A autoridade americana de aviação civil prometeu nesta terça-feira (23) agir rapidamente para determinar as causas do incidente ocorrido no sábado (20) com um Boeing 777 da companhia aérea United Airlines, que poderia ter sido causado por "fadiga do metal" das hélices do motor.
"Queremos entender o que aconteceu e tomar as medidas necessárias para evitar que um evento similar se repita no futuro", disse o chefe da Administração Federal de Aviação (FAA), Steve Dickson, durante uma coletiva de imprensa.
"Trabalhamos nisso sem descanso desde o sábado à tarde e estou convencido de que conseguiremos", acrescentou.
Segundo as primeiras conclusões do conselho nacional da segurança nos transportes dos Estados Unidos, NTSB, os danos observados no avião da United Airlines são "compatíveis com uma fadiga do metal" das hélices do motor fabricado pela Pratt & Whitney.
Esse fenômeno físico se deve ao uso do material por muito tempo, o que pode provocar fissuras e inclusive uma ruptura em sua estrutura.
O Boeing 777 envolvido no incidente tinha acabado de decolar no sábado de Denver, no Colorado, com destino a Honolulu, no Havaí. Levava 231 passageiros e 10 tripulantes quando seu motor direito se incendiou, forçando os pilotos a retornarem imediatamente ao aeroporto de partida.
Ninguém se feriu e a aeronave pôde aterrissar sem problemas.
Inspeções mais rigorosas
Mesmo antes do incidente com a United Airlines, a FAA já avaliava fazer inspeções mais rigorosas nos Boeing 777 com motor Pratt & Whitney, após um problema similar ocorrido em dezembro de 2020 no Japão, informou nesta terça um porta-voz da agência reguladora.
A FAA também tinha pedido para revisar com frequência estes motores após um incidente em um voo da United Airlines entre San Francisco e Honolulu em 13 de fevereiro de 2018.
A agência, que determinou na noite de domingo inspeções adicionais nos Boeing 777 com motores Pratt & Whitney, publicará uma nova diretriz de navegabilidade quando seus especialistas tiverem terminado de examinar os dados disponíveis sobre o voo de sábado.
A partir do ocorrido no sábado, os 777 equipados com motores Pratt & Whitney no mundo ficaram em solo: os 69 em serviço e os 59 reservas.
A fabricante americana de motores declarou que vai cooperar com a NTSB e "continuará trabalhando para garantir o funcionamento seguro da frota".
Nova provação para a Boeing
O incidente representa um novo revés para a Boeing, que acaba de se recuperar da crise do 737 MAX, seu avião vedete, que ficou em terra em maio de 2019 após dois acidentes que deixaram 346 mortos.
Depois de quase dois anos de proibição, uma modificação do software de controle de voo e a implementação de novos protocolos de treinamento dos pilotos, o 737 MAX recebeu a autorização para voltar a voar.
Mas os problemas se multiplicam para a fabricante americana de aeronaves.
As autoridades holandesas reabriram uma investigação após a queda de restos de um avião de carga Boeing 747-400 no sábado, que deixou dois feridos no sul da Holanda.
E um Boeing 757 da Delta teve que fazer um pouso de emergência na segunda-feira em Salt Lake City, no oeste dos Estados Unidos, "por precaução, depois que um indicador alertou para um possível problema em um dos seus motores", informou a empresa.
A Boeing também foi duramente afetada, assim como sua concorrente europeia, a Airbus, pela pandemia de covid-19 e suas desastrosas consequências para o transporte aéreo internacional.
Vários especialistas acreditam, no entanto, que o incidente do sábado com o 777 nos Estados Unidos é mais um problema de manutenção ou do motor do que do design da aeronave por parte da Boeing.
O problema atual "não tem nada a ver" com a crise do Boeing 737 MAX, avaliou Richard Aboulafia, analista do Teal Group, especialista em aeronáutica.
"Depois de todos estes anos de serviço, é pouco provável que se trate de um problema de design do motor", disse. "Definitivamente, tem a ver com a manutenção".