A Ilha do Recife passa por transformações que a fazem voltar aos tempos do centro urbano vivo, em plena ebulição. Lá estavam o expressivo movimento do Porto, as matrizes de bancos, as sedes de instituições públicas federais e estaduais, e ainda a marca da sua trajetória histórica preservada. E a Ponte Giratória, interligando a ilha ao continente, incorporando ao Porto o Cais de Santa Rita.
Entretanto, o processo da mutação urbana se fez presente no Porto de Suape, e na renovação dos serviços fora do centro, na atração de atividades fora da Ilha do Recife. Por consequência o Centro esvaziou. O Porto encolheu. Os armazéns ficaram sem uso. O Cais de Santa Rita foi aterrado, para dar uso ao vazio d’água construído originalmente para receber carga e devolver açúcar desde os tempos da escravidão.
No início do Século XXI, a empresa Camargo Correa, através de seu superintendente local, engenheiro Marco Antonio Costa, convidou a mim e ao arquiteto Jeronimo Cunha Lima para propor uma intervenção nos velhos e abandonados Armazéns do Porto – quase a metade da área portuária que ainda resiste.
Identificamos o caminho a seguir – uso turístico e de serviços para compor o conjunto edificado em torno da Praça do Marco Zero e dos múltiplos armazéns abandonados.
Nasceu o programa na Ilha do Recife – um projeto focado na gastronomia, eventos, atividades empresariais e uma marina aberta, um water front turístico, exemplo europeu de velhos portos, tendo um Centro de Convenções a ela acoplado.
Do programa ao projeto a dúvida era onde fixar a marina, em parte de toda a frente do Cais para, na sequência, distribuir as outras atividades. “Vamos buscar um especialista”, disse Marco Antonio. E ele veio. Percorremos todo o Cais a ser preservado. Até que o visitante olhou para o lugar e disse: “É aqui a marina. Aí na frente, nós não vemos, mas a 700 km passam centenas de embarcações de turismo. Esse é o melhor lugar do Brasil para essa conexão”. Assim falou Amyr Klink.
Nesta segunda-feira, a marina de Amyr está sendo inaugurada. Lá se vão 20 anos e a Ilha do Recife está em ritmo de frevo. Da alegria do Marco Zero, a Marina, o hotel a ela acoplado, o Centro de Convenções compondo o cenário de Santa Rita. O velho Moinho se transformando em habitação. E múltiplos serviços inseridos nos velhos-novos edifícios do sítio histórico. Viva a Marina do tempo de Amyr Klink. Ela está aí, para a renovação do Recife mudando para um novo tempo.
A Marina vai operar em padrão internacional, espelhando sua gestão na Marina de Cascais, e dentre os requisitos mais importantes está o rigor com o cumprimento de regras ambientais, desde uso apenas de produtos biodegradáveis, coleta de esgoto das embarcações atracadas, até a coleta de lixo separada para reciclagem com anteparas para que o lixo que passa na corrente d’água seja retido e retirado diariamente.
Importa registrar que o sonho de tempos atrás encontrou um grupo de empreendedores pernambucanos que abraçaram o projeto, transformando os velhos armazéns no Porto Novo. O Recife agradece e se abre ao turismo internacional pela ousadia de sonhar e a coragem para fazer acontecer. Foram só 20 anos.
Paulo Roberto Barros e Silva, arquiteto