FRANÇA

Macron sai como vencedor de debate com Le Pen e reforça vantagem nas pesquisas

Faltando apenas três dias para o segundo turno, os dois voltaram à campanha

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Estadão Conteúdo

Publicado em 21/04/2022 às 13:16
Emmanuel Macron e Marine Le Pen disputarão o segundo turno - Lionel BONAVENTURE / AFP

Apesar de a performance da candidata de extrema direita à presidência francesa, Marine Le Pen, ter sido melhor que a de 2017, não foi o suficiente para superar a do presidente Emmanuel Macron, visto como o vencedor do debate na noite da quarta-feira, 20. Os dois, que se enfrentam no segundo turno das eleições presidenciais da França no domingo (24), retomaram a campanha nesta quinta-feira (21).

O jornal britânico The Guardian descreveu o embate como uma revanche do confronto na TV de 2017, durante o qual a candidata foi extremamente agressiva. Desta vez, Le Pen permaneceu calma, embora ainda se debatesse ocasionalmente. O jornal francês Le Monde comparou Macron a uma jiboia - espremendo lentamente sua rival até a morte.

Uma pesquisa do instituto demográfico Elabe para o canal de TV BFM e para o jornal L'Express mostrou que o chefe de Estado foi mais convincente para seis em cada dez espectadores do debate. O resultado reforça a vantagem que as pesquisas de intenção de voto dão a ele às vésperas da votação de segundo turno.

Há cinco anos, Macron desafiava Le Pen no primeiro confronto eleitoral se vendendo como um candidato fora do sistema. Dessa vez, o papel de inquilino do Palácio Eliseu o deixou mais vulnerável, mas ele se mostrou com maior controle das questões colocadas na mesa.

Por isso, para o fundador e diretor da agência de comunicação política Plebiscito, Laurent Rossini, Macron foi o vencedor "indiscutível" da noite. Rossini explicou à agência EFE que o debate atraiu 15,6 milhões de pessoas, a menor audiência já registrada para um evento desse tipo.

Le Pen teve de superar o estigma de sua performance anterior, com suas lacunas em questões econômicas, sua agressividade verbal e seu sarcasmo com o qual tentou desestabilizar Macron, que buscava o poder após ter renunciado ao cargo de ministro da Economia. Dessa vez, ele cobrou o preço dos ataques ainda que, segundo Rossini, tenha buscado "parecer presidencial" o tempo todo, com prudência nas palavras e na expressão corporal.

Segundo a pesquisa do Elabe, os espectadores do único debate entre os dois candidatos finais consideraram Macron um pouco arrogante, mas também mais convincente e apto para ser presidente.

Le Pen, que se concentrou em expressar empatia com as pessoas que ela disse que "sofreram" desde que Macron a derrotou em 2017, foi considerada mais em sintonia com as preocupações dos eleitores, mas suas opiniões de extrema direita ainda são tidas como muito mais preocupantes, mostrou a pesquisa.

"Ela deu a impressão de que está pronta para governar?" disse Le Parisien em um editorial nesta quinta-feira. "A julgar pelo debate, ela não dissipou essa dúvida."

De volta às ruas

Faltando apenas três dias para o segundo turno, os dois voltaram à campanha. Macron visitou eleitores no subúrbio multicultura de Saint Denis, em Paris, com forte voto de esquerda. Le Pen foi para o norte do país, onde ela tem seguidores leais, com um último discurso em Arras.

Macron é apontado como vencedor da reeleição com 56% dos votos, de acordo com uma pesquisa da OpinionWay/Kea Partners realizada entre 20 e 21 de abril, capturando assim alguns entrevistados após o debate de quase três horas na TV na noite de quarta-feira

Mas a incerteza sobre o resultado final permanece alta, pois a pesquisa também mostrou que apenas 72% esperavam votar - um número que marcaria a menor participação desde 1969.

Líderes europeus defendem Macron

Nesta quinta-feira, líderes de centro-esquerda da Alemanha, Espanha e Portugal pediram aos eleitores franceses que escolham Macron. E, em outro sinal da ampla influência internacional que o resultado da votação presidencial francesa terá, o líder da oposição russa preso Alexei Navalny também pediu apoio a Macron, alegando que Le Pen está intimamente ligada às autoridades russas.

Le Pen enfrentou críticas por um empréstimo de mais de € 9 milhões que seu partido recebeu em 2014 do First Czech-Russian Bank e sua visita a Moscou em 2017 para se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin.

Em uma coluna publicada nesta quinta-feira em vários jornais europeus, o chanceler alemão Olaf Scholz, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez e o primeiro-ministro português Antonio Costa escreveram que a votação de domingo é "crítica para a França e para cada um de nós na Europa".

"É a eleição entre um candidato democrático que acredita que a força da França se amplia em uma União Europeia poderosa e autônoma e uma candidata de extrema direita que abertamente fica do lado daqueles que atacam nossa liberdade e democracia, valores baseados nas ideias francesas do Iluminismo", diz o texto conjunto sem mencionar Macron ou Le Pen pelo nome.

O social-democrata Scholz e os socialistas Sanchez e Costa escreveram que a Europa "está enfrentando uma mudança de era" devido à invasão russa da Ucrânia e "os populistas e a extrema direita" estão vendo Putin "como um modelo ideológico e político, replicando suas ideias chauvinistas".

"Eles ecoaram seus ataques às minorias e à diversidade e seu objetivo de uniformidade nacionalista", disseram eles, segundo o artigo do principal jornal espanhol El Pais. "Não devemos esquecer isso, não importa o quanto esses políticos estão tentando se distanciar do agressor russo."

A coluna terminava apelando à unidade para "manter a prosperidade e o bem-estar" na Europa: "É por isso que precisamos que a França esteja do nosso lado", escreveram.

Debate

No debate de quarta-feira, Macron argumentou que o empréstimo que o partido de Le Pen recebeu em 2014 a tornou inadequada para lidar com Moscou em meio à invasão da Ucrânia.

Ele também disse que seus planos de proibir as mulheres muçulmanas na França de usarem véus em público desencadeariam uma "guerra civil" no país que tem a maior população muçulmana da Europa Ocidental.

Le Pen, por sua vez, procurou apelar aos eleitores que lutam contra a alta dos preços em meio às consequências da guerra da Rússia na Ucrânia, que ela criticou.

Ela disse que reduzir o custo de vida seria sua prioridade se for eleita a primeira mulher presidente da França.

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