Não sei você, caro leitor, mas eu chego ao final do ano com aquela sensação de "cabo de guarda-chuva na boca".
É como se assistisse à final de um campeonato importante, com meu time jogando muito mal, perdendo de 7 X 1, o técnico mexendo errado e o cronômetro correndo rápido.
Enxergo poucas expectativas de melhoria na governança do país a curto prazo. Os erros cometidos nos últimos meses se repetem e observo um diário bate-cabeça de jogadores perdidos em campo.
Os anos de 2020/2021 vão ficar marcados na história mundial por mais uma pandemia, essa denominada de Sars-CoV-2. Um rinoceronte cinza (expressão de Niall Ferguson para eventos detectáveis) que aparece de tempos em tempos a desafiar a gestão da saúde publica de governos em todo planeta.
Em nosso país, o enfrentamento, amador por uns e interesseiro por outros, da crise e seus reflexos nos campos econômico, psicossocial e político impactará a médio e longo prazo o crescimento do país. Quiçá mais uma década perdida.
Chegaremos muito debilitados no próximo ano.
Envolvido pelas disputas eleitorais e assolado pelo descompasso orçamentário promovido pelos detentores do poder, herança de um populismo arraigado há anos de coronelismo, desorganiza-se o Estado em sua fundação estrutural.
Inflação alta, desemprego recorde, fome grassando, dívida pública insustentável, desavenças ideológicas figadais, corrupção moral à luz do dia.
Como referia Maquiavel: "governar é fazer acreditar". Mas, e quando o povo já não acredita?
Um exemplo: ontem, assistindo ao telejornal vespertino, uma das manchetes foi a PEC dos precatórios. A contabilidade criativa do Legislativo e Executivo incorporou quase 50 bilhões de reais aos projetos de poder.
Chamou-me atenção que dívidas já reconhecidas por transitadas em julgado foram postergadas para serem pagas até 2026 (último ano da próxima legislatura).
Quem de nós, em pleno juízo, confia que elas serão quitadas no prazo estipulado? Até lá uma outra PEC as empurrará para as calendas. Essa passou tão fácil!
Final do ano é tempo de esperança. Gostaria que o artigo apontasse um futuro tolerável. Por pragmático, traço cenários sustentados em variáveis que se mostram viáveis de materialidade. Eles não são animadores,
Vamos precisar unir as forças cidadãs em busca de lideranças dispostas a aceitarem, como servidão, a missão de nos tirar dessa enrascada e transformar o Brasil em um país mais justo.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC