Estados Unidos e China anunciaram nesta quarta-feira (10) um acordo conjunto para reforçar a luta contra as mudanças climáticas na próxima década, uma decisão tomada em meio às negociações na COP26, em Glasgow.
O anúncio, inesperado, foi feito logo após o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pedir um "impulso decisivo", após um esboço de princípios que não despertou entusiasmo.
O acordo sino-americano assegura que os dois países, que são os principais emissores de gases do efeito estufa (cerca de 40% do mundo), estão dispostos a liderar juntos, apesar de suas divergências profundas em outras áreas.
"Ambas as partes reconhecem que há uma lacuna entre os esforços atuais e os objetivos do Acordo de Paris, por isso vamos reforçar em conjunto a ação climática", disse o funcionário em entrevista coletiva durante a conferência sobre mudança climática.
Pouco depois, o enviado especial dos Estados Unidos, John Kerry, tomou a palavra, saudando um "roteiro" que visa a definir "como iremos limitar o aquecimento e trabalhar juntos". Em particular, o documento menciona uma redução significativa nas emissões de metano, um gás de efeito estufa até 80 vezes mais poderoso que o CO2.
Na semana passada, no entanto, a COP26 testemunhou o anúncio de uma aliança de mais de 100 países para cortar essas emissões em 30% até 2030. Os Estados Unidos assinaram a promessa, a China, não. O enviado especial chinês não mencionou em entrevista coletiva nesta quarta-feira que seu governo havia reconsiderado essa posição.
'Colaboração e solidariedade'
Após o anúncio, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, elogiou o "acordo de hoje entre a China e os Estados Unidos para trabalhar juntos para tomar medidas climáticas mais ambiciosas durante esta década". Ele enfatizou no Twitter que enfrentar a "crise climática requer colaboração e solidariedade internacional".
Oficialmente, as negociações da COP26 terminam nesta sexta-feira, mas as conferências climáticas da ONU, onde qualquer decisão deve ser tomada por consenso, costumam se prolongar.
A cada anúncio ou aliança de países nos últimos 11 dias de conferência, chegam, pouco depois, críticas de ONGs, e o que é mais preocupante, cálculos de especialistas, que alertam para a catástrofe que se avizinha.
No rascunho da conferência divulgado nesta quarta-feira, os países reconhecem que que devem ser revisadas as metas de redução de emissões no fim de 2022, três anos antes do previsto. Por meio de um mecanismo estabelecido em 2015, os países devem revisar suas metas a cada cinco anos, da próxima vez em 2025.
Limitar o aquecimento a +1,5°C no fim deste século em relação à era pré-industrial "requer uma ação significativa e eficaz por parte de todas as partes nesta década crítica", aponta o texto.
As emissões de gases do efeito estufa desde a Revolução Industrial já provocaram um aumento da temperatura de +1,1 °C e suas caóticas consequências, incluindo secas, inundações e o aumento do nível do mar, devem ser agravadas e provocar o surgimento de milhões de refugiados climáticos, alertam os especialistas.
Os compromissos até 2030 com o qual os países chegaram a Glasgow deixavam a Terra no rumo de um aquecimento de +2,7 °C, ou, na melhor das hipóteses, de +2,2 °C, segundo os cálculos.
Em uma menção explícita e sem precedentes em conferências climáticas anteriores, o texto também pede aos países que "acelerem a eliminação do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis", incluídos os hidrocarbonetos.
"Não menciona o abandono do petróleo e do gás, mas continua sendo um passo adiante, embora haja muito poucas possibilidades de que isso não se mantenha no texto final", considerou Lola Vallejo, diretora do programa climático do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (IDDRI) de Paris.
Mas para Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace International, este rascunho só "é um acordo para que todos cruzem os dedos e esperem o melhor". "É um pedido educado para que os países talvez, possivelmente, façam mais no próximo ano", afirmou.