Ilações...

Serei sempre uma incógnita, o que me faz acreditar em todos os eus. Nenhum melhor que o outro. Iguais. Nada mais profundo que aceitá-los com dignidade
FÁTIMA QUINTASfquintas84@terra.com.br
Publicado em 24/05/2023 às 0:00
O importante é avançar, ir adiante sem a menor redução dos nossos anseios. Caminhar e caminhar, eis o grande mote da liberdade. Foto: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM


Abraço os caminhos que se apresentam à imaginação. Permito-me selecionar algumas trilhas mas, na verdade, acato as veredas que se apresentam. A vida se estende mundo afora em um florescer que vai e volta. Seguramente rejeito os limites para acreditar na vastidão dos anseios. São tantas as esperanças que acabo alimentando os sonhos que se propagam a cada dia. Em todo amanhecer, acordo com novas ilusões e faço dos devaneios um mundo especial. Urge acreditar nas fantasias, de modo a transformar a vida em um intenso palco de alianças. Elevo-as a perspectivas imensuráveis.

Sigo pelas idealizações que contornam o ser, não quero limites, apraz-me abastecer o que desejo; hoje, de um jeito; amanhã, de outro, pouco importa. Os horizontes trazem novas alegrias. Nada mais instigante do que a esperança. E a vida se constrói a partir dos nossos anseios, tantos e tantos que me instigam a persegui-los. Por que esmorecer? Há sempre devaneios para a alegria do amanhã. E os dias se sucedem em uma intensa capacidade de florescer. Não sobram limites para o desejo. O importante é avançar, ir adiante sem a menor redução dos nossos anseios. Caminhar e caminhar, eis o grande mote da liberdade.

Nada deve interferir em nossos passos, alguns lentos, outros apressados. Somos inquietos, o que aumenta a capacidade de dilatar esperanças. Importa saborear ilusões. Vale a pena repensar sempre e sempre as miragens. Urge acreditar nas fantasias, somente assim teremos forças para avançar cada dia — jamais esmorecer em face da dúvida; afinal, tudo se resume a um somatório de divagações. Temos necessidade de estimular os anseios, a nossa mente repousa em múltiplos estágios. Preciso acreditar no que vejo e no que não vejo. Os mistérios servem de alento ao ego. Uma vastidão de enigmas transborda das esperanças cotidianas.

Serei capaz de listar os meus desejos? Não. Jamais. Existe uma atemporalidade que me persegue. Ainda bem. Que as horas se ampliem sem fronteiras reducionistas. Importa aplaudir os mistérios; então, seremos felizes diante das divagações. A vontade de vencer advém do otimismo — um amanhã repleto de esplendores. O real nunca atende aos impulsos de cada um, porém nutre esperanças que servem de nutrientes aos anseios da humanidade. Estarei errada? Ou será que ignoro o que digo? Os segundos se somam longe das expectativas. Afinal, a "realidade/ sempre é mais ou menos, do que nós queremos,/Só nós somos sempre/ Iguais a nós próprios".

E todos os enigmas se escondem no pensamento. Imaginar é um verbo de difícil conjugação, mas vale a pena dele abstrair as interrogações. Quanto mais profundo o desconhecimento, maior a capacidade de alimentar esperanças. Importa saber redimensionar os instantes que nos cercam. Serei sempre uma incógnita, o que me faz acreditar em todos os eus. Nenhum melhor que o outro. Iguais. Nada mais profundo que aceitá-los com dignidade.

Fátima Quintas,  da Academia Pernambucana de Letras-fquintas84@terra.com.br

 

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