-Em que cidade da Inglaterra o senhor nasceu?
- Não sou inglês, nasci em Benichev, na Ucrânia dominada pela Rússia czarista. Meus pais eram nacionalistas poloneses, e, por causa de suas atividades políticas antirrussas, foram exilados para a remota província de Volga, para onde segui com eles.
- Qual era sua profissão quando adulto?
- Desde pequeno, queria ser marinheiro. Sempre tive atração pelo mar. Comecei em Marselha, onde trabalhei na marinha Mercante francesa até embarcar, em 1878, em navio britânico, como aprendiz.
- O senhor viajou por onde?
- Pela Ásia, África, América do Norte e Europa.
- Sendo polonês, por que escrevia na língua inglesa?
- Porque o inglês é mais conhecido do que o polonês, o que facilitaria a leitura de meus livros. Depois de 20 anos como marinheiro, obtive a cidadania britânica e publiquei meu primeiro livro, A loucura do Almayer, em 1895.
- Quando foi isso?
- À época, eu tinha 38 anos.
- A obra fez sucesso?
- De crítica, sim - de público, não.
- Como assim?
- O leitor comum me achava muito hermético. Talvez por isso, minha vida literária somente veio a decolar cerca de 15 anos depois desse livro.
- Acho que esse "hermetismo" esteja condicionado, em parte, à preocupação que o senhor sempre teve de investigar e combater o colonialismo e a hipocrisia da humanidade. O tema que mais me fascina em sua obra é o do conflito do homem com o próprio homem, como em Lord Jim, por exemplo. Ou o confronto do homem com a natureza selvagem, tendo como cenário as belas e remotas ilhas do Pacífico Sul, onde o senhor comandou veleiros, inclusive sua grande paixão, o Libertad.
- Mas nem tudo são flores. Em 1977, Chinua Achebe me acusou de racista e disse que No coração das trevas, vertido para o cinema no clássico Apocalypse Now, em 1979, por Francis Ford Coppola, é "ofensivo e deplorável" no tratamento dos negros africanos.
- Bem, o leitor moderno, influenciado pela onda dos direitos humanos, pode não concordar com o conteúdo da novela mas está claro que sua opinião sobre os colonizadores brancos ainda é pior ... Ou seja, Jorge Luís Borges atentou para a impossibilidade da separação absoluta entre o bem e o mal. E o cético e pessimista Machado de Assis ponderava que "alguma coisa tem que se sacrificar".
Arthur Carvalho. da Federação Internacional dos Jornalistas