Israel instou nesta quarta-feira (10) todos os habitantes a deixarem a Cidade de Gaza, onde suas tropas mantêm uma ofensiva feroz contra o movimento islamista palestino Hamas após mais de nove meses de uma guerra que devastou o território.
Milhares de panfletos foram lançados sobre a cidade, no norte da Faixa de Gaza, exortando "todos os presentes" a deixarem a localidade, que continua sendo "uma perigosa zona de combate".
De acordo com a ONU, a cidade tinha até agora uma população de 300.000 a 350.000 pessoas.
O Exército israelense anunciou esta noite que "os soldados [...] concluíram sua missão, que durou cerca de duas semanas, na área de Shujaiya", garantindo que a ofensiva permitiu destruir "oito túneis" e eliminar "dezenas de terroristas".
Israel iniciou em 27 de junho uma operação terrestre no bairro de Shujaiya, no leste da Cidade de Gaza, antes de expandi-la para o centro, onde "dezenas de milhares de pessoas" foram chamadas a abandonar a área, segundo a ONU.
O porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal, afirmou que Shujaiya se tornou "uma cidade fantasma".
As novas instruções "só vão agravar o sofrimento em massa das famílias palestinas, muitas das quais foram deslocadas várias vezes", reagiu Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Um porta-voz do governo israelense disse que o objetivo era "colocar os civis fora de perigo" enquanto as tropas combatiam.
Após meses de estagnação, as negociações para um cessar-fogo e a libertação dos reféns - mediadas por Catar, Estados Unidos e Egito - foram retomadas em Doha.
Uma delegação israelense liderada pelo chefe do serviço de inteligência Mossad, David Barnea, chegou à capital catari nesta quarta. Também se espera a participação do diretor da CIA, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos.
Onde vamos parar
O Exército israelense indicou nesta quarta que "os soldados realizaram uma operação contra terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica que usavam a sede da UNRWA [Agência da ONU para Refugiados Palestinos] na Cidade de Gaza como base para lançar ataques".
Os últimos combates em Gaza provocaram o deslocamento de 350.000 civis, segundo Philippe Lazzarini, diretor da UNRWA, que afirmou, antes da última chamada de evacuação, que "não há nenhum espaço seguro" no território palestino.
Um Nimr Al Amal fugiu de Gaza com a família. "É a 12ª vez. Quantas vezes ainda teremos que aguentar? Mil? Onde vamos parar? Não tenho mais energia, não consigo mais", queixou-se.
Os combates também aumentaram no sul do território, onde tanques israelenses entraram no centro de Rafah, segundo testemunhas. Estas também reportaram intensos disparos nesta cidade na fronteira com o Egito, onde o Exército executa uma ofensiva terrestre desde 7 de maio.
O conflito começou em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense calcula que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 42 que estariam mortas.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma ofensiva em Gaza que já matou 38.295 pessoas, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde do território.
"Eliminamos ou ferimos 60% dos terroristas do Hamas desde o início da guerra", afirmou o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant.
Escolas bombardeadas
Vinte e nove pessoas morreram ontem, incluindo crianças, em um bombardeio israelense contra uma escola em Abasan, segundo uma fonte médica e funcionários do Hamas. O Exército israelense afirmou que os bombardeios tinham terroristas como alvo.
As escolas de Gaza "se convertem com frequência em locais de morte e miséria. A cidade não é um lugar para crianças", disse Lazzarini.
Israel e Hamas divergem sobre como alcançar uma trégua. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, reuniu-se em Jerusalém com o coordenador da Casa Branca para o Oriente Médio, Brett McGurk.
Netanyahu reiterou seu compromisso com um acordo de cessar-fogo "desde que as linhas vermelhas de Israel sejam respeitadas". O premiê assegurou em diversas ocasiões que não vai encerrar a guerra antes da destruição do Hamas e da libertação de todos os reféns.
O funcionário do alto escalão do Hamas Hossam Badran disse hoje à AFP que a intensificação do que chamou de "massacres" israelenses em Gaza reforça as exigências do movimento islamista.
"Pedimos a todo Israel que se una a nós para pressionar, para lembrar a Netanyahu [...] que ele deve assinar um acordo, trazê-los [os reféns] de volta e pôr fim a esta terrível guerra", declarou à AFP Ayala Metzger, nora de Yoram Metzger, falecido aos 80 anos enquanto estava em cativeiro, e cujo corpo ainda está em Gaza.