Após o início do ataque russo sobre o território ucraniano, o país já se prepara para uma possível escassez de itens básicos como combustíveis e comidas. As cadeias de lojas na Ucrânia têm um estoque de alimentos para 15 a 20 dias, mas há escassez de combustível nos postos de gasolina, disse Mikhail Podolyak, assessor do chefe do gabinete do presidente da Ucrânia, segundo a agência russa AIF.
Os sistemas bancários e de energia funcionam normalmente no país ucraniano, mas, de acordo com a agência, alguns bancos já introduziram o limite de UAH 100.000 (o equivalente a R$ 17,02) para os saques.
CRISE ENERGÉTICA NA EUROPA
A Europa tem o gás e o petróleo dos países del Golfo na mira como alternativa aos combustíveis russos após a escalada militar de Moscou na Ucrânia, mas embora seja uma opção atrativa, não é simples nem segura.
O início das operações militares russas na Ucrânia levou o preço do barril de petróleo a superar 100 dólares pela primeira vez em mais de sete anos.
A União Europeia (UE) depende em 40% do gás russo e importa da Rússia 2,3 milhões de barris diários de petróleo.
Isto obriga a UE a olhar para a Arábia Saudita, que tem petróleo de sobra, e o Catar, que tem importantes reservas de gás.
Parceiros dos Estados Unidos e da UE, a Arábia Saudita e o Catar "enfrentam uma demanda significativa por suas exportações" de combustíveis, explica à AFP Karen Young, diretora do programa de economia e energia do Middle East Institute, com sede em Washington.
Mas aumentar a produção de petróleo e transportar novas quantidades de gás natural liquefeito (GNL) não é algo tão simples.
Os dois países não estão preparados para virar os "super-heróis caso o gás e o petróleo russos parem de chegar à Europa", afirma a analista, que destaca que os investimentos não são rápidos.
"Há negociações em curso para redirecionar as entregas de gás planejadas para os mercados asiáticos à Europa, se for necessário", disse um funcionário do governo do Catar à AFP no final de janeiro.
Alguns grandes importadores de petróleo pediram à Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) que aumentem a produção, pressionando em particular a Arábia Saudita.
O Catar informou que não tem tanta capacidade adicional de produção de GNL e que a quantidade de gás que pode desviar dos contratos existentes é limitada.
Durante uma reunião de exportadores de gás em Doha no início da semana, os principais produtores, incluindo a Rússia, afirmaram que não poderiam garantir os preços nem o abastecimento.
A Arábia Saudita, ator crucial na OPEP+ ao lado da Rússia, não expressou interesse em aumentar a produção de petróleo.
"A OPEP+ manifestou até agora a intenção de respeitar o acordo", declarou à AFP Amena Bakr, da consultoria Energy Intelligence, em referência às cotas de produção em vigor dos países membros.
Próximos tanto de Washington como de Moscou, Catar e Arábia Saudita contam com o guarda-chuva militar dos Estados Unidos, enquanto desenvolvem relações econômicas e políticas com a Rússia.
"A Arábia Saudita deseja manter a Rússia como sócio na OPEP+", disse à AFP Ben Cahill, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
A atual crise também oferece aos países produtores de petróleo e gás do Golfo a oportunidade de recordar sua importância estratégica, em um momento de grandes críticas sobre o impacto da indústria de combustíveis no meio ambiente e clima.
O Catar espera assim obter contratos de fornecimento de longo prazo (até 25 anos), que a Europa se recusou a assinar até agora.
Os países do Golfo que enfrentam um "declínio" em um contexto de "transição energética" podem aproveitar a oportunidade para "afirmar sua importância na economia mundial", destaca Karen Young.