ANTISSEMITISMO

Ódio no rastro da guerra e do terror

Aumento de casos de perseguição aos judeus reabre ferida histórica, e atende aos propósitos do terrorismo do Hamas

Cadastrado por

JC

Publicado em 01/11/2023 às 0:00
Haddad, Lula e o déficit zero - Thiago Lucas

A invasão de um aeroporto, na Rússia, por pessoas enfurecidas contra passageiros que chegavam de Israel, além de manifestações de intolerância e demonstrações explícitas de ódio, em variados locais na Europa e nos Estados Unidos, trazem de volta a sombra do antissemitismo que marcou a história do século passado, em especial na Segunda Guerra Mundial. Ainda antes do Holocausto, em que se matou um número estimado em 6 milhões de judeus na Europa, dos quais mais de 1 milhão somente no campo de concentração nazista de Auschwitz, os judeus sofreram perseguições em países como a França, a Polônia – e também a Rússia, palco do episódio no aeroporto, há poucos dias. Na Alemanha, antes do extermínio, os judeus perderam a cidadania, foram proibidos de exercer cargos públicos e se casar com alemães, e chegaram a ter bens confiscados.
A ameaça ao judaísmo, que se repete, é um sintoma de obscurantismo – que também pode se repetir. E de certa forma, já apareceu, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, com a crise da democracia representativa e o surgimento de líderes extremistas ou radicais que professam xenofobias e estimulam comportamentos raivosos e intolerantes. A um passo dos radicalismos, que em certo momento podem parecer apenas extravagantes, está a condescendência ao ódio e seus linchamentos, morais e físicos. A um passo dos radicalismos pode se encontrar a guerra e suas ambivalências, suas zonas de conflito impenetráveis, onde o diálogo se apresenta como impossível.
Com o objetivo de aniquilar o inimigo declarado, depois de sofrer ataques bárbaros pelos terroristas do Hamas, o governo de Israel avança sobre a Faixa de Gaza com irrefreável ímpeto. A caça aos perpetradores do barbarismo se justifica, para muitos, pela palavra de ordem da defesa, sobretudo na ótica de um passado de traumas e perseguições, como o dos judeus. No entanto, o recrudescimento do antissemitismo já acende em alguns observadores o alerta do que pode vir por aí, a exemplo, justamente, do passado que se pretende evitar. Para defender o povo de Israel contra novas investidas do Hamas, o governo israelense pode insuflar um ódio que se alastra entre os palestinos, como ao longo das últimas décadas. Mas não só isso. A desmedida da artilharia de bombas e retórica de aniquilação, ao atingir uma população ilhada, tornada refém do terror e da guerra, tem chance, a essa altura, de se voltar contra os israelenses, e contra os judeus espalhados no mundo inteiro, sob a forma cruel do antissemitismo.
O risco da escalada em uma guerra no Oriente Médio, tendo a religião como pano de fundo, é paralelo à constatação de que a disseminação radical do ódio, planejada pelo Hamas, vai contaminando pessoas a milhares de quilômetros de distância. Para que o antissemitismo e outras intolerâncias não prossigam e se agravem, a desumanidade precisará ser vencida, sem mais sangue por sangue: a violência deve cessar.

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