protocolos de segurança e prevenção.
"É uma boa notícia, mas primeiro vamos confirmar as boas notícias. E mesmo após confirma-las, essas boas notícias não significam que as pessoas já podem relaxar as medidas de proteção porque a vacina vai se encontrar amanhã no posto de saúde. Não, ainda vai levar todo um período, inclusive pra própria empresa fabricar a vacina", finalizou.