Santo Antônio foi o primeiro padroeiro do Recife. O Santo das raparigas, assim o chamava Pessoa. Santo Antoninho para as senhoritas de Lisboa, onde nasceu. Depois viveu vida aventureira, pregou aos sarracenos do Marrocos, foi eremita em Monte Paolo (Florença) e fez milagres muitos - como aquele em que, com um só sermão, converteu vinte ladrões. Pena que não ande, hoje, em Brasília e arredores, onde há tantos pecadores que se apresentam como Santos (o que não são). Já velhinho, e sofrendo de hidropisia (barriga d'água), disse às portas de Pádua "estou vendo o meu Senhor"; e as crianças gritaram pelas ruas "morreu o Santo, morreu o Santo". Para a Igreja, é o "Santo Lutador". Desde quando enfrentou demônios que marcavam seu corpo com dentadas, chifradas e unhadas, até que um clarão os pôs a correr. No Brasil, acabou general do Exército. Nomeado, em 1890, pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Passando, em seguida, à reserva remunerada.
Aqui reinou sozinho, como único padroeiro desta cidade a que primeiro chamaram Santo Antônio do Recife, até 1918. Quando o papa Bento XV nomeou, co-padroeira da cidade, Nossa Senhora do Carmo. Uma Nossa Senhora que começou a ser venerada na Palestina. Quando (segundo textos antigos) o deus dos judeus, Javé, enviou fogo do céu para queimar os altares do Monte Carmelo. Depois, em 1251, acabou aparecendo numa visão a São Simão Stok. 16 de julho é o dia dessa Senhora Nossa. Aquele em que, mais ainda que nos outros, deve ser louvada.
Mas é bom lembrar, também, a imaculada Nossa Senhora da Conceição. Reverenciada, no Candomblé, como Oxum. O nome vem de concepção - por ter sido, segundo dogma papal de 1854, "concebida sem pecado". No Recife é mãe sobretudo das pessoas simples que, em ato de fé, sobem nossos morros todo 8 de dezembro - como nessa quarta. Seu culto nos veio como herança do colonizador português. Desde quando foi convertida por el-rei Dom João IV, O Restaurador, padroeira do Reino de Portugal. Hoje, por lá, são três padroeiros: São Vicente, Santo António e Nossa Senhora da Conceição. Para nossos irmãos portugueses um é pouco, dois é bom, três é ainda melhor. Deveria ser também assim, conosco. Faltando só, para que tenhamos três padroeiros, que Francisco imite aquele Bento e converta Conceição, oficialmente, em mais uma padroeira do Recife.
José Paulo Cavalcanti Filho, advogado
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