Em 2020, a comunidade científica mundial foi desafiada por um vírus desconhecido de amplitude pandêmica. Mais grave: não se sabia tratar, muito menos, prevenir a Covid-19. Atônitos, os cientistas e órgãos de pesquisa se mobilizaram na busca da vacina, enquanto utilizavam o suporte clínico para que os organismos lutassem pela vida.
Vacina Já! Era a palavra de ordem. Ao som do desesperado grito de socorro, os cientistas do jaleco branco e os profissionais de saúde dedicaram-se, heroicamente, à terapia do possível e à urgência improvável da prevenção.
A experiência histórica demonstra (século XVIII) que Edward Jenner comprovou a eficácia da vacina contra a varíola após 20 anos de observação, testes e resultados com evidência científica para aplicação eficaz em seres humanos. O tempo seria o senhor da salvação do apocalipse.
A ciência venceu. Temos vacinas, apesar da resistente ignorância negacionista.
Enquanto isso, o Brasil, que dispõe de notável experiência de vacinação em massa, cometeu erros e maus exemplos, vindos de cima: de encrencas ideológicas à falta de oxigênio. A gestão da crise sanitária é chefiada pelo terceiro ministro, preparado para cumprir tarefas com a obediência devida. Ainda assim, estou certo de que, se não faltar vacina, a velocidade de imunização será surpreendente graças à capilaridade do SUS.
Ao mesmo tempo, na política, somente se enxergam, a um palmo do nariz, as eleições de 2022, além dos alaridos e fraturas por conta da eleição no Congresso. O nosso presidencialismo precisa de maioria para governar, certo? Certo; e de uma base parlamentar para assegurar a execução de um plano de governo, certo? Errado.
O Brasil não interessa; políticas públicas, tampouco; interesses particulares e corporativos, sim! Homens de sisudos ternos entraram nos laboratórios, ops, nos porões do poder e encontraram rapidamente a vacina contra o impeachment: legislativo subserviente a preço de mercado, exceto se desabar a popularidade presidencial. Cada aliado recebe o seu quinhão: no caixa, emendas parlamentares; no governo, cargos e nacos do orçamento. Aliás, é hora de parar a discussão sobre privatização: o tesouro já foi privatizado.
Impeachment não é brincadeira. O país do futebol ficou na saudade. Somos o país do impeachment: 2 em 4 presidentes eleitos foram impedidos. A mal falada "velha política" ressurge exuberante. Vale relembrar uma pérola de Montesquieu: "Quando o Poder Legislativo é reunido ao Executivo, não há liberdade. Porque pode temer-se que o mesmo Monarca ou o mesmo Senado faça leis tirânicas para executá-las tiranicamente".
Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco