O povoado de Curah Kobokan, o mais próximo do vulcão Semeru, na Indonésia, se transformou em um vilarejo fantasma coberto de cinzas esfumaçadas, três dias depois da erupção.
A paisagem está tomada pela fuligem do vulcão, desde o interior das casas destruídas até as árvores vencidas pelo peso das cinzas. Muitos de seus habitantes, trabalhadores das minas de areia próximas, não puderam escapar da explosão. No total, as equipes de resgate calculam 34 mortes e 17 pessoas desaparecidas na região.
Curah Kobokan fica a cerca de 20 quilômetros da cratera do vulcão e está completamente abandonada. Apenas estão presentes alguns socorristas com suas ferramentas e cães, à procura de sobreviventes ou de corpos.
O monte Semeru é o mais alto da ilha de Java. No sábado (4), quando entrou em erupção, a cinza vulcânica caiu sobre o povoado, e a quantidade foi tamanha que os telhados das casas mais humildes não suportaram o seu peso. Apenas algumas construções permaneceram de pé.
"A casa da minha família em Curah Kobokan foi destruída", explica Marzuki Suganda, morador de outro vilarejo que trabalha na extração de areia.
"Estou traumatizado. Preguntei à minha família se teriam coragem de voltar a Curah Kobokan e eles me disseram que não, que prefeririam dormir embaixo de uma árvore", disse.
Na sala de uma casa, as cinzas estão por toda a parte, inclusive na mesa de centro e no sofá. Sobre cada móvel há pedaços do telhado. Nas ruas cobertas de lama e cinzas, os socorristas continuam o seu trabalho, casa por casa, com cuidado para não pisar nas áreas mais frágeis.
'Não temos outra escolha'
O povoado era o lar de cerca de 50 famílias antes da erupção, a maioria trabalhadores das minas de areia que ficam na base do vulcão.
Apesar de ser permitida a extração de areia nos depósitos vulcânicos da região, os trabalhadores da região vivem sob a ameaça constante de uma erupção. A última tinha acontecido em 2020, e não deixou vítimas.
"É um dilema [...], mas trabalhar na extração de areia nos garante uma renda estável", explica Siyadi, que assim como muitos indonésios, não tem sobrenome.
O presidente do país, Joko Widodo, anunciou nesta terça-feira (7), no local, que 2.000 lares poderiam ser realocados após a erupção, que deixou milhares de desalojados.
No entanto, para os que trabalham com a extração de areia, mudar de vida parece ser impossível.
"Se o governo fechar as minas, o que vamos fazer? Eles vão nos oferecer outro trabalho?", se pregunta Siyadi.
"Não temos outra escolha ou solução", afirma.
Contudo, nem todos pensam como ele. Para Marzuki Suganda, a última erupção foi um ultimato.
"Vou pensar mil vezes antes de voltar a trabalhar nas minas", confessa o homem de trinta e poucos anos, convencido de que "este lugar vai se transformar em um vilarejo fantasma".
"Ninguém pode voltar [...] é muito perigoso viver aqui", sentencia.
Para Marsuki, o líder de um povoado vizinho na localidade de Sumberwuluh, jamais será possível saber quantos trabalhadores morreram sob as cinzas da erupção porque a maioria deles vinha de outros lugares e trabalhava ilegalmente.
"Os considerados desaparecidos são, sobretudo, locais", afirma.