FAIXA DE GAZA

Qual o futuro que resta?

Com a população palestina acuada na fronteira com o Egito, e o governo de Israel prometendo força total contra os terroristas do Hamas, o mundo se pergunta o que vem depois

Cadastrado por

JC

Publicado em 12/02/2024 às 0:00
Carnaval - Thiago Lucas

As justificativas importam menos que as consequências, a essa altura de uma invasão que já deixou dezenas de milhares de mortos, a imensa maioria, mulheres e crianças não integrantes de grupos terroristas, invasão esta realizada como resposta ao bárbaro ataque do Hamas ao território de Israel, que além de mais de mil vidas perdidas fez pouco mais de uma centena de reféns. Quatro meses de bombardeio depois, a pressão internacional continua, tendo aumentado diante das cenas de destruição da Faixa de Gaza, mas o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu persiste no plano de aniquilação do Hamas. Depois de empurrar uma população repleta de famintos, doentes e feridos para os muros com o Egito, em Rafah, Netanyahu avisa que vai elevar a investida no local, ordenando a evacuação de todos – que não têm aonde ir.
Enquanto o cessar-fogo segue fora de cogitação, líderes europeus e os Estados Unidos, assim como a Organização das Nações Unidas (ONU) – vista por Netanyahu quase como cúmplice dos terroristas – tentam viabilizar pausas para atendimento humanitário no território em ruínas de Gaza, habitado por gente igualmente em ruínas. Dirigentes da União Europeia, e países como a Alemanha, a Escócia e a Arábia Saudita demonstraram preocupação com a anunciada ofensiva em Rafah, chamando sua consumação de possível catástrofe humanitária. Pelo que já se pode ver em Gaza, a catástrofe já foi instalada, e podem faltar palavras para os desdobramentos do conflito.
A “passagem segura” para a população atacada não foi detalhada pelo primeiro-ministro israelense, elevando a desconfiança do governo egípcio, que defende a criação imediata de um Estado independente para os palestinos – algo que surge como consensual para todos os países, inclusive os EUA, menos para Israel. Como Netanyahu não desiste dos bombardeios e das armas por terra, um dos cenários cada vez mais prováveis é a expulsão da população de Gaza, para que o domínio sobre o Hamas seja completo. Nesse prisma, a instabilidade na região deve crescer, e não se estabilizar, uma vez que isso forçaria uma dinâmica demográfica nova e imprevisível.
A estratégia israelense é um mistério, embora o desejo de vingança e morte aos terroristas apareça como alvo. Para que isso aconteça, quais os efeitos previstos para o futuro de Gaza, dos palestinos, da paz já abalada no Oriente Médio – e sobretudo, para o povo israelense, dentro e fora de seu país? Com que garantias de segurança para os cidadãos israelenses Netanyahu acena, ao varrer Gaza do mapa? O que fazer para impedir a reação dos palestinos oprimidos, que não integram o Hamas, mas viram familiares e amigos assassinados? Israel irá oferecer apoio à reconstrução de Gaza, e afinal aceitará a solução de dois Estados – ou continuará alimentando o ódio recíproco entre vizinhos? No mundo inteiro, as perguntas emergem, com a sombra do terror à espreita das respostas.

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