Se não há fronteiras para o tráfico de drogas cada vez mais globalizado, também não existe uma nação latino-americana livre da influência nefasta desses bandidos. O problema é do continente inteiro. A maioria dos presos no Equador, não por acaso, é proveniente de países vizinhos. A violência armada que invade as ruas vem de longe, e pede intervenções rápidas e articuladas. O estado de conflito armado interno, determinado pelo presidente equatoriano, Daniel Noboa, permite ao governo utilizar a força máxima do Exército para combater o crime organizado que causa desordem no país e aterroriza a população. A reação de força contra força é necessária, mas não basta para resolver um problema que acumula fatores causadores e se espalha pelo território continental.
A invasão de uma emissora de TV foi o marco da turbulência institucional, em movimento de ameaça que traduz a importância da liberdade de expressão e do trabalho dos meios de comunicação para a estabilidade democrática. Desde domingo, um líder de facção considerado o mais perigoso do país, que estava preso desde 2011 por narcotráfico e homicídio, fugiu da prisão. Mesmo encarcerado, a suspeita é que tenha partido dele o plano para matar um candidato à presidência, assassinado em agosto do ano passado. A guerra do crime contra as instituições é aberta no Equador, assustando os integrantes do governo e dos demais poderes, elevando o risco de instalação de uma narcocracia ainda maior do que a que já se insinua em parte dos território latino-americano.
O desarranjo da ordem é de tal dimensão que a solidariedade ao presidente Noboa deve se transformar em documento coletivo, assinado por governantes da América Latina, em iniciativa do Chile, com a participação do Brasil. Noboa assumiu poucos meses atrás, em novembro, com a promessa de atacar frontalmente o crime organizado. A onda violenta de agora parece uma resposta às primeiras medidas do novo presidente equatoriano, um empresário que assumiu o poder em oposição aos aliados do ex-presidente Rafael Correa, numa campanha manchada por assassinatos – em retrospecto, um prenúncio do tumulto que toma conta do país.
Reduto do tráfico de drogas e ninho de criminosos, o Equador necessita de apoio concreto para se livrar da violência. O descontrole total das instituições, a generalização da violência e até a continuidade prolongada do estado de exceção que se caracteriza pelo remédio amargo da violência contra o crime, não formam um cenário interessante para qualquer país do continente. O Brasil faz parte desse cenário, e vem enfrentando o mesmo problema em diversos estados, inclusive em Pernambuco, com áreas dominadas pelos bandidos e pelas drogas. Quanto mais cedo os líderes da América Latina se unirem, do discurso diplomático a iniciativas conjuntas efetivas contra o narcotráfico, maior a chance de redução de danos na região, e de início de uma virada duradoura na direção da desorganização do crime.