A Justiça boliviana ordenou nesta sexta-feira que seja transferida para uma clínica a ex-presidente Jeanine Áñez, que apresentou problemas de saúde após ser presa por suposto golpe de Estado contra o ex-presidente Evo Morales. A família de Jeanine, no entanto, denunciou que o governo não cumpre a ordem.
Três juízes de La Paz, liderados por Gonzalo Montaño, decidiram em audiência durante a tarde pela "saída judicial" da ex-chefe de Estado até uma clínica, "para a sua correspondente avaliação médica por especialistas em cardiologia e a realização de exames laboratoriais, a fim de zelar por sua vida e saúde". Também determinaram que a transferência fosse feita "com escolta e outras medidas de segurança", a cargo da direção governamental de Regime Penitenciário.
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À noite, no entanto, Carolina Ribera, filha de Jeanine, denunciou que o governo não cumpre a decisão judicial e quer apenas que médicos do Instituto de Investigações Forenses (Idif) examinem sua mãe dentro da prisão. "Minha mãe não saiu até agora e continua lá dentro sem atendimento médico. É negada a nós qualquer assistência."
Mais cedo, os três juízes se pronunciaram, após um recurso apresentado por Carolina e pela defesa de Jeanine para que esta última fosse levada até um centro de saúde a fim de tratar uma "hipertensão arterial sistêmica". A ex-presidente acompanhou momentaneamente a audiência do presídio feminino de La Paz, ao sul da cidade, mediante um dispositivo telefônico. "Estou com oxigênio", disse. Depois, tentou intervir, mas suas palavras saíram entrecortadas, e o juiz pediu que ela vitasse falar, para não agravar seu estado de saúde.
Jeanine deu entrada no presídio feminino da cidade de La Paz no domingo, depois de ter sido detida na véspera na cidade de Trinidad, capital do departamento amazônico de Beni (nordeste), em uma operação policial. Horas antes, seus ex-ministros da Justiça e Energia também foram presos.
O nome de Jeanine Áñez, que deixou o poder em novembro de 2020, aparece em uma denúncia por revolta, terrorismo e conspiração que a ex-deputada do Movimento ao Socialismo (MAS) Lidia Patty, fez em dezembro contra o líder cívico da rica região de Santa Cruz, o direitista Luis Fernando Camacho, eleito governador daquele departamento nas eleições locais recentes. Há outros três ex-ministros com mandado de prisão, ex-chefes militares, ex-chefes de polícia e outros civis.
A denúncia se refere aos fatos que levaram à renúncia de Morales à presidência em novembro de 2019, após 14 anos no poder, ocorrida em meio a violentos protestos promovidos por opositores, que denunciaram que o então presidente havia cometido fraude nas eleições do mês anterior, quando ansiava por um quarto mandato de cinco anos, até 2025.
O presidente boliviano, Luis Arce, afilhado político de Morales, negou as acusações opositoras de que a situação é movida por uma sede de vingança e ódio contra seus adversários políticos. Durante uma reunião pública de mulheres camponesas, alinhadas ao governo, disse: "O ódio não nos move, a vingança não nos move, (...) O que nos move é o afã inquebrantável de justiça no país".
O governo nega desde o fim de semana passado que esteja manipulando procuradores e juízes para apresentar a denúncia da ex-parlamentar Patty e insiste em que deseja que os fatos ocorridos no fim de 2019 sejam esclarecidos. Também insiste em que a saída de Morales do governo fez parte de um complô da direita.