MANIFESTAÇÃO

No dia da independência do Afeganistão, afegãos desafiam o Talibã

Grupos de afegãos desafiaram o Talibã, levantando bandeiras nacionais, enquanto o filho do comandante Ahmed Massud, que lutou contra os extremistas há duas décadas, chamou à resistência e pediu armas aos EUA

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AFP

Publicado em 20/08/2021 às 0:23 | Atualizado em 20/08/2021 às 1:41
Grupo com bandeiras do Afeganistão em Cabul - HOSHANG HASHIMI / AFP

Grupos de afegãos desafiaram o Talibã nesta quinta-feira (19), levantando bandeiras nacionais no Dia da Independência do país, enquanto o filho do lendário comandante Ahmed Massud, que lutou contra os extremistas há duas décadas, chamou à resistência e pediu armas aos Estados Unidos.

Milhares de pessoas permaneciam bloqueadas em Cabul, nesta quinta-feira (19), em sua tentativa de deixar o país.

Enquanto isso, aviões de todo o mundo pousavam constantemente, tentando resgatar o maior número de pessoas possível.

Pequenos grupos de afegãos tomaram as ruas de Cabul e outras cidades, como Asadabad (leste), com a bandeira tricolor do país, enquanto prédios oficiais e carros das patrulhas do Talibã exibiam a bandeira branca com um slogan islâmico.

Perto de Wazir Akbar Khan, nos arredores da capital, os manifestantes encontraram um veículo dos talibãs. O carro diminuiu a velocidade, mas depois partiu, ignorando os que estavam reunidos.

Mas o medo aumento a cada dia que passa no Afeganistão, onde o Talibã reconquistou o poder em poucas semanas e quase sem luta. No domingo, o movimento tomou a capital.

Os talibãs estão intensificando sua busca por pessoas que trabalharam com as forças dos EUA e da Otan, de acordo com um documento confidencial das Nações Unidas, que alerta para a possibilidade de "tortura e execuções", apesar de combatentes prometerem não se vingar.

Os novos "líderes" do Afeganistão têm "listas de prioridades" de pessoas que desejam prender.

Os fundamentalistas islâmicos, que oficialmente chamam seu país de "Emirado", divulgaram um comunicado celebrando o fato de o Afeganistão "estar prestes a reconquistar sua independência" dos Estados Unidos.

No entanto, os afegãos recordam o regime talibã precedente (1996-2001), marcado por violações dos direitos humanos.

Os que desejam fugir perambulam desesperançosos entre o aeroporto e as embaixadas ocidentais. Os acessos aos locais vitais para a fuga estão vigiados e tiroteios e distúrbios já foram registrados.

"Conversei com um amigo que está lá (no aeroporto). Ele tem uma carta dos espanhóis que garante que pode sair com eles, mas quando tenta entrar é ameaçado com tiros", contou à AFP um homem que pediu para não ser identificado.

"Os espanhóis disseram que, se ele conseguir entrar, tudo vai ficar bem, mas ele não consegue", completou.

Resistência em Panshir 

Os talibãs constituem aos poucos suas autoridades políticas, após a chegada do exílio do cofundador deste movimento, mulá Abdul Ghani Baradar. Ao lado de outros dirigentes do grupo, ele se reuniu com o ex-presidente afegão Hamid Karzai.

Em paralelo, a resistência se organiza no isolado vale do Panshir, liderada pelo vice-presidente Amrullah Saleh e pelo filho do comandante Masud, o emblemático líder antitalibã assassinado nos anos 1990, afirmou o ministro russo das relações Exteriores, Serguei Lavrov.

"Os talibãs não controlam todo Afeganistão. Há informações que chegam de Panshir", ao nordeste de Cabul, "onde se concentram as forças da resistência do vice-presidente Saleh e de Ahmad Masud", disse Lavrov.

"Os Estados Unidos ainda podem ser um grande arsenal da democracia", ao apoiar seus combatentes com armas, afirmou Ahmad Masud, em um artigo publicado no jornal The Washington Post.

Há mais de 20 anos, seu pai, o lendário comandante Ahmed Shah Masud, também liderou a resistência aos talibãs.

Na época, os islamitas afegãos abrigavam de maneira aberta a Al-Qaeda, rede que executou um atentado mortal contra Masud para ajudar os talibãs a se estabelecerem no poder.

Dois dias depois, em 11 de setembro de 2001, aconteceram os ataques da Al-Qaeda nos Estados Unidos.

Afegãos bloqueados 

O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 militares para garantir a segurança do aeroporto de Cabul e retirar os 30.000 americanos e civis afegãos que trabalharam para Washington. Até o momento, pouco mais de 7.000 pessoas deixaram o país.

Reino Unido, França, Itália e Espanha, entre outros países, também organizam operações de retirada.

Embora os talibãs liberem a passagem das pessoas com passaporte americano, "estão impedindo a chegada ao aeroporto dos afegãos que desejam sair do país", afirmou a subsecretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman.

Durante a semana, o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, prometeu que o novo regime será "positivamente diferente" do que governou o país entre 1996 e 2001.

Apesar das promessas, a vitória dos talibãs gerou grande preocupação na população.

Muitos cartazes publicitários com rostos de mulheres foram vandalizados, ou desapareceram das ruas de Cabul.

Um jornalista de televisão, Shabnam Dawran, garantiu que ela não pode mais trabalhar em sua emissora.

Usando um hijab e mostrando sua carteira de jornalista, a âncora disse: "nossas vidas estão ameaçadas", em um vídeo divulgado nas redes sociais.

 Pedido do G7 

Os ministros do G7 pediram aos talibãs que garantam a passagem livre para estrangeiros e afegãos que quiserem partir.

O G7 afirmou que continua sua tentativa de “garantir uma solução política inclusiva” no país, após duas décadas de uma ocupação militar que não conseguiu estabilizar a situação.

Países como Rússia, China e Turquia se mostraram dispostos a dialogar com os islâmicos.

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