Da AFP
Dois dias após o presidente turco, Tayyip Recep Erdogan, ser reeleito em seu país, o chefe da Otan expressou um cauteloso otimismo sobre a possibilidade de acolher a Suécia na aliança, à medida que os Estados Unidos pressionam Ancara a abandonar suas objeções.
Suécia e Finlândia reverteram no ano passado décadas de indecisão e solicitaram formalmente sua adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) depois que a Rússia invadiu a Ucrânia. O país sob ataque havia tentado sem sucesso ingressar na aliança, cujo objetivo é a proteção mútua entre seus membros.
No entanto, as decisões devem ser unânimes e a Turquia usa sua influência para pressionar a respeito da presença de militantes curdos, permitindo que a Finlândia entrasse na Otan em abril, mas bloqueando a Suécia.
A adesão da Suécia é "absolutamente possível" até a cúpula de julho na Lituânia, afirmou nesta terça-feira (30) o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg.
"Não há garantias, mas é absolutamente possível alcançar uma solução que assegure a decisão sobre uma adesão plena" antes da cúpula, disse Stoltenberg em Oslo.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, em visita a Estocolmo a caminho de Oslo, declarou que a Suécia atendeu às preocupações turcas.
"Chegou o momento de finalizar a adesão da Suécia" à Otan, defendeu Blinken durante coletiva de imprensa conjunta com o premiê sueco, Ulf Kristersson.
"Instamos tanto a Turquia como a Hungria a ratificarem a adesão o quanto antes", disse Blinken. "Não há razão para mais tempo. A Suécia já está preparada", acrescentou.
Segundo Blinken, os Estados Unidos desejam concluir o processo "nas próximas semanas".
Ira turca
Erdogan, que comanda a Turquia há duas décadas, ganhou no domingo outro mandato de cinco anos após uma campanha em que prometeu desafiar o Ocidente.
Ele acusou a Suécia, com suas generosas políticas de asilo, de abrigar "terroristas", especialmente membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), criminalizado por Ancara.
Apesar das esperanças de adesão, a Turquia lamentou nesta terça que as autoridades suecas permitissem um protesto "inaceitável" de ativistas direcionado a Ancara.
O comitê pró-curdo Rojava da Suécia divulgou na segunda-feira um vídeo contra Erdogan que mostra uma bandeira do PKK projetada sobre o Parlamento sueco, a mais recente de várias ações do grupo.
Stoltenberg disse ter mantido "contatos constantes com as autoridades turcas" para tentar superar os últimos obstáculos à adesão sueca.
Blinken minimizou qualquer relação entre a adesão da Suécia e uma possível venda de caças americanos F-16 para a Turquia, embora o presidente Joe Biden tenha parecido estabelecer uma conexão em declarações a jornalistas após uma ligação para parabenizar Erdogan.
"São questões diferentes. Ambas, no entanto, são vitais, em nossa opinião, para a segurança europeia", afirmou Blinken.
No início deste ano, Washington manifestou seu apoio a um pacote de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 100,7 bilhões) em F-16 para a Turquia, que inclui 40 novas aeronaves e melhorias em outras 79.
Mas ainda é possível que o Congresso bloqueie a venda. Bob Menéndez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, se mostrou preocupado com a possibilidade de Erdogan usar os aviões de guerra para intimidar ou até atacar a Grécia, país aliado da Otan.
Suécia e Finlândia, parceiros do Ocidente, permaneceram oficialmente não alinhados militarmente por medo de irritar a Rússia.
Kristersson explicou a Blinken que Lulea - cidade sueca onde autoridades dos Estados Unidos e da Europa se reunirão na quarta-feira para discutir questões comerciais e tecnológicas - está a seis horas e meia de carro da fronteira com a Rússia.
"Preencher o vazio territorial no norte será uma das muitas contribuições de segurança da Suécia para a Otan quando nos juntarmos à aliança", disse Kristersson.
A Hungria, cujo governo de extrema direita mantém relações tensas com grande parte da União Europeia, também se recusou a dar sua bênção à Suécia, embora muitos considerem que esteja seguindo o exemplo da Turquia.