2020, um dos anos mais quentes desde o início dos registros

Desde janeiro, a temperatura média da Terra foi cerca de 1,2ºC superior ao período de referência 1850-1900, alertou a ONU
AFP
Publicado em 02/12/2020 às 12:15
FLANCO Embora tenham votado em Bolsonaro, evangélicos discordam da agenda de devastação ambiental Foto: JOÃO LAET/AFP


O ano de 2020 será, sem dúvida, um dos três mais quentes desde que há registros já que, desde janeiro, a temperatura média da Terra foi cerca de 1,2ºC superior ao período de referência 1850-1900 - alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira (2).

Com temperaturas batendo recordes todos os anos, a década de 2011-2020 será a mais quente já vista e, os últimos seis anos, desde 2015, os mais quentes já registrados, de acordo com o relatório climático anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

"2020 foi, infelizmente, outro ano preocupante para o clima", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

A avaliação da OMM é baseada em cinco tipos de dados que atualmente classificam 2020 como o segundo ano com as temperaturas mais altas, atrás de 2016 e à frente de 2019. As diferenças de temperatura entre esses três anos são, no entanto, mínimas e a classificação pode mudar assim que os dados completos para 2020 estiverem disponíveis.

"Os recordes de calor tendem a coincidir com anos de fortes episódios de El Niño, como ocorreu em 2016. Já La Niña tende a esfriar as temperaturas globais, mas o significativo fenômeno La Niña deste ano não serviu para desacelerar o aquecimento", comentou Taalas. E, acrescentou, "apesar do La Niña, este ano aponta para um recorde, como em 2016".

Além disso, há uma probabilidade em cinco de que entre agora e 2024 o aumento da temperatura se situe temporariamente acima da barreira fatal de 1,5ºC em comparação com a era pré-industrial definida pelo Acordo de Paris.

Calor extremo, incêndios, inundações, acidificação dos oceanos, ou a temporada recorde de furacões no Atlântico são sinais de que as mudanças climáticas continuam inexoravelmente neste ano, "aumentando a instabilidade que a pandemia da covid-19 causa sobre a economia, saúde e segurança global", alerta a OMM.

O aumento de temperatura mais severo ocorreu no Norte da Ásia, especificamente no Ártico Siberiano, onde as temperaturas foram 5ºC mais altas do que a média.

Assim, em 20 de junho, um recorde de 38ºC foi registrado em Verkhoyansk, o que o situa provisoriamente na maior alta registrada ao norte do círculo polar ártico.

A temporada de incêndios, que afetou grandes áreas de Austrália, Sibéria, costa Sul e Oeste dos Estados Unidos e América do Sul, foi a mais violenta dos últimos 18 anos.

"As inundações em algumas regiões da África e do Sudeste Asiático causaram deslocamentos massivos de populações e aumentaram o risco de fome para milhões de pessoas", disse Taalas.

Somando-se às más notícias, o manto de gelo do mar Ártico atingiu seu nível mais baixo em setembro, o segundo menos extenso em 42 anos de observações por satélite.

A extensão do gelo marinho da Antártica em 2020 foi semelhante, ou um pouco maior do que a média dos últimos 42 anos, enquanto a Groenlândia continuou a perder massa, mas a uma taxa mais lenta do que em 2019.

Quanto aos oceanos, que armazenam 90% do excedente de energia acumulado no sistema climático, devido ao aumento da concentração de gases causadores do efeito estufa, o relatório aponta que, nos últimos anos, o calor tem sido absorvido cada vez mais rápido.

Ameaça para monumentos naturais do planeta

Um terço dos 252 espaços naturais incluídos na lista do patrimônio mundial da Unesco está ameaçado pelas mudanças climáticas - alerta um novo relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

No total, 94 monumentos naturais, 32 a mais que no último relatório apresentado pela UICN em 2017, estão em risco significativo, ou crítico, devido a fatores como turismo, caça, incêndios, ou poluição das águas.

Segundo a UICN, órgão que reúne mais de 1.400 organizações e governos, as espécies invasoras e exógenas não são mais a maior ameaça a esses sítios naturais excepcionais, mas as mudanças climáticas.

Um dos locais que acaba de entrar na lista é a Grande Barreira de Corais da Austrália, a maior estrutura do planeta criada por organismos vivos, que está em risco de acidificação e aquecimento dos oceanos.

O relatório também inclui várias áreas protegidas do Golfo da Califórnia, no México.

Cerca de 7% desses espaços estão em situação crítica, ou seja, "requerem medidas adicionais urgentes e de conservação em larga escala" para serem preservados, e um terço do total está em risco significativo.

As mudanças climáticas representam uma ameaça elevada, ou muito elevada, para 83 desses monumentos naturais.

Segundo o diretor-geral da UICN, Bruno Oberlé, o relatório "revela as transformações causadas pelas mudanças climáticas nessas áreas naturais protegidas, desde o degelo de geleiras, ou branqueamento de corais, a incêndios e secas que estão-se tornando mais frequentes e sérios".

Por exemplo, as chamas que atualmente devastam a Ilha Fraser, na Austrália, inscrita no Patrimônio Mundial.

O relatório também lamenta que o Pantanal brasileiro tenha sido severamente afetado por incêndios sem precedentes entre 2019 e 2020.

"O documento enfatiza o quão urgente é encontrar uma solução conjunta e abrangente para os desafios ambientais do planeta", acrescenta Oberlé.

O relatório também aborda o exemplo dado pela pandemia da covid-19, que mostrou a necessidade de a comunidade internacional "permanecer unida e trabalhar para o bem comum".

As investigações do relatório da UICN começaram antes da pandemia da covid-19 (que afeta todo planeta de forma mais ou menos intensa), mas a organização incluiu uma análise sistemática do efeito da crise sanitária em áreas naturais protegidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

A UICN considera que a pandemia e as restrições que a acompanham tiveram um impacto positivo, ou negativo, em 50 deles.

Entre os aspectos positivos, "o mais notável é a diminuição da pressão dos turistas sobre esses ecossistemas naturais", explica a entidade. Mas "os aspectos negativos são inúmeros", ressalta a UICN.

As restrições de viagens ocasionaram uma queda significativa na receita desses locais, e as medidas de prevenção de contágio afetaram o pessoal encarregado de fiscalizá-los, o que deixou a porta aberta para o desenvolvimento de atividades ilegais.

"Esses fatores aumentam o risco de caça ilegal de espécies silvestres e o uso ilegal de recursos naturais", explica o relatório.

Apesar de todas as ameaças enfrentadas por esses monumentos naturais, a UICN também destaca que oito desses locais melhoraram seu estado de conservação desde seu relatório de 2017.

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