Ao longo deste século a economia de Pernambuco vinha crescendo, até os anos que antecederam a pandemia, acima da média nacional. A indústria que apresentava uma estagnação nas últimas décadas do Século XX se recuperou e se modernizou. Pernambuco, ao contrário do país, iniciou um processo de reindustrialização, onde o PIB setorial elevou sua participação na indústria de transformação do Nordeste e do Brasil. E os serviços se diversificaram e se modernizaram bem como a agropecuária, embora persistam expressivas heterogeneidades.
O dinamismo da economia depende do nível dos investimentos públicos e privados e do aumento da produtividade. Os volumosos investimentos que aportaram em Pernambuco, até 2016, da ordem de R$ 105 bilhões tiveram papel importante nos resultados econômicos observados que se manifestaram sobremodo no aumento da participação do PIB pernambucano no brasileiro.
Todavia, nos anos de 2020 a 2022 a economia do estado foi severamente atingida pela recessão induzida pela pandemia, especialmente no setor terciário, sensível ao lockdown, e de maior peso no sistema produtivo estadual (quase três quartos do PIB). Isso contribuiu para que a economia de Pernambuco crescesse abaixo da média nacional, perdendo gravitação.
Nos últimos doze meses, até agosto último, segundo os dados do IBC-BR do Banco Central que se constitui em boa aproximação do desempenho do PIB, a economia de Pernambuco cresceu apenas 0,6%, bem abaixo da média nacional (2,82%), da média do Nordeste (1,86%), da Bahia (2,39%) e um pouco menos do que o Ceará (0,65%). Este desempenho repousa, entre outros fatores destacados adiante, na baixa performance do comércio varejista ampliado que acumula queda, em 12 meses, de -0,3%, principalmente na venda de bens semiduráveis e duráveis de consumo tais como veículos, motocicletas, partes e peças, e tecidos, vestuários e calçados. A inflação e o elevado endividamento das famílias, além do baixo dinamismo do mercado de trabalho, vez que Pernambuco continua apresentando elevadas taxas de desemprego aberto (14,2 % da força de trabalho no trimestre móvel até junho, segundo os dados da PNAD Contínua) e altas taxas de informalidade, retiraram poder de compra da massa de rendimentos dos trabalhadores, restringindo o consumo das famílias aos de bens essenciais tais como combustíveis e lubrificantes, alimentos, bebidas e medicamentos. No setor de serviços, observou-se em agosto uma queda de -3,2%, o único a apresentar retração entre as maiores economias da Região, embora no acumulado em 12 meses o desempenho tenha sido satisfatório (4,7%), acima da média nacional (4,1%). Neste setor, apenas os segmentos de informação e comunicação e de transporte, armazenagem e entrega, apresentaram crescimento satisfatório. Os demais pouco se expandiram como os serviços prestados às famílias (0,7%), profissionais e administrativos (0,4%) ou foram negativos como os apresentados pelos outros serviços (-9,5%). Nas vendas associadas aos serviços prestados ao turismo, os resultados foram ruins com queda de -3,35% em agosto e variação, em 12 meses, de apenas 2,7% igual à do Ceará, mas muito inferior ao observado em destinos turísticos como a Bahia (13,6%). As informações do Banco Central (IBC-BR) são confirmadas com dados recentes do IBGE.
Assim, segundo o IBGE, a indústria e a agropecuária tiveram, no segundo trimestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano anterior um desempenho de 2,8% e de -5,9%, respectivamente. E os serviços, setor de maior peso na economia estadual, cresceu apenas 1,6%. No seu conjunto a economia de Pernambuco, segundo o IBGE, expandiu-se em apenas 1,6%, variação bem inferior àquela apresentada pela economia brasileira no mesmo período de comparação (3,4%).
Como afirmado acima, o investimento ao ampliar a capacidade produtiva da economia, traz significativos impactos multiplicadores sobre o nível da atividade, gerando emprego e renda. É, portanto, do lado dos investimentos que deverão vir as boas notícias para reverter esta trajetória recente de perda de importância da economia do estado em relação a do país como um todo.
As perspectivas para os próximos meses e anos são boas vez que investimentos públicos financiados por agências multilaterais se avizinham, a Refinaria Abreu e Lima vai iniciar a construção do seu segundo trem, aumentando em 30% sua capacidade produtiva, com investimentos da ordem de US$ 1,6 bilhões, a Stellantis continuará trazendo novos sistemistas para o estado (US$ 1,5 bilhões) e iniciando a produção de carros híbridos em transição para a fabricação de carros elétricos e o novo PAC, se não emperrar, como as suas duas versões anteriores, poderá trazer investimentos da ordem de R$ 100 bilhões dos R$ 700 bilhões destinados ao Nordeste. E Pernambuco deverá continuar atraindo novos investimentos por meio de sua política de incentivos fiscais que tem, contudo, data certa (31 dezembro de 2032) para expirar.
Jorge Jatobá, doutor em Economia, professor titular aposentado da UFPE, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e Sócio da CEPLAN- Consultoria Econômica e Planejamento