Veja os cuidados com idosos para evitar o coronavírus

Grupo é considerado de risco, porque pode desenvolver complicações a partir do vírus
Amanda Rainheri
Publicado em 17/03/2020 às 20:58
"Vovó Cecília", de 91 anos, ganhou uma lista de cuidados da família Foto: Foto: Cortesia


"Lave bem as mãos e antebraços", "fale com a vovó de longe", "bênção, cruzinha e beijos só de longe". Essas e outras instruções estão estampadas em um cartaz feito pelos filhos de dona Cecília Gonçalves Cavalcanti, de 91 anos. Ele foi fixado na parede da casa onde a idosa vive com a filha e os netos em Olinda, no Grande Recife. Os cuidados são necessários mais do que nunca porque "vovó Cecília" faz parte do grupo de risco para o novo coronavírus (Covid-19). 

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Cecília é hipertensa e tem dificuldade de locomoção desde que teve uma trombose seguida de embolia, em 2015. Desde então, se locomove com a ajuda de uma cadeira de rodas. "É uma casa onde vive muita gente, então sentimos a necessidade de criar os cartazes, para lembrar todo mundo sobre os cuidados", explica a professora Fátima Cavalcanti, 66, filha de Cecília. 

A "cruzinha" a que o cartaz se refere é um costume da idosa, que benze os netos e quem quer que visite a residência, no bairro do Varadouro. "Agora, só de longe", diz Cecília. "Achei (a ideia dos cartazes) maravilhosa, porque fica um alerta a mais para as pessoas", completa.

Foto: Cortesia - Familiares fazem lista de cuidados para idosa

A recomendação de evitar o contato social é do Ministério da Saúde. "Pessoas com mais de 60 anos, assim como aquelas com doenças crônicas, como pressão alta e diabetes, têm uma fragilidade maior. O sistema imunológico tem uma resposta mais lenta e, por isso, o quadro pode se complicar e evoluir para insuficiência respiratória", explica a médica infectologista Andrezza de Vasconcelos. Segundo ela, o momento é de evitar o contato físico. "Não se deve beijar ou apertar as mãos. O ideal é que se mantenha uma distância de dois metros para evitar a transmissão de doenças", afirma. 

Em casos de idosos acamados, a família ou os cuidadores precisam fazer uso de equipamentos de proteção individual. "Quem chega da rua deve se higienizar por completo, trocar as roupas e utilizar máscaras quando entrar em contato com o idoso", orienta a especialista. Outros cuidados ainda devem ser tomados, como a higienização dos ambientes e das superfícies com água e detergente. Talheres e copos também não devem ser compartilhados. 

Acostumada a uma vida ativa, a autônoma Eliana Carvalho, de 66 anos, está desde o último domingo (15) sem sair da casa onde mora, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste da capital pernambucana. "Não sou de entrar em pânico. Todos os anos existe alerta para algum tipo de doença. Estou tomando cuidados e pretendo continuar em casa", afirma. Do isolamento, ela tenta tirar boas lições. "É um momento de paz, que tem o seu lado bom. Estamos também isolados das coisas ruins do dia a dia", afirma. 

Aos 73 anos, o aposentado José Carlos Leite também não vê problemas em ficar de quarentena na própria casa, em Paulista, Grande Recife. "Não sou muito de sair mesmo. Aqui em casa, eu, minha esposa e filha estamos tomando cuidado de lavar as mãos e usar álcool em gel", conta ele. 

Abrigos

Na última segunda-feira (16), a Prefeitura do Recife anunciou a restrição das visitas aos dois abrigos públicos de idosos da cidade, o Espaço Ieda Lucena e o Lar Porto Seguro. As instituições têm 40 e 20 pessoas abrigadas, respectivamente. 

De acordo com a secretária de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos Ana Rita Suassuna, os cuidados foram redobrados. "Restringimos o acesso de grupos, como ONGs e entidades religiosas que fazem trabalhos nesses locais. As visitas são avaliadas e os familiares entram apenas em caso de necessidade, como algum quadro de depressão", afirma. 

Saúde mental

O isolamento por tempo indeterminado, explica a psicóloga e professora do centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) Giedra Hollanda, pode desencadear quadros depressivos em idosos. "É um grupo que, por ser geralmente aposentado, costuma sair de casa para vários locais, o que agora não pode acontecer. É normal que apareçam os quadros depressivos", explica.

Algumas estratégias podem ser adotadas pelos familiares em caso de isolamento domiciliar. "A família pode estruturar jogos, assistir filmes ou simplesmente tirar um tempo para conversar. Muitas vezes a família se distancia por conta do dia a dia e dos aparelhos eletrônicos e esta pode ser uma oportunidade de resgate, de sentar junto e conversar com a pessoa", aponta a especialista. 

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