A polarização política entre Lula e Bolsonaro, dois extremos da disputa eleitoral, esconde algumas convergências em temas econômicos, como a crítica da política de preços da Petrobrás e a rejeição ao teto de gastos públicos, ambos pensando que o Estado pode tudo. Na fanfarronice, eles são iguais. Vão promover um torneio nacional em torno da paternidade do "maior programa social do mundo", como alardeava Lula e como propagandeou o Partido Liberal no ato de filiação de Bolsonaro. Eles divergem, radicalmente, em relação aos valores civilizatórios, à política externa e ambiental, mas a pretensão hegemônica do PT, que não vacila em defender os governos ditatoriais da América Latina, não é muito diferente do autoritarismo atávico de Bolsonaro.
No meio dos dois, a chamada terceira via conta com várias candidaturas que apostam na quebra da polarização política, mas têm visões e projetos distintos para o Brasil. Pelo menos três subgrupos políticos podem ser identificados entre os seus pré-candidatos, cada um deles com maior ou menor afastamento de Lula ou de Bolsonaro: Ciro Gomes, Sergio Moro e os outros, que formam um conjunto político mais homogêneo. Ciro é um opositor radical de Bolsonaro, mas, em questões econômicas, se aproxima muito do PT, sendo até mais contundente que Lula no voluntarismo de um Estado forte e nas promessas fáceis para os grandes problemas. Ciro tem mais afinidades políticas com Lula do que com os outros candidatos da terceira via.
O ex-juiz Sergio Moro ainda é uma incógnita política e, apesar do discurso abrangente no evento de filiação partidária, parece o candidato de uma única causa: a Lava Jato. Pela sua biografia, parece mais perto de Bolsonaro que do centro político. Pode até ser muito conservador nos costumes, mas está longe de ser um direitista radical com a pulsão demolidora do bolsonarismo. O aglomerado dos outros candidatos alternativos converge em torno do liberalismo político e econômico, da defesa do teto de gastos, da responsabilidade fiscal e das reformas estruturais para destravar a economia e recuperar a capacidade de investimento público. A candidatura de Moro pode provocar uma estranha polarização dentro da própria terceira via; enquanto ele atrai os votos de centro-direita não bolsonarista, Ciro capitaliza o eleitorado de centro-esquerda que rejeita Lula. O resultado será, provavelmente, a indesejável confirmação de Lula e Bolsonaro no segundo turno.
Sérgio C. Buarque, economista
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC