Entre as recomendações do Ministério da Saúde para evitar o novo coronavírus, lavar as mãos frequentemente é uma das mais importantes. No entanto, nem toda população na Região Metropolitana do Recife tem acesso a uma das formas mais simples de prevenir o vírus: a água.
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Na Rua Tamboara, no Alto Santa Terezinha, na Zona Norte do Recife, a dona de casa Ana Patrícia reclama do descaso no abastecimento. “Minha maior preocupação é com os meus filhos que vivem brincando na rua e sujando as mãos. Já chegamos a ficar 15 dias sem água". Segundo o calendário de abastecimento da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) para a Rua Tamboara no mês de março, o fornecimento de água acontece de dois em dois dias e dura 48 horas. Mas não é essa a realidade, segundo moradores.
Com apenas um tonel em casa, Ana Patrícia se vira como pode. "Água só chega forte aqui em casa de madrugada. Para poder armazenar, vou dormir de duas/três horas da manhã. Quando não, conto com a ajuda de vizinhos", completa. Segundo a moradora, o último abastecimento aconteceu no domingo (15). Diante da pandemia, a preocupação com a falta do recurso é redobrada.
“Esse problema já incomodava antes. Ligávamos para a Compesa inúmeras vezes para resolver a situação e não recebíamos respostas. Agora com o coronavírus, nossa preocupação aumenta. Como vamos lavar direito as mãos e os alimentos, por exemplo, sem água corrente na torneira?", questiona. A solução, segundo ela, seria ter o fornecimento todos os dias.
A comerciante Michele da Silva mora na Rua Olindina, na Bomba do Hemetério, na Zona Norte, e também reclama do racionamento. “Lá em casa não tem dia certo para chegar água. Hoje tem, mas não sabemos qual será o próximo dia de abastecimento”, explica. No mês anterior, segundo ela, por passar mais de 15 dias sem o recurso, também foi necessário recorrer a outros moradores que possuem mais condições de armazenamento. Como trabalha vendendo frutas, a prevenção que utiliza depois de lidar com dinheiro e clientes é lavar as mãos, mas sempre com economia. Já na Rua Ladeira de Pedra, em Água Fria, a autônoma Alda Soares recorre ao álcool em gel, já que no seu 'fiteiro' não há água corrente.
A reportagem do Jornal do Commercio entrou em contato com a assessoria de comunicação da Compesa, mas até a publicação desta matéria não recebeu retorno. Matéria será atualizada assim que receber a resposta.
Vinte e sete quilômetros separam Água Fria de Vila Rica, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Mas a preocupação é a mesma. Para o bairro, segundo o calendário da Compesa, o abastecimento de água é previsto de nove em nove dias. Porém, de acordo com a enfermeira Solange Maria, a informação não condiz com a realidade. "Já chegamos a passar 26 dias sem água. Quando ligamos e procuramos uma resposta, nos dizem que é por causa de um cano estourado ou uma bomba quebrada", pontua.
A escassez no fornecimento já foi motivo de denúncia no Ministério Público. "Não há como estar diante de uma doença tão séria como o coronavírus sem ter, no mínimo, água. Não tem como lavar as mãos constantemente se temos que ficar economizando. Na minha casa há caixa de água e já sofro, imagina as pessoas que armazenam água em baldes", alerta.
No Brasil, os casos confirmados do novo coronavírus já alcançam 290 pessoas, segundo balanço feito pelo Ministério da Saúde, nesta terça-feira (17). Pernambuco é o quarto Estado com mais casos confirmados. Em boletim, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) anunciou, na noite desta terça-feira (17), 19 pessoas diagnosticadas com a doença.
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O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.