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Eduardo Carvalho: criando cultura de pensamento

Criar uma "Cultura de Pensamento" não é um evento isolado, mas um processo contínuo que exige comprometimento dos educadores para com os alunos

Publicado em 21/03/2025 às 6:42 | Atualizado em 21/03/2025 às 6:42
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Cultura é o conjunto de normas, valores, expectativas, comportamentos e interações que moldam a maneira como as pessoas pensam, aprendem e se desenvolvem em um ambiente específico.

No contexto educacional, a cultura influencia diretamente a forma como os alunos enxergam o aprendizado e o pensamento.

Cultura não é apenas o que se ensina, mas como se ensina e como as pessoas interagem nesse espaço. A cultura de uma sala de aula ou escola pode incentivar ou inibir o pensamento dos alunos, dependendo de como ela é estruturada.

O conceito de Cultura de Pensamento

Em uma Cultura de Pensamento, o aprendizado tem propósito claro. É um ambiente onde o pensamento coletivo do grupo, bem como o pensamento individual de cada membro, é valorizado, visível e ativamente promovido como parte da experiência cotidiana de todos.

Cada membro sente-se incentivado a pensar e a melhorar o pensamento. É uma abordagem que busca transformar a escola e as salas de aula em espaços vivos de questionamento, investigação e exploração intelectual.

É comum formuladores de políticas educacionais concentrarem-se no currículo como a ferramenta para a transformação. Assim, mudar o currículo - seja para Novo Currículo Nacional, Common Core ou International Baccalaureate (IB) - transformaria a educação.

Na realidade, o currículo é algo que se concretiza com os alunos. Ele se desenrola dentro da dinâmica cultural da escola e da sala de aula.

Quando a cultura de uma escola ou sala de aula valoriza o pensamento, os alunos se tornam mais reflexivos, engajados e preparados para resolver problemas complexos dentro e fora da escola.

A cultura molda o aprendizado. Portanto, a cultura é fundamental, pois determinará como qualquer currículo ganha vida.

As forças que moldam a cultura de uma escola

Se a cultura é a chave para a transformação, então é essencial entender como a cultura de grupo é criada, sustentada e aprimorada. Ron Ritchhart, pesquisador sênior do Project Zero na Harvard Graduate School of Education, identificou oito forças que moldam a cultura:

  1. Expectativas (Como as crenças e valores da escola influenciam o comportamento dos alunos);
  2. Oportunidades (Criar chances reais para que os alunos participem do processo de aprendizado);
  3. Tempo (Dar tempo suficiente para que o pensamento aconteça de forma profunda);
  4. Modelagem (Os professores devem demonstrar atitudes e comportamentos que refletem pensamento crítico);
  5. Linguagem (O modo como professores e alunos se comunicam influencia o desenvolvimento do pensamento);
  6. Ambiente (O espaço físico deve ser organizado para incentivar o pensamento colaborativo);
  7. Interações (O diálogo e as trocas entre alunos e professores são essenciais para um ambiente rico em pensamento);
  8. Rotinas (Estabelecer práticas diárias que reforcem a importância do pensamento).

É importante destacar que cultura é um grupo de pessoas que vive uma narrativa. Na cultura escolar essa narrativa envolve a relação entre administradores, psicólogos, tecnólogos, professores, bibliotecários, auxiliares, alunos e o ato de aprender.

Com isso em mente, define-se a história que queremos contar e construir. Para criá-la precisamos explorar questões, como por exemplo:

  1. E se as escolas fossem menos focadas em preparar os alunos para testes e mais em prepará-los para uma vida inteira de aprendizado?
  2. E se o sucesso escolar fosse medido não pelo desempenho individual em provas, mas pelo que os grupos são capazes de realizar juntos? Devemos ter clareza sobre a história que queremos criar antes de discutirmos como realizá-la e comunicar que aprender é uma consequência do pensar. Essa história será o coração de nossa visão.

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Estimulando o pensamento para uma aprendizagem significativa

Se queremos que os alunos se tornem proficientes em pensamento, eles devem ser estimulados:

  • A usar rotinas de pensamento;
  • Fazer perguntas, conexões, comparações e contrastes entre diferentes áreas do conhecimento e experiências;
  • Construir explicações, interpretações e teorias baseadas no conhecimento em constante desenvolvimento;
  • Examinar ideias a partir de diferentes perspectivas e pontos de vista alternativos;
  • Observar e perceber detalhes, nuances e aspectos invisíveis;
  • Identificar, reunir e raciocinar com evidências para justificar argumentos e interpretações;
  • Capturar a essência de uma ideia, discernindo o que é realmente importante.

Essas habilidades são essenciais para resolver desafios reais bem como os tipos de pensamento que são importantes para solucionar problemas, cultivar a criatividade e a inovação e desenvolver cidadania e competência global.

Avaliando os resultados do seu projeto global - Cultures of Thinking, Ron Richhart perguntou a milhares de professores, administradores, pais, empresários, educadores de museus, médicos e outros profissionais sobre as culturas de pensamento que vivenciaram.

As respostas foram que todos no grupo tinham grande interesse pelo tema e demonstravam paixão; as contribuições de todos eram valorizadas, criando um ambiente de respeito; havia um questionamento constante e aprofundado das ideias por todos; o líder era engajado e apaixonado; a comunicação era aberta e fluida; o aprendizado estava conectado ao mundo real, com significado e valor.

Em síntese, os grupos sentiam que estavam aprendendo juntos e criando algo maior do que qualquer indivíduo poderia produzir sozinho.

Criar uma “Cultura de Pensamento” não é um evento isolado, mas um processo contínuo que exige comprometimento dos educadores, para tornar os alunos engajados e preparados para uma aprendizagem ao longo da vida.

Requer mudanças na mentalidade, nas práticas de ensino e na forma como a aprendizagem é estruturada, sempre colocando o pensamento como prioridade no processo educativo.

O pensamento não é um “extra” no aprendizado – ele é o próprio aprendizado. Quanto mais os alunos pensam, exploram e questionam, mais significativo e profundo será o aprendizado.

Eduardo Carvalho, Harvard University Fellow

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