O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está na corda bamba: de um lado, apoia firmemente Israel, seu aliado. Do outro, pede cautela e uma pausa nos combates com o grupo islamista palestino Hamas para fazer a ajuda chegar a Gaza.
Desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, o presidente teve que combinar o apoio ao direito de Israel a se defender com a preocupação pela difícil situação dos civis em Gaza e o perigo de a guerra envolver outros atores da região.
Este equilíbrio fica a cada dia mais complicado diante dos planos israelenses para invadir Gaza e os apelos mundiais crescentes para um cessar-fogo na medida em que Israel bombardeia o território.
Segundo o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, desde o início da guerra, 5.791 pessoas morreram no território palestino. Os ataques israelenses são em represália por uma operação de centenas de combatentes do Hamas que se infiltraram em Israel a partir de Gaza.
Mais de 1.400 pessoas morreram, a maioria deles civis, segundo as autoridades israelenses, que também contabilizam 220 pessoas sequestradas e levadas como reféns para Gaza.
A Casa Branca insiste em que os Estados Unidos não ditam condições para Israel, apesar de contar com vários assessores militares sobre o terreno. "Os israelenses tomam suas próprias decisões", disse Biden aos jornalistas nesta terça-feira (24), quando foi perguntado se havia pedido a Israel que adiasse uma invasão terrestre.
Seu governo adotou um tom firme sobre uma eventual trégua, apesar de o secretário-geral da ONU, António Guterres, ter pedido hoje um cessar-fogo "imediato" e denunciado violações do direito internacional em Gaza.
"Neste momento, um cessar-fogo beneficia apenas o Hamas", declarou nesta terça-feira aos jornalistas John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
'Proteção dos civis'
Mas a posição real dos Estados Unidos tem matizes. Na segunda-feira, quando um jornalista perguntou a Biden sobre a possibilidade de um acordo de cessar-fogo, o presidente respondeu: "Os reféns devem ser libertados, depois podemos conversar."
E o responsável pela diplomacia americana, o secretário de Estado Antony Blinken, pediu hoje ao Conselho de Segurança da ONU que apoie uma nova resolução sobre o conflito liderada pelos Estados Unidos, um texto que fala sobre "pausas humanitárias" para permitir a entrada de ajuda, mas não de um cessar-fogo total.
Para Kirby, é "algo que deveria ser considerado". "Queremos ver quaisquer medidas de proteção para os civis e as pausas em uma operação são uma ferramenta e uma tática que possibilitam isso por períodos temporários", disse. Segundo o funcionário, isto "não é o mesmo que falar de um cessar-fogo".
Biden insistiu em que os palestinos devem receber mais ajuda e considerou que as entregas "não são rápidas o suficiente", pois apenas alguns poucos caminhões conseguiram atravessar a passagem fronteiriça de Rafah a partir do Egito.
Este equilibrismo reflete a preocupação pelas consequências de uma possível invasão total israelense. O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, declarou à ABC News no fim de semana que invadir Gaza poderia ser "mais difícil" do que a dura batalha para tomar a cidade iraquiana de Mossul do grupo Estado Islâmico em 2017.
Comoção
"Uma das coisas que os funcionários americanos têm afirmado é: olhem, levamos décadas lutando contra as insurgências no Oriente Médio... É preciso pensar com mais profundidade", explicou o analista de Oriente Médio Jon Alterman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em um debate on-line na última segunda-feira.
"Não tenho a sensação de que os israelenses sejam muito receptivos a isso agora mesmo. Ainda estão muito comovidos", acrescentou. Na semana passada, em sua visita a Israel, Biden pediu que os israelenses não se deixassem consumir pela "raiva", como os Estados Unidos fizeram após os atentados de 11 de setembro de 2001, que, segundo ele, levaram o país a cometer "erros".