Centenas de migrantes estão bloqueados na fronteira entre Belarus e Polônia, às portas da União Europeia (UE), situação que gerou tensão nesta terça-feira (9) entre os dois países e respingou na Rússia, que, segundo autoridades de Varsóvia, orquestra a crise.
Mais de 3 mil migrantes, principalmente curdos, estão concentrados na fronteira, perto do povoado polonês de Kuznica, e aguardam em um acampamento improvisado, sob um frio intenso. Em frente a eles, um dispositivo militar mobilizado por Varsóvia impede a sua passagem.
O primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, acusou hoje o presidente russo, Vladimir Putin, de orquestrar o movimento de migrantes que tentam entrar ilegalmente na União Europeia (UE) a partir de Belarus. O presidente bielorrusso, Alexander "Lukashenko, é o executor desse ataque, mas ele é organizado em Moscou, e quem o está orquestrando é o presidente Putin", disse o chefe de governo polonês no Parlamento de seu país.
"Os migrantes do Oriente Médio são levados para Belarus de avião e servem como escudos humanos para desestabilizar a situação na Polônia e na UE. Defender as fronteiras da Polônia é defender a fronteira leste da Otan e da UE", apontou Morawiecki.
Há semanas, a UE acusa o presidente bielorrusso de orquestrar a crise, em retaliação a sanções ocidentais que entraram em vigor após a sua reeleição polêmica em 2020. Sua permanência no poder gerou grandes manifestações nas ruas de Minsk e uma dura repressão por parte das autoridades.
"Isso mostra a falta de humanidade e a verdadeira forma de agir, como um criminoso, do regime Lukashenko", declarou o porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano.
- Sem se ajoelhar -
Belarus, por sua vez, reprova a Polônia, que desrespeita suas obrigações humanitárias ao se negar a receber os migrantes.
Lukashenko discutiu a situação com Putin em conversa telefônica e afirmou que seu país não irá se ajoelhar diante da UE. "Não queremos briga. Não estou louco, entendo perfeitamente onde tudo isto pode levar. Sabemos bem qual é o nosso lugar, mas tampouco ficaremos de joelhos", disse Lukashenko, de acordo com trechos da conversa divulgados pela agência estatal Belta.
Em Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, lamentou "as aventuras" ocidentais no Oriente Médio que levam as pessoas a fugir de casa, e pediu uma posição única sobre os migrantes que chegam à Europa. "Por que, no que diz respeito aos refugiados que vêm da Turquia para a UE, a UE concede fundos para mantê-los em território turco?", questionou. "Por que os bielorrussos não podem ser ajudados da mesma maneira?"
De acordo com guardas de fronteira bielorrussos, os migrantes estão em uma condição física e psicológica "extremamente ruim" e precisam de comida e água. Além disso, eles acusam as forças polonesas de usarem gás lacrimogêneo e exercerem "pressão psicológica" sobre os migrantes "com o uso de alto-falantes, holofotes e luzes estroboscópicas a noite toda". "Tiros também foram ouvidos", afirmaram.
Jornalistas não têm acesso ao local e imagens divulgadas por autoridades dos dois países mostram centenas de homens, mulheres e crianças em barracas de campanha ou no chão, fazendo fogueiras para se esquentar.
A Lituânia, também vizinha de Belarus, votou nesta terça-feira o estado de emergência na fronteira, por medo de que os migrantes bloqueados às portas da Polônia tentem outra forma de entrar na Europa. O país já registra um aumento no fluxo de migrantes que desejam cruzar a fronteira clandestinamente a partir de Belarus.
- Novas sanções -
A mobilização de tropas na fronteira polonesa agravou a tensão. O Ministério da Defesa de Belarus acusou a Polônia de deslocar 10.000 militares para a fronteira sem aviso prévio, o que foi classificado como uma violação dos acordos de segurança mútua.
"Queremos advertir de antemão à parte polonesa que evite qualquer provocação direcionada à República de Belarus para justificar o uso ilegal da força contra pessoas indefesas e desarmadas, incluindo crianças e mulheres", afirmou o Ministério das Relações Exteriores de Belarus em um comunicado.
A UE pediu novas sanções contra Lukashenko, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, viajará a Varsóvia nesta quarta-feira para conversar sobre "essa crise nas fronteiras da UE".
Alguns migrantes que chegaram à Polônia contaram à AFP que estavam há uma semana bloqueados nas florestas fronteiriças. Belarus os impede de retornar a Minsk e, depois, à sua terra de origem, e a Polônia não os deixa entrar.
"A situação é agravada pela presença de mulheres grávidas e crianças muito pequenas entre o grupo de migrantes, que passam a noite no chão com esse frio", declararam guardas de fronteira bielorrussos.