"No próximo ano, ainda estaremos usando máscaras, não tenho a menor dúvida. O Brasil vai chegar em 110 mil mortes, esse é o valor esperado até dezembro deste ano, e não estou sendo pessimista, estou sendo realista", previu o professor Gauss Cordeiro, do Departamento de Estatística da Universidade Federal e Pernambuco (UFPE) e PhD em Estatística pelo Imperial College, durante entrevista à Rádio Jornal na manhã desta sexta-feira (29). Segundo ele, o pico no número de mortes deve ocorrer entre a segunda metade de julho e o final de agosto.
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A hipótese do pesquisador é embasada nos dados semanais divulgados pelo boletim epidemiológico, que mostram a média de mil mortes por dia. Além disso, o Brasil lidera entre os países com crescimento acentuado no número de mortes, com taxa de 1,5%. "O Brasil registrou um quarto das mortes do planeta nas últimas 24h, e isso é um dado preocupante", contou.
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Com relação ao pico da curva de casos confirmados, a alta taxa de subnotificações de casos da covid-19, provocada pela falta de testagem na população, acaba por provocar imprecisão, o que dificulta que os pesquisadores encontrem de fato o período em que a curva de crescimento vai achatar. No entanto, em se tratando do pico no número de mortes, apesar de também ser difícil de avaliar, ele deve ocorrer entre a segunda metade de julho e o final de agosto, de acordo com o professor.
“As pessoas se preocupam muito com casos confirmados. Em termos estatísticos, no Brasil, casos confirmados não indicam nada. Porque temos uma subnotificação muito grande. No Reino Unido, o pessoal do Imperial College estimava que para cada caso confirmado de covid, eles tinham 19 infectados. Aqui no Brasil, é muito mais. Com a subnotificação dos testes, nós podemos ter, a cada caso confirmado, mais de 50. A única série confiável que nós temos é a média semanal de mortes, que ainda pode sofrer alterações, porque muitas pessoas podem estar morrendo sem serem testadas para covid."
Gauss explicou que, neste momento em que estamos com a curva de mortes ascendentes, a única forma de combate à pandemia é impondo o lockdown. "O lockdown acaba sim, salvando vidas. Pernambuco tem de 97% a 98% dos leitos de UTI ocupados. Sem o lockdown, as pessoas vão ficar contaminadas com mais facilidade, vão chegar aos hospitais e eles vão estar fechados", contou o professor, que defendeu o isolamento social como uma medida necessária para conter a proliferação do vírus e desafogar o sistema de saúde. No entanto, ele admite que a implementação do lockdown em locais periféricos seja mais complicada. Muitas pessoas, inclusive, não possuem condições básicas como moradia e saneamento. "O vírus não é democrático e vai atingir as classes mais desfavorecidas. Os mais pobres, e isso tá provado com os dados do país. O Norte o Nordeste concentram apenas 35% da população e respondem por mais da metade dos mortos do país."
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O professor ressaltou ainda que, para ele, as aulas presenciais de creches, escolas e universidades só devem retornar no próximo ano. "O que nós temos que fazer é tomar medidas efetivas. As aulas presenciais não podem voltar, porque não tem mecanismo pra manter distanciamento entre os alunos. A gente só pode voltar quando estivermos bastante distantes do pico e isso só vai acontecer no próximo ano", finalizou.