Diante de uma crise escancarada pelo incêndio de dezenas de ônibus, no Rio de Janeiro, num único dia, e pela incapacidade do poder público estadual de restaurar a lei e a ordem em grandes áreas populosas nas maiores cidades do país, o governo federal resolveu deflagrar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em portos e aeroportos, com a presença de militares nas instalações, até maio do ano que vem. A operação vai acontecer nos portos de Santos, do Rio e de Itaguaí, e nos aeroportos do Galeão e Guarulhos. Ao contrário de outras operações semelhantes, que ocuparam comunidades inteiras sem resultados efetivos, em governos anteriores, o objetivo agora é delimitar a ação nas principais rotas do crime organizado no Brasil, para enfraquecer os negócios do tráfico e enfrentar as quadrilhas com mais inteligência.
O Brasil perdeu muito tempo para evitar o agravamento da crise na segurança pública, e impedir um cenário como do México, em que grupos comunitários se organizaram em denominada autodefesa, e se transformaram em bandidos armados, a exemplo das milícias no Rio de Janeiro. O crime organizado em suas diversas facções no território brasileiro toma conta das periferias, e não se rende nem quando seus líderes estão presos, pois não faltam ataques promovidos de ordens transmitidas das penitenciárias. Em Pernambuco, onde a insegurança também é dominante, os bandidos se instalaram até em badaladas zonas turísticas, no Litoral Sul, e o novo governo estadual terá muito trabalho até que consiga desorganizar o crime que se alastra há anos na região.
A adoção da GLO conta com a participação de vários ministros, incluindo o da Defesa, José Múcio Monteiro, e de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho. Os comandantes das Forças Armadas e a Polícia Federal, por sua vez, representam a estrutura de cerco e investigação para que a operação dê certo. A decisão foi tomada com base na possibilidade de uso de todo o potencial federal para apoiar os governos estaduais na luta contra a criminalidade. Com quase um ano de mandato em seu terceiro governo, o presidente Lula assume a responsabilidade que cabe ao Executivo federal, e corre para recuperar espaço político, em paralelo: a segurança pública é a área de governo pior avaliada pelos brasileiros.
A promessa envolvendo vários ministérios é de ação articulada, com inteligência e estratégia para combater o tráfico na base. Só falta dar certo. A expectativa da população não é outra, depois de décadas à mercê do crime organizado, suas ramificações e investidas contra a juventude, a vida dos cidadãos e o patrimônio público, em todos os estados. Além da repressão prevista nos portos e aeroportos escolhidos, o governo federal pretende aproveitar o período da GLO para traçar um plano de modernização da atuação das Forças Armadas e das polícias nesses locais, bem como nas fronteiras, lançando portanto a perspectiva de uma abordagem diferenciada que deve se expandir para outros portos e aeroportos em todo o país.